40. Bendita Vespa

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Entrei, engolindo o choro. Eu nunca antes havia derramado uma lágrima por homem e Pierre não seria o primeiro. Fui até Ulisses, fazia muito tempo que queria falar com ele e não esperaria mais.

— Ulisses! Tu acha que a gente podia conversar agora?

— Desculpa, Lis — falou apressadamente e de saída. — Eu vou precisar dar uma saída, você acha que a gente poderia ter esse papo depois?

— É sobre eu e Pierre.

— Então... Eu acho que vamos precisar adiar, porque eu preciso resolver uma coisa urgente.

— Mas o que foi que aconteceu?

— Só uma coisa que preciso resolver. Enquanto eu tiver fora, você ajuda a Laura, tá? — disse, saindo às pressas, sem esperar que eu respondesse.

Justo no momento que eu estava mais precisando contar tudo a ele.

— Sabe que emergência é essa que Ulisses tem que resolver? — perguntei para Suzy.

— Achei que você já soubesse.

— Tu achou que eu soubesse?

— Sim, ele tá agitado desde que vocês chegaram, mas não falou pra ninguém o que era.

— Quem tem tempo pra fofocar tem tempo pra trabalhar — disse Laura, surgindo entre mim e Suzy.

— Tu sabe o que foi que deu em Ulisses? — perguntei para Laura.

— Não é da sua conta! Agora mexe essa bunda gorda e vamo trabalhar, que o serviço é infinito.

— Êpa! Ulisses deixou bem claro que éramos nós duas que iríamos assumir hoje — falei, com um sorrisinho no rosto.

— Não, sua aproveitadora de bosta, ele disse pra você me ajudar e pode começar limpando a máquina de café se não quiser ser demitida.

— Mas peraí... Em primeiro lugar, eu não sei nem como se limpa essa coisa e, segundo, eu não devia tá no atendimento?

— Em primeiro lugar, cê não quer ser uma barista de bosta? Em segundo lugar, não sei que falta você acha que faz no atendimento. Cê tá sempre enrolando, garota, trabalhar que é bom, nada.

— Vai timbora cagar no mar e limpar o cu com as ostras!

— Vem, Lis. Não dá corda pra essa louca, eu te mostro como limpa a máquina. — sugeriu Suzy olhando para os meus punhos fechados.

Passei o dia engasgada, cheia de coisas para dizer, mas parecia que Ulisses nunca iria chegar. Até que eu recebi uma mensagem dele:

"Lis, desculpa, mas hoje não vai dar para levar você em casa, mas pode pegar dois vouchers para você voltar para casa de táxi e para vir para o trabalho amanhã.

Fica bem, Ulisses"

Agora lascou!

Apesar de ter sido melhor pedir um táxi, preferi caminhar um pouco e ir para casa de ônibus. Passei a noite em claro. No dia seguinte, quando cheguei na cafeteria, Ulisses ainda não estava lá.

Até que de repente...

— Lis, não pergunte nada, só vem comigo — pediu Ulisses, conduzindo-me para fora.

— Pra onde tu tais me levando?

— Eu disse que sem perguntas.

— Eu tenho muito trabalho pra fazer, chefe, e não acho que a tua namorada vai gostar.

— Quanto a ela, não se preocupe.

Coloquei as mãos na cintura, rindo de Ulisses.

— Às vezes, eu te acho tão atabacado que fico pensando que tu se faz.

Fé, Lis! Um Romance Quase ClichêOnde histórias criam vida. Descubra agora