35: Déjà vu

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MALLORY CIRCE

Acordo em um tranco, minha respiração escassa e meu corpo todo suado. Minha boca está seca, tão seca que parece que eu comi areia, minhas mãos frias e com certeza meu rosto está pálido. Olho ao redor tentando me localizar, e finalmente o peso do que aconteceu há alguns dias cai sobre mim... balanço a cabeça tentando dispersar os pensamentos inoportunos. Meus olhos passeiam pelo quarto escuro e eles finalmente travam em minha irmã.

Sentada em um sofá pequeno do lado oposto de sua cama, um laptop está apoiado em sua coxa, ela para de digitar lentamente e eu finalmente percebo que seus olhos estão em mim. Me lembro que quando vim correndo para cá debaixo de chuva e neve, me joguei em seus braços e chorei igual uma criança. Na primeira vez que tive o pesadelo, eu estava no quarto de hóspedes e pelo que Chasina tinha me dito acordou ela aos gritos.

Fiquei mal porque eram poucas as vezes que ela tinha uma noite de sono inteira, seus olhos inchados e rosto amassado dedurou isso apesar dela dizer que estava acordada. Na segunda vez, acordei histérica e Chasina me embalou em seu colo tendo que me dar um calmante porque eu não parava de tremer. Até que ela resolveu que eu dormiria com ela, em seu quarto, e somente assim eles diminuíram. Percebi que eu sentia falta do contato dele na cama, sentia falta de me sentir segura enquanto estava adormecida, foi quando percebi que quase todas as noites desde que decidimos ficar juntos eu dormia com ele. Não teve um dia sequer que nós não dormimos  juntos, e nesses dias apesar de alguns eu ter acordado, não tinha dificuldade em dormir depois.

Meus olhos voltam para Chasina que batucava os dedos na coxa, o capuz do seu moletom cobre levemente seu rosto então não consigo ver direito suas feições. Olho para o relógio na cabeceira da cama e arregalo os olhos quando vejo que são quatro da manhã, puxo as cobertas para perto do meu corpo e engulo em seco.

— Você não dormiu? — minha voz saiu rouca por conta da garganta seca.

— Cochilei por algumas horas — respondeu fechando o laptop. Ela pegou uma garrafa d'água que eu nem tinha visto e andou em minha direção. — Não faça essa cara, sorella. Sabe que eu estou acostumada com a minha... condição.

— Sei — agradeço tomando a água em goles rápidos, Chasina me dá um tapinha e dou um pouco da coberta para ela. Minha irmã apoia a cabeça no joelho em uma posição tão infantil que até parece estranho. — Você acha que ele fez isso para me proteger? — sussurrei depois de um tempo. Seus olhos cinzas fitam meticulosamente meu rosto.

— Pessoas apaixonadas fazem coisas estúpidas — respondeu dando de ombros. — Pode ter sido. A pergunta é se a mentira te afetou.

— Afetou — murmurei com a voz embargada e por um momento ficamos em silêncio. — Diga-me sobre o envolvimento deles.

— Reed era o menino que olhou para você quando estava tentando se esconder, eu te puxei na hora para trás — assenti. Eu deveria ter me lembrando dos olhos escuros, aqueles olhos vazios e frios, mas não me lembrei. E me sinto culpada por isso. — Era a iniciação dos dois Reed foi mandando para fazer parte do assassinato enquanto Andrew foi mandando para acorbetar ele. O fogo se espalhou rapidamente — resumiu brevemente dando de ombros.

— Você me disse que papai e mamãe foram culpados por algo que não foi culpa deles. O que eles fizeram?

— Não sei, Lily. Mas acho que foi algo ruim — os olhos cinzas se desviaram dos meus. — Pessoas inocentes morrem todos os dias, pessoas culpadas vivem por suas mortes. O mundo não é justo, mas cabe a nós decidir o que fazer com isso. Não somos santas, e nunca seremos, todos nós temos os seus pecados a pagar uma hora ou outra.

— Eu amo ele, Sina — um soluço escapou dos meus lábios. — E também te amo, mas não vou conseguir ver nenhum dos dois machucados... Eu-u-u não sei o que fazer — uma parte de mim ficou aliviada por confessar isso à ela, mas outra parte de mim temia sua reação.

MADE IN HEAVEN (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora