— Não, titia!... Não puxe, não! — falei, levando a mão ao cabelo. — É o coque frouxo, tia.
— Ah, desculpe... — disse ela, rindo. — Mas por que é que você não solta esse cabelo, garota?
— Sei lá... É mais prático.
— Tem certeza que é mais prático ou você não gosta do seu cabelo? — perguntou minha tia, puxando a presilha e soltando meus crespos.
— Ô titia!... Dá trabalho deixar arrumadinho.
— Melhor que cabelo arrumadinho é cabelo natural. Você vai pra uma festa, né pra igreja, não.
— Falta de convite pra igreja, não é — rebateu minha mãe.
— Eu já disse que domingo eu vou, mainha — respondi, olhando meu novo visual no espelho.
— Tu sempre diz isso. Quando é pra ir... Campo mais limpo.
— Mas hoje é sábado! — Virei-me para a minha tia. — Tá vendo, tia? A senhora inventa de falar de igreja na hora que eu tô saindo.
— Ué? Você não tem livre arbítrio, não? O que eu tô vendo é uma mulher adulta que trabalhou a semana todinha pra cuidar da mãe e da filha e ajudar a pagar as contas da casa tendo que dar satisfação como se fosse uma criança.
— Margarida!... Isso lá é coisa que se diga pra menina? Lis é mãe, tem uma filha pra cuidar, tá em uma cidade que não conhece e perigosa do jeito que tá... Até porque não é certo uma mulher direita viver pela rua fora de hora.
— Rosa!... Pelo amor da minha virgem Maria, deixa a menina sair e se divertir. Até parece que você quando era jovem...
— Margarida... — interrompeu minha mãe, franzindo as sobrancelhas. — Acaba logo com essa conversa!
— Por quê, voinha? Tu era igual a mainha que tem três namorados e fica bêba e com saca, é? Tu traz calcinha das outras mulher pra casa? — indagou Flor.
— Flor de Lis, que história é essa de tu trazendo calcinha de outras mulher pra casa?
— Menina, que babado! — disse minha tia, de olhos arregalados. — Agora conta que eu quero saber tudinho.
Nesse momento, uma buzina se fez ouvir do lado de fora.
Salva pelo gongo!
— Minha gente, eu tenho que ir!
— Lis, nada de cachaça, viu?
— Tá bom, mainha — concordei, beijando o topo de sua cabeça. — Flor, vá dormir, vá.
— Não sem tu.
— Tu não pode depender de mim pra dormir, não, Flor, já tais grandinha.
— Quero historinha!... — reclamou, cruzando os braços sobre o peito.
A buzina se fez ouvir novamente. Fui até a janela e chamei Ulisses para que subisse.
— Que horas tu volta, Lis? — perguntou minha mãe.
— Não sei, mainha, mas não me espere, não, viu. Vá dormir e não se preocupe, que Ulisses me deixa em casa.
— Tais namorando esse homem, é?
— Não, mainha, ele é meu amigo.
— Sei... — ironizou tia Margarida.
— Titia!... — reclamei. — Homem e mulher podem ser amigos.
— Eu não disse que não podem.
— Mas fica aí com tuas leseiras!
— Eu não duvido de amizade entre homem e mulher, não. Duvido é da amizade de vocês dois — disse minha tia.
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Fé, Lis! Um Romance Quase Clichê
Storie d'amore🥇Vencedor em 1° Lugar no Concurso Retro Future na Categoria Comédia 🥈Vencedor em 2° Lugar no Concurso Setealém na Categoria Comédia 🥉 Vencedor em 3° Lugar no Concurso Big Bang na Categoria Romance 🥉Vencedor em 3° Lugar no Concurso Bevelstoke...