30. A Noite É Uma Criança

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Luzes neon de cores diversas iluminavam o espaço, colorindo os corpos suados que se sacudiam no meio do salão. Meu coração dava sopapos, sincronizando suas batidas com o som daquele lugar. Será que eu estava ficando velha demais para isso?

À minha frente, do alto de uma plataforma, o DJ conduzia a animação do ambiente, riscando o disco e apertando mil botões com muita habilidade. Ergui os braços, seguindo a dança das pessoas, e caminhei até chegar ao bar, que se localizava ao meu lado esquerdo.

— Moço. Moço!

— Oi.

— Eu quero uma bebida bem forte — pedi ao barman.

— Qual?

— Sei lá! Não entendo nada de bebida. Faz qualquer coisa aí pra mim.

— Pode deixar — respondeu, com uma expressão de quem foi contrariado.

— Você não gasta com táxi, mas gasta com bebida — zombou Ulisses ao meu lado.

— Oxe, e eu sou besta, é?

Provei minha bebida forte e doce ao mesmo tempo, com gosto de morango, e junto com ela fui para o meio do salão. Comecei a me mexer no ritmo da música. Cada jogada de quadril era um problema que eu soltava naquela noite.

Quebrei para um lado, tirando Pierre da minha cabeça. Requebrei para o outro lado, mandando Fábio para longe. Até que senti uma presença perto de mim.

A mulher, meus amigos! Ela não tem um minuto sequer de paz.

Virei-me pronta para sentar a mão e vi Suzy rindo.

— Cê ia me bater, garota?

— Oxe, tu chega assim me alisando — falei, passando a mão na minha própria cintura em demonstração.

— Eu não te alisei — defendeu-se, gargalhando. — A sua bebida já deve tá fazendo efeito.

— Tô só começando — gritei para ser ouvida em meio a música. — Cadê Paulo?

Suzy apontou para o bar, onde seu parceiro se encontrava bebendo talvez whisky, com Ulisses ao seu lado, segurando uma garrafa de água. Os dois pareciam estar se divertindo com a conversa. Percebi que Ulisses não usava sua habitual gravata borboleta, ele estava com uma camisa cinza de botão, com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos, calça jeans e os óculos de sempre. Não é que ele estava até bonito? Ainda parecia um nerd, mas pelo menos um que não aparentava ter saído dos anos cinquenta.

Um vestido vermelho se aproximou de Ulisses. Era uma garota de longos cabelos escuros. Eu não fui com a cara dela. Sentia que precisava protegê-lo do perigo, o que era impossível, já que nem de Laura eu conseguia livrá-lo. Meu protegido falou algo no ouvido da predadora, que, com um sorriso amarelo, logo se distanciou.

Senti uma pontada de orgulho... Da minha classe. Pelo visto, ela entendia que não é não. Confesso que, nesse momento, eu quase simpatizei com ela. Quase...

Os olhos de Ulisses encontraram os meus e ele deu uma piscadinha seguida de um sorriso, que ganhava forma preguiçosamente em seu rosto. Meu corpo respondeu àquele sorriso com um tremor e eu olhei para o meu copo de bebida.

— Isso aqui é forte!

— O quê? — gritou Suzy, sacudindo o corpo.

— Acho que isso aqui tá fazendo efeito — respondi, apontando para a bebida em minha mão.

— Mas, gente!... Já?

— Sei lá, amiga, eu me senti estranha olhando pra Ulisses. Mas repare mesmo, logo pra Ulisses!

Fé, Lis! Um Romance Quase ClichêOnde histórias criam vida. Descubra agora