Aos poucos, Katsuki consegue compreender e aceitar a si mesmo, desligando-se das amarras que o prendiam às aparências. Sua postura e concepção em relação à própria identidade de gênero passam por uma reformulação e seus conceitos amadurecem ao ponto...
Sim, eu estou de volta ansiosa para ver a reação de vocês à esse capítulo. Não me decepcionem e dividam tudo, ok?
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Várias foram as vezes em que Katsuki se questionou como seria sua vida se ele tivesse nascido um homem cis. Não haveriam questionamentos, dedos apontados ou mesmo teorias descabidas de que a sua identidade de gênero pudesse influenciar no comportamento de qualquer um, adulto ou criança, e principalmente, ele jamais seria questionado por qualquer característica que pudesse ser associado ao gênero feminino, por menor que fosse. Ninguém o charearia ou seria inconveniente e sem noção ao questionar sobre suas malditas genitálias, como se toda a sua identidade se resumisse à um órgão.
O destino, contudo, gosta de o manter sempre no limite, testando sua paciência e capacidade, o obrigando a reafirmar constantemente.
Quando as perguntas começaram a tomar esse rumo tendencioso durante a entrevista, tentando realizar o que seria uma análise psicológica de sua postura enquanto pessoa, pai e profissional, ele parou de responder.
Uma em especial o fez comprimir os dentes fortemente enquanto seu rosto se fechava em uma careta desgostosa.
— Senhor Bakugou, por acaso em algum momento já se arrependeu de toda a sua trajetória em se tornar homem?
Tentando se conter, ele inspirou profundamente, mantendo cativos todos os demônios e xingamentos que o faziam se sentir no extremo do ódio. Expirou, lenta e metodicamente, colocando a mente no lugar para escolher com cuidado as palavras que usaria. Caso perdesse o controle em rede nacional estaria apenas dando mais ferramentas para os sogros trabalharem em sua tese estúpida, e certamente Bakugou não lhes daria essa vantagem de mão beijada apenas por um momento de desforra.
— O que exatamente você quis dizer com se tornar um homem?
O sujeito retesou, ajeitando a postura e pigarreando enquanto pensava em como refazer a fala.
— Me referia ao fato de fisicamente se parecer com um homem, os tratamentos, mastectomia e hormonoterapia. Por acaso já se arrependeu de ter transformado o seu corpo?
Bakugou bateu a ponta dos dedos no encosto de madeira da poltrona confortável em que estava sentado.
— Qual o intuito dessa pergunta?
— Apenas compreender melhor a sua escolha e...
— Acha que é uma escolha? — o interrompeu, semicerrando os olhos — Que decidi um dia ser um homem trans por causa de algo que vi ou ouvi, algo que me influenciou?
— Algumas pessoas poderiam pensar que sim e...
— Você se incluí nesse seleto grupo, Senhor Tanaka? — dessa vez ele foi apenas frio e incisivo, observando com certa satisfação o semblante do sujeito se tornar lívido ao se perceber em uma situação complicada — Acredita que todos os homens e mulheres trans desse país e mundo escolheram esse caminho?
