A cor natural da pele de Flor era um café com leite, com um toque de chocolate da minha parte e o leite vinha de Fábio, mas, naquele momento, ela estava da cor de jabuticaba e ria como uma hiena.
Olhos vermelhos por causa do cloro da piscina e nariz escorrendo por causa do picolé de chocolate que segurava. Ao seu lado, esculhambado quase ao mesmo nível, estava Bruno, um garoto muito fofo de olhos castanhos, cabelos lisos e pele cor de canela.
Bruno e Flor se tornaram amigos inseparáveis e juntos estavam quase derrubando a casa dos pais de Ulisses.
Sim. Nós viemos junto com Ulisses passar um fim de semana. Ele nos prometeu que, antes de vir de vez, queria pelo menos passar uns dias com a família, para depois resolver suas pendências no centro de São Paulo. Assim sendo e já que não tinha nada a perder, resolvi acompanhar meu ex-chefe, que insistiu para que eu trouxesse minha filha para fazer companhia a seu sobrinho.
Suzy e Paulo chegariam à noite, uma vez que não achávamos justo que Suzy também se demitisse, mesmo contra a sua vontade.
— Flor! Venha simbora passar mais protetor, minha filha.
— Oxe, mainha!... De novo... Que saco!...
— É o quê, cabrita? Venha simbora logo aqui, que esse troço não tá fazendo efeito, não.
— Você tá passando fator vinte, não adianta muito. No Bruno, eu passo logo fator cinquenta. Quer o meu emprestado? — disse a irmã de Ulisses.
— Nossa! Parece que eu tô vendo o Ulisses e a Helena tostando no sol com essa idade — falou Carlota, a mãe de Ulisses.
— Você quis dizer a Helena, né, bem? — disse Giovanni, o pai de Ulisses.
— Ah é, o Ulisses sempre foi fraquinho pro sol.
— Mãe!... — queixou-se Ulisses.
— Sol? O Uli sempre foi fraco pra tudo! — zombou Helena, a irmã dele. — Ah, menina... Esse garoto não aguentava sol, chuva e nem vento.
— Tu já tomasse um banho de chuva, Ulisses? — perguntei.
— Aquela garoa conta?
— Ulisses, como é que tu passa a vida sem saber o que é um banho de chuva? Sentindo o sol esquentando os ossos? Abrir os braços esperando o vento levar?
— Se deixasse, o vento levava mesmo, hein? — brincou Helena. — Eu só não dizia pra ele pôr pedras nos bolsos, porque aí ele não iria conseguir andar.
— Ah, vocês tão exagerando também.
— Deixe teu irmão quieto, Helena. Parece que foi ontem que eu vi aquele menino pequeno e franzino no pátio do orfanato.
— Mãe!...
— Olha a foto dele aqui — continuou Carlota, abrindo um álbum.
— Parece um sibito baleado! — falei, fazendo todo mundo rir.
— E o que diabo é um sibito baleado? — perguntou Helena.
— É esse bichinho aqui dos cambitos finos — zombei, apontando para a foto. Todos continuavam rindo. — Nessa foto aqui, fazia quanto tempo que ele estava com vocês?
— Fazia três anos — respondeu Carlota.
— E vocês não podiam ter filhos?
— Eu e o Gio casamos muito cedo, sabe? Eu tinha vinte e quatro anos e ele vinte. E, apesar de quase ninguém entender, a gente podia, sim, ter filhos. Primeiro, cobravam que a gente casasse e, aos vinte e quatro, diziam que eu tava casando muito velha.
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Fé, Lis! Um Romance Quase Clichê
Storie d'amore🥇Vencedor em 1° Lugar no Concurso Retro Future na Categoria Comédia 🥈Vencedor em 2° Lugar no Concurso Setealém na Categoria Comédia 🥉 Vencedor em 3° Lugar no Concurso Big Bang na Categoria Romance 🥉Vencedor em 3° Lugar no Concurso Bevelstoke...