54. Verde-limão

22 4 0
                                    

— Eu posso ir com Paulo e Suzy — sugeri.

— Eles moram do outro lado da cidade e a sua casa é na direção da minha. Não faz sentido eles te levarem — respondeu Ulisses, prendendo o cinto.

— Pelo menos tu ia poder ficar um tempo sozinho.

— E pensar bosta? Melhor ter você aqui, falando bosta pra me irritar — disse, sorrindo.

— Tu é que só fala merda, menino! O tempo todo! Tem vergonha nessa tua cara — retruquei, furiosa.

Abrindo um sorriso largo, ele deu partida no carro. No entanto, na verdade, toda viagem foi em silêncio. Eu não tive coragem de interromper seus pensamentos, ele estava alheio ao que acontecia ao redor, com o cenho franzido e dirigindo no automático.

Eu queria espancar Laura. No fundo, eu esperava que ela fosse fazer mal a ele de algum modo, mas quando demonstrava ciúmes ou posse, eu achava que ela realmente gostava dele. Apesar de eu saber que ela estava com ele por interesse. Mesmo assim, eu acreditava haver um pouquinho de amor naquele coração gelado.

Chegamos em frente à minha casa quase onze e meia da noite. As luzes do apartamento estavam apagadas, pelo menos eu havia dito à minha tia para que não me esperasse. Uma vez que minha mãe e filha estivessem dormindo, não iriam morrer se eu demorasse só um pouquinho.

Ulisses piscou várias vezes, como se estivesse voltando para o presente.

— Apesar de não ter dado muito certo, obrigado mais uma vez pela festa e desculpa ter estragado.

— Foi Suzy e Paulo que lembraram da data.

— Eu imaginei, mas você participou. Fizeram isso por mim, apesar de tudo, eu sou um cara de muita sorte por ter vocês. Até amanhã, Lis — falou, olhando para o volante.

— Até amanhã — falei, abrindo a porta do carro, mas então me lembrei. — Ah! Peraí... Eu comprei um negócio pra tu.

— Não precisava... — disse, fingindo empolgação na voz, me vendo abrir a bolsa.

Segurei o embrulho pequeno na mão e olhei para Ulisses, que estava com um sorriso forçado no rosto.

— Ah, não vou te dar, não — desisti, jogando o embrulho de volta na bolsa.

— Ué... Não mereço? — ele agora ria com vontade. — Talvez até ajude a melhorar esse dia.

— Acho que vai ser melhor te dar outra coisa...

— O quê?

Segurei as orelhas de Ulisses e puxei seu rosto em minha direção, selando nossos lábios. Eu estava de olhos abertos e vi os dele arregalados. Foi só um selinho longo e um pouco bruto da minha parte, mas pareceu a melhor opção dentre todas as outras que eu não tinha.

Quando nossos rostos se afastaram, eu ainda segurava suas orelhas, ele me encarava de olhos arregalados e sua boca lentamente formou um "O". Por um curto tempo, eu me arrependi, mas antes mesmo que eu pensasse em pedir desculpas, rápido como um raio, Ulisses segurou meu rosto e me beijou.

Eu ainda estava de olhos abertos quando vi os dele se fechando e os lábios se abrindo e ampliando nosso beijo. Fechei meus olhos, sentindo uma boca quente cobrir a minha e polegares gentis alisando minhas bochechas. A ponta de sua língua tocou meu lábio inferior como se pedisse licença e eu aproximei a minha própria língua da dele.

As mãos de Ulisses desceram para os meus ombros e para a minha cintura, ele me puxou um pouco mais, aproximando nossos corpos, e eu envolvi seu pescoço com meus braços. O beijo se tornou audacioso e ofegante, pequenos ruídos saíam de nossas gargantas e nossos corpos ansiavam por mais aproximação.

Fé, Lis! Um Romance Quase ClichêOnde histórias criam vida. Descubra agora