— A empresa tá fazendo quantos anos? — perguntei.
— Quinze anos — respondeu Ulisses, olhando o trânsito à frente.
— Tu tá nela há quanto tempo?
— Há uns nove anos, incluindo meu período de estágio e como atendente.
— Tu sempre trabalhou nessa empresa?
— Eu fiz faculdade particular e meus pais se viravam nos trinta pra pagar, além das despesas que eu tinha aqui na cidade enquanto eles estavam em Santos.
— Santos é muito longe daqui?
— É no litoral. Tem praia lá. Acho que você iria gostar.
— Ah, eu quero conhecer.
— Pronto, qualquer dia te levo lá.
— É muito estranho viver num lugar que não tem praia. A pessoa se sente sufocada, olhando pra tudo que é lado e não vê o horizonte.
— Eu também me senti um pouquinho assim quando vim morar aqui. Até que no terceiro período da faculdade, eu consegui o emprego de atendente em uma das franquias e comecei a pagar minhas próprias despesas pessoais. Foi quando comecei a me sentir mais em casa aqui na capital. No último período, eles me contrataram como estagiário e, quando me formei, virei gerente dessa franquia que você trabalha.
— Tu é formado em quê mesmo?
— Administração — respondeu.
— Tu gosta?
— Muito! Desde moleque eu já sabia o que queria.
— Tu sempre fosse previsível, né? — perguntei, rindo.
— Acho que sim e, como um bom administrador, gosto das coisas organizadas.
— Então faz nove anos que tu vai pra essa festa?
— Exatamente e é sempre igual. — Ele abriu um sorriso antes de continuar: — No mesmo local, quase as mesmas pessoas, comida boa e música alta. Previsível do jeito que alguém sem graça como eu gosta.
— Ô vidinha sem sal, viu? É melhor Jesus levar!
— Falando em previsibilidade, a gente tá chegando na casa de Laura agora e vê se pega leve com ela, tá?
— O que tua vida não tem de sal tem de pimenta, né?
— Lis, é sério, eu preciso muito da sua cooperação.
— O que é que tu quer de mim, peste? Eu não vou matar tua mulher, não!
— Lis, eu te conheço! Você é muito pavio curto e debochada. Eu já disse a Laura que isso é só o seu jeito, mas ela acha que você não gosta dela.
— E não gosto mesmo, não.
— Lis, eu já tenho tanta coisa na cabeça. Vamo só ir e voltar na paz.
— Se ela não pisar nos meus calos, eu também não piso nos dela.
— Ela me garantiu que iria tratar você bem como sempre.
— Ulisses, tu é um atabacado mesmo! Acho que eu nunca conheci um cara tão atabacado em toda a minha vida.
Nesse momento, encostamos o carro. Nessa época, eu ainda não havia assistido Frozen, mas se tivesse, eu teria certeza de que fomos buscar a Elza. Foi bom mesmo eu não ter assistido, porque se tivesse, ao ver o vestido dela, eu certamente a receberia cantando: Livre estou, livre estou...
— Amiga!... Você tá linda, viu? — elogiou Laura, com os olhos vidrados no meu cabelo.
— Brigada — respondi, pensando na presilha que tia Margarida tirou do meu cabelo. Passamos alguns segundos nos olhando. — Tá esperando alguma coisa?
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Fé, Lis! Um Romance Quase Clichê
عاطفية🥇Vencedor em 1° Lugar no Concurso Retro Future na Categoria Comédia 🥈Vencedor em 2° Lugar no Concurso Setealém na Categoria Comédia 🥉 Vencedor em 3° Lugar no Concurso Big Bang na Categoria Romance 🥉Vencedor em 3° Lugar no Concurso Bevelstoke...