Aquela era a noite onde mil e um sonhos seriam destruídos. Onde a esperança iria desaparecer, e o medo se tornaria uma sombra constante.
Na madrugada fria se via somente um ponto com luz acesa na casa, era ali onde uma garotinha de treze anos estava sentada na janela com as pernas pra fora. O seu pijama florido mal continha as lufadas de ar, mas a garotinha de cabelos pretos e olhos azuis não poderia estar se importando menos.
Com o nariz vermelho por conta do frio, e as bochechas ruborizadas de tanto rir ela fez mais uma vez o gesto: baforou o ar, fazendo com que ela visse ele se formar ao seu redor como se estivesse fumando algo, ela tampou a boca com as mãos e riu. Por alguma razão a garotinha não conseguiu dormir naquela noite.
Distraída com sua brincadeira, ela deu um pulo quando o carro preto derrapou em sua rua fazendo um barulho alto, sua mãe saiu de dentro do carro aos tropeços e seu corpo inteiro tremia. A garotinha se levantou mais uma vez, e se escondendo atrás dos vitrais de sua janela, observou curiosamente.
A mãe estava correndo para a porta da casa quando escorregou por conta da neve e caiu de joelhos no jardim de inverno. Os longos cabelos caíram em frente a sua face, e seus ombros magros começaram a tremer enquanto suas mãos iam de encontro a seu estômago. Sua mãe estava magra demais nesses últimos meses, a garota pensou.
Um homem de cabelos escuros e olhos azuis saiu correndo do carro, o pai da garota, e ele se agachou ao lado da esposa. Sussurrou algo em seu ouvido e a levantou, suas feições eram sombrias e Mallory sentiu que alguma coisa estava errado. Ela dizia a si mesma que foi por esse motivo que quando o carro saiu novamente, a garota correu para seu quarto e pegou suas botas e casaco. E então ela saltou a sacada igual viu sua irmã fazendo inúmeras vezes e correu.
Nas ruas gélidas e solitárias, uma menininha de olhos azuis e cabelos escuros corria, mas mal ela sabia que naquele momento estava correndo por sua vida. Para sua morte e até mesmo para seu recomeço.
Ela correu cerca de dois quilômetros até chegar em um velho galpão onde seus vizinhos guardavam móveis antigos e coisas de jardinagem para o verão. Ela conhecia aquele local, foram tantas vezes que brincou de esconde-esconde ali com sua irmã, cansada pela corrida e com o coração retumbando em seu peito a garotinha entrou pela porta lateral do galpão e se agachou atrás de um sofá velho de couro.
Ela avistou os seus pais no meio do galpão, sussurrando um com o outro, e quando ela estava prestes a se levantar e ir atrás dele para perguntar o que havia de errado a porta principal se abriu em um estalo e três homens entraram. Seu primeiro intuito foi se encolher, mas seus olhos foram atraídos para um garoto encostado na porta.
Ele devia ter a idade de sua irmã, seu rosto era uma máscara fria e sua postura mostrava que ele não estava com medo, os ombros eretos e seu queixo levemente erguido.
Mallory se lembrou de sua irmã, ela fazia isso quando queria se sentir superior, mas o olhar do menino estava longe de ser igual ao olhar carinhoso e brilhante de sua irmã. O que aconteceu para ele ter um olhar tão vazio? A garota perguntou-se.
Mas ela parou de encará-lo quando os olhos do menino se fixaram no sofá que ela estava escondida, sua mandíbula se tencionou levemente e a garota começou a tremer. O menino desviou o olhar, e Mallory se arrastou para a outra ponta do sofá com medo dele vê-la. Seus pais conversavam com um homem alto de jaqueta de couro e cabelos escuros bem cortados, a garota não tinha visto, as falas começaram a ficar cada vez mais altas e seu pai usava um tom o qual ela nunca tinha presenciado.
Uma mão cobriu sua boca, e um braço enrolou-se em sua cintura fina, Mallory arregalou os olhos e todo seu corpo ficou rígido quando a pessoa puxou-a para trás. A menininha só conseguia pensar que alguém a encontrou, que levaria uma bronca de seus pais... e de repente um tiro soou. O grito que saiu de seus lábios não foi nada mais que um gemido baixo por conta da mão em sua boca, a pessoa segurou-a firmemente como se não quisesse que ela escapasse. Mas, finalmente, ela sentiu aquele cheiro. Doce, suave e amadeirado. Chasina.
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MADE IN HEAVEN (FINALIZADO)
RomanceUma vez há sete anos atrás uma garotinha corria por sua vida. Aquela era a noite onde mil e um sonhos seriam destruídos. Onde a esperança seria extinta. E o medo se tornaria uma sombra constante. Sete anos depois de volta a Wilmington onde tudo com...