Fé, Lis! Um Romance Quase Clichê

52. Hic

— Não sei onde é que eu tô errando — disse Ulisses para mim e para Suzy no bar.

— Quer que eu faça uma lista? — perguntei.

— Vai, Lis. Eu tô falando sério.

— Eu também. Na verdade, a gente já falou demais e tu nunca quer ouvir. — Senti Suzy pisando no meu pé de leve — Oxe... Por que tais pisando no meu pé? Eu tô mentindo, é?

— Lis, vamo conversar sobre isso em outro momento. Acho que agora o Ulisses precisa é de apoio.

— Apoio? Eu mesma não vou apoiar essa safadeza, não.

Virei-me para Ulisses.

— Depois do que tu passou hoje com essa mulher, tu ainda vai dar corda pra ela, é?

— Eu confesso que eu também não entendi nada do que aconteceu, mas eu preciso conversar com ela pra entender.

— Tu ainda quer conversar com ela? Olhe, viu... Todo castigo pra homem é pouco!

— Ulisses!... Você confia na gente? — perguntou Suzy.

— Mas é claro que eu confio.

— Então por que você não ouve a gente?

— Acontece que é importante ouvir os dois lados. Mesmo sabendo que vocês não são mentirosas e não iriam inventar nada, eu sei que a Lis é um tanto pavio curto e você, que nunca se deu muito bem com a Laura, agora é amiga dela, né? Embora eu seja amigo de vocês, eu me esforço para avaliar tudo de forma imparcial.

— Imparcial? — repeti. — A última coisa que tu tais sendo agora é imparcial, abestalhado! Usa tua cabeça de cima e pensa!

— Meninas, eu entendo que vocês devem tá pensando que pelo fato de eu ser homem eu só tô levando em consideração o envolvimento que tô tendo com ela, mas pelo visto vocês também não conhecem o lado legal dela.

— Posso imaginar... — sussurrei.

Nesse momento, um senhor careca e de bigodes grisalhos chamou Ulisses para conversar em particular.

— Quem é esse? — perguntei para Suzy.

— É o seu Joaquim, ele faz parte da comissão.

— Lis... Aquele é seu Joaquim da comissão, desculpa não ter apresentado você a ele, mas ele não parecia estar afim de muita conversa — disse Ulisses, um tanto sem graça. — E, meninas... Ele acabou de dizer que gosta muito de mim, mas a comissão tem recebido denúncias recorrentes de que eu tenho me ausentado bastante do local de trabalho, que estou desviando a função de alguns funcionários e protegendo uma funcionária nova, que eles sabem quem é essa funcionária, mas por consideração a mim vão me dar uma chance pra resolver isso, pois eles não vão ficar fazendo vista grossa.

— Laura! — dissemos Suzy e eu ao mesmo tempo.

— Laura não é uma funcionária nova — rebateu ele.

— Não, seu bocó, ela tá é fazendo tua caveira.

— A Laura não seria capaz de... Seria? — perguntou, de olhos arregalados.

— Com certeza! Ela já ameaçou a gente várias vezes — disse Suzy.

— Ameaçou?

— Ulisses, a sua namorada maluca nos ameaça de demissão o tempo todo quando você não está presente, além de ser racista, transfóbica e xenófoba — completou minha amiga.

— Gente... É muito sério isso que vocês estão falando. Eu sou preto, como é que ela iria ficar comigo sendo racista?

— A gente acha que ela tá tirando vantagem de tu e ela claramente dá em cima dos clientes.