Capitulo 23

98 9 81
                                    

Zabdiel

Como pedras preciosas Madson e Judith retiram todas as más energias a sua volta, os sorrisos radiantes e olhares sinceros me atingem fortemente, principalmente um par de íris azuis em questão. Arrisco dizer que a Senhorita Evans é ótima com crianças, nos divertimos muito e ela nem se quer deu um de seus ataques de grosseria.

Não consigo e não posso esquecer do seu cheiro, do doce que seu corpo exalou ao se juntar ao meu naquele quarto frio. Sem armaduras ou qualquer outra coisa que nos afastasse não senti vontade de soltá-la, muito pelo contrário. Cá entre nós que eu tenha passado um pouco dos limites, mas o que posso fazer se sua timidez me cativa?

Por mais que não tenhamos trocado muitas palavras após o ocorrido conseguimos ter um dia legal, nada paga o sorriso no rosto da Mad.

-Hora do jantar, crianças!-uma das madres grita atraindo nossa atenção.

Entre gritos e risadas brinquedos eram largados sobre a areia, e os pequenos corriam animados para dentro do lar.

-Tomara que não seja macarrão.-Madson diz saindo do colo de Judith.

-Não há problema, no caso de ser macarrão eu como no seu lugar.-Jud fala arrancando uma gargalhada da pequena.

Me sinto feliz em ver o quão as duas se deram bem, Madson é sem dúvida a criança mais inteligente que já conheci e amo conversar com ela apesar dos simples 7 anos de idade, acredito que esse tenha sido o grande laço da nossa amizade.

-A Madre Ana não cozinha tão bem quanto parece, você não vai querer o macarrão, acredite.

-Ela não cozinha tão mal assim.-digo rindo e recebendo um olhar incrédulo de Madson.

-Nessas horas me pergunto o que você anda comendo por aí.-a pequena comenta.

-Não são coisas nada boas, Mad.-Judith diz e sei exatamente a que ela se refere, ou melhor, a quem.

-A sutileza mandou lembranças, Jud.-revido e Madson me olha confusa.

-Vocês vão acabar se casando desse jeito.-Mad diz cruzando os braços.

-Não, jamais! Você já viu o quanto ela é grosseira?

Ao invés de retrucar Judith apenas me encara, seus olhos brilhavam conforme se enchiam, a duplicidade de decepção e tristeza me fizeram me arrepender imediatamente das duras palavras. Ela abraça os joelhos e sorri fraco para Mad, como se assentisse que está tudo bem.

-Eu gosto de você, Jud.-elas se abraçam e percebo algumas lágrimas rolando pelo rosto da maior.-Não liga para ele não.

Judith não pronuncia uma só palavra, apenas assente com a cabeça.

-Vou checar se é macarrão, já volto.-Mad fala e logo some do meu campo de visão.

Estar sozinho com a Jud me incomoda, ainda mais por que sua expressão não é das melhores. Ela usufrui de todas as armas para me atingir, mas com uma simples frase se deixa magoar? O quão forte ela finge ser?

-Olha, desculpa.-digo rápido após alguns minutos em silêncio.-Mas não foi certo o que você falou sobre a Hena...

-Eu vou embora.-é só o que ela diz antes de se levantar.

-Você fala o que quer sobre as pessoas, mas quando falam sobre você é motivo para choro?-digo alto num impulso fazendo-a se virar para me olhar.

-Muito pelo contrário...fale o que quiser, eu não ligo.-ela da de ombros e chora ainda mais.-Eu posso ser cheia de defeitos, Zabdiel, mas não somos muito diferentes um do outro.

-Você está enganada, somos totalmente opostos.-digo calmamente, mesmo que a vontade seja de apenas abraçá-la.

-Você foi largado no altar, eu fui enganada. Estamos no mesmo barco, não?-ela diz e abaixo a cabeça com o seu comentário.

-Eu estou começando algo novo, com a Hena.-minto. No fundo a sensação de se sobressair fala mais alto.

-Felicidades.-com dificuldade a palavra é pronunciada.-Espero que ela fique feliz em saber como você me tocou hoje mais cedo.

-Não seja ridícula, aquilo não foi nada.

De alguma forma dizer essas coisas me machuca, mas numa guerra onde Judith e eu lutamos prefiro sair como o vencedor.

-Mas para mim foi!-ela praticamente grita em meio ao choro.-Eu sou apaixonada por você, e sei que você nunca vai sentir o mesmo por mim.

Sinto como se um balde de água fria caísse sobre mim, meu coração se acelera de um jeito surreal ao ouvir essas palavras saindo de forma tão terna e verdadeira de sua boca. É quase impossível acreditar que seu espírito desbravado se deixou atrair por alguém como eu, ainda mais não podendo dizer o mesmo.

Ela é linda e gosto de estar ao seu lado, mas as coisas tem acontecido tão rapidamente. Judith é difícil demais e os dias não tem sido fáceis, lidar com essa situação está fora do meu alcance.

-Judith...-tento me aproximar mas ela se afasta.

-Eu ainda não terminei.-ela limpa as lágrimas rapidamente e volta a falar.-Não faço ideia do que se passa na sua mente doente, mas pare de agir assim! Sem toques ou convites fofos, pare de me procurar pela empresa, apenas pare! Isso é cruel se você não tem a intenção de...

-De que? Eu nunca imaginei que você se sentisse assim, Judith!

-Mas eu me sinto, e agora você sabe!-dessa vez ela quem se aproxima e não consigo me afastar.-Só vamos fingir que nunca nos conhecemos, ok? Eu lido com as minhas expectativas sozinha.

-Jud, não aja assim. Você sabe que é especial para mim.-levo as mãos ao seu rosto acariciando devagar.

-Especial?-ela ri irônica.-É o que todos dizem. Eu não quero ser especial, quero ser amada.

-Mas...

-Você pode me amar, Zabdiel?

Balbucio algumas palavras mas simplesmente não consigo dizer nada, todas as coisas estão caindo sobre mim como uma avalanche, me sufocando por completo. Obviamente eu não posso amá-la, por mais que eu queira e que me pareça a maior loucura do mundo. O amor não se vai do dia para a noite, ainda estou ferido e preciso me curar.

-Eu não posso.-digo e ela parece ainda mais magoada.

-Então me deixe ir, e não me procure mais.

-Por favor, não vai.-praticamente imploro.-Me desculpe por ser tão cego e...

-Não precisa dizer nada.-ela me interrompe.

Aos poucos o seu rosto saiu de minhas mãos, seu corpo se afastou e tentei respirar o mais fundo possível para que o seu cheiro nunca mais saísse da minha memória. Ela me olha uma última vez e logo desaparece na escuridão do jardim.

-Voltei!-a voz de Mad ecoa ao meu lado mas continuo com o olhar fixo a minha frente.-Ué, cadê a Judith?

-Ela foi embora, Mad.

La DamaOnde histórias criam vida. Descubra agora