11: Fogo

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MALLORY CIRCE

— Dora? — questiono, quando abro a porta da minha antiga casa. Sou recebida pelo silêncio e pelo conforto das paredes brancas. O cheiro de lavanda perpassa por toda sujssa casa e por um minuto, eu volto para a minha infância. Para época em que eu era feliz e não sabia, e não fazia a mínima ideia do que estava por vir.

Chasina, encostada no canto do sofá está lendo algum livro. Sua pele como porcelana brilha pelo sol que entra pela janela, tão branca que dava para ver as veias em suas bochechas. Me escondo atrás da cortina querendo assustá-la. Era uma brincadeira nossa, quem mais assustava a outra ganhava pontos. Minha irmã vencia sempre, mas dessa vez eu conseguiria.

Seus cabelos pretos ônix balançam pelo vento que entra da janela aberta, o sol se pondo faz o laranja e o amarelo se misturam formando uma bela iluminação. Os seus cílios longos roçam suas olheiras, as quais estavam fracas hoje. Seus lábios estavam puxados em um sorriso terno e... carinhoso?

Andando nas pontas dos pés eu paro sobre ela, levantando as mãos para gritar "buh".

— Eu já te vi, Lily — minhas mãos murcham ao lado do meu corpo e eu bufo.

— Como sempre sabe que estou chegando? — Questiono, me jogando ao seu lado.

— Seus pés — ela aponta para minhas meias. Franzo o cenho em questionamento, Sina dá uma risadinha. — Você pisa com força, o assoalho rangeu. Não tão pesado quanto os do papai e nem tão leve quanto os da mamãe. Não tão largos quanto os de Mich e nem tão pequenos quanto os de Dora.

— Mas foi tão baixinho... — sussurro, fazendo minha irmã abrir um largo sorriso.

— Não se preocupe Lily — eu grito quando meu pai me joga sob seu ombro. — Um dia essa mocinha ainda vai levar um baita susto! Qual o placar? — Passo as mãos em seus cabelos escuros, bagunçando, fazendo o meu pai rir.

— 120 a 0 — Chasina cantarola, dando um tapinha no ombro do meu pai. Ele me deixa no chão, rindo da minha cara fazendo suas covinhas aparecerem, apesar de sermos grandinhas meu pai não tem dificuldade de pegar Chasina e colocá-la em seu ombro. Minha irmã sorri maldosa na direção do meu pai que revira os olhos.

— O segredo, minha filha — ele disse. — Para andar tão levemente para ninguém te escutar é balancear o peso das suas pernas, assim elas não irão pisar forte demais e nem fraco demais.

— Hmmm... — derrubo Chasina de cima do meu pai, fazendo-a cair no sofá. Ela grita, correndo atrás de mim. Uma gargalha escapa dos meus lábios quando ela quase me pega, entretanto eu desvio, fazendo Sina quase ir de encontro à parede.

— Almoço! — minha mãe grita da cozinha, escorrego na cortina, fazendo Sina cair em cima de mim. Ela gargalha, uma risada rouca e doce, seus olhos brilham e seu sorriso é largo. Os dentes brancos todos enfileirados à mostra, quando ela ri de mim. Os olhos cinzas com um brilho de diversão e amor.

— Machucou? — Questionou.

— Como se você se importasse. — Resmunguei. Minha irmã oferece a mão, a qual eu aceito. Seus olhos cinzas, se endurecem em minha direção.

— Você é minha irmã. Eu sempre vou me importar.

Eu pisco acabando com memória em minha mente quando ouço a voz de Mich gritando:

— Aqui atrás!

Me recomponho, soltando a cortina. Eu não percebi que estava passando os dedos no tecido liso e meu olhar fixo no sofá. Engulo a bile que sobe e ando rapidamente para o quintal onde encontro Mich e Dora sentados, conversando. 

MADE IN HEAVEN (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora