39: Despedidas

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ANDREW LAWRENCE

Mallory não saia da cama há dias. Depois de tudo o que aconteceu, ela se prendeu em um looping sem fim sobre a noite da morte de Dora e a noite da morte de seus pais, eu sabia que aquilo desencadeou algo nela. Seguíamos uma rotina rígida desde então: eu acordava e geralmente ela ainda não estava acordada, fazia o café e quando eu voltava para cama Lily finalmente abrirá os olhos, nisso ficávamos na cama mais um tempo enquanto eu a convencia que ela precisava comer. Eu precisava trabalhar e estudar, mas de qualquer maneira apenas ficava do lado oposto do quarto em meu computador eu me recusava a sair de perto dela e não tinha problema já que eu fazia tudo online e que se foda se não desse, olhava para Mallory a cada cinco minutos.

Às vezes ela estava adormecida. Às vezes ela estava acordada e seus olhos perdidos em qualquer ponto do quarto e isso fazia com que meu coração se apertasse. Ela comia bem pouco, mas pelo menos comia. A noite Mallory se arrastava ao banheiro e tomava banho e de vez em quando ela queria minha companhia apenas para ficar abraçada enquanto o jato de água molhava nós dois, outras vezes ela ficava horas no banho e sei que era nesses momentos que o choro subia. Consequentemente, eu ficava na porta apenas... com medo de que ela fizesse algo.

Ao anoitecer era a pior hora, pesadelos tomavam de conta da minha garota fazendo com que ela acordasse exasperada e chorosa. Eu não conseguia fechar os olhos. As cenas dela sendo machucada sempre voltavam a minha cabeça, a cena de Chasina com as costas abertas e Dora sendo morta também me atormentavam. Todos os dias Kitty me ligava, ela estava ciente do que aconteceu, e apesar das tentativas de falar com a amiga, Mallory não queria conversar com ninguém a não ser eu. Chasina tinha desaparecido.

Sei que Reed cuidou dela para ter tratamentos médicos, mas assim que ela conseguiu se levantar sem praguejar de dor, a menina dos olhos cinzas sumiu e ninguém sabia onde ela estava.

Ninguém sabia dela. Alguns dias eram piores que outros, alguns dias Mallory se levantava e me fazia companhia na sala de estar enrolada na coberta ou até mesmo se aninhava em meu colo enquanto eu lia ou jogava, outros ela não falava nada. E eram esses dias que eu ficava mais angustiado.

Hoje, especialmente, ela se levantou cedo, tomou banho e colocou um vestido preto rodado com pequenas flores brancas. Era o funeral de Dora. Mallory estava encolhida no canto da cama mexendo em seu celular quando eu me sentei em sua frente. Seus olhos cerúleos tinham sombras do passado e presente, as olheiras não estavam tão visíveis pela maquiagem, e seu corpo não tinha perdido tanto peso. Aos poucos a cor voltava ao seu rosto e todos os dias isso me fazia ficar, pelo menos, um pouquinho melhor.

— Você está bonita — digo baixo mexendo em uma mecha do seu cabelo. Era verdade, o vestido preto rodado cairá bem em seu corpo esguio, ela estava com boa aparência me lembrando... dos velhos dias.

— Obrigada, Ken — o apelido me fez contrair a boca em um sorriso. Seus olhos brilharam por alguns segundos enquanto me encarava, alisei seu rosto e beijei sua bochecha.

— Você parece melhor — a puxei contra o meu corpo, ela encostou a cabeça em meu peito e começou a abotoar e desabotoar a minha camisa distraidamente.

— Eu estou — sussurrou. — Um dia de cada vez — repetiu o que eu sempre falava a ela quando eu percebia que às vezes sua mente ia para lugares escuros.

— Um dia de cada vez. — Confirmei, eu estava usando o colar que Dora me deu e Mallory usava o dela. Ela ficava olhando para o pingente e um sorriso repuxou em seus lábios. — Eu te amo — sussurrei em seu ouvido, Mallory me abraçou mais forte e beijou minha nuca.

Ti amo così caro — eu ri quando ela puxou bastante o sotaque italiano e fez o gesto com a mãozinha. Sorri largo.

Ficaria tudo bem.

MADE IN HEAVEN (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora