Capitulo 16

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Judith

O fim de semana trouxe com sigo toda a leveza que eu costumava sentir quando criança, a brisa arrastava o cheiro do colchão mofado do orfanato e o sol iluminava os fios de meus cabelos onde costumava haver tranças e laços de fita. Me recordo de quando a inocência não me permitia ver o lado ruim das pessoas, de uma forma me mantive intacta a maldade por um bom tempo, até que tudo desmoronou.

O dia de hoje fere o meu interior com força total, a exatamente 1 ano atrás perdi a pessoa mais importante da minha vida, o meu pai.
Richard se ofereceu para me acompanhar até o cemitério mas preferi vir sozinha, juntei algumas fotos antigas e comprei suas flores preferidas, orquídeas brancas.

FLASHBACK (16 anos atrás )

Os dias são mais fáceis quando não há aula de matemática, sem contar os períodos de visita onde todos nós queremos ser adotados. Fui rejeitada diversas vezes, vejo meus melhores amigos indo embora deixando apenas a cama vazia, onde em algumas semanas outras crianças irão se deitar.

Como todos os dias, depois do almoço corro para brincar na caixa de areia, um baldinho velho e uma boneca de pano são os meus únicos e inseparáveis companheiros. Castelinhos são construídos e destruídos em segundos, a boneca já estava completamente suja de terra e minha criatividade para brincar já havia se esgotado, me levanto sacudindo os grãos de areia do vestido rodado e sigo até o interior do meu lar.

-Judith?- ouço a voz da Madre Ana e logo me viro para olhá-la.-Quero que conheça Noemi Cólon, assistente social.

-Olá Judith.-a mulher de riso doce me cumprimenta me fazendo rir timidamente.-Podemos conversar um instante?

Não a respondo, apenas caminho em sua direção com a expressão assustada. Caminhamos lado a lado até a sala principal, logo de cara me deparo com um casal conversando animadamente, num canto mais afastado um senhor em seus aparentes 45 anos conversava baixo com um garoto.

-Christopher, venha aqui filho!-a mulher diz e o menino corre para os seus braços.

-Judith, esses são Yenny e Jonas Vélez. Eles vieram te conhecer, meu amor.-Noemi diz e em seguida se abaixa ao meu lado.-Qualquer coisa me chame, certo?-assinto com a cabeça e ela se retira do local.

Um silêncio incômodo pairou por alguns segundos, apenas me mantive em pé os olhando. Com o vestido sujo e os cabelos bagunçados encarei o garoto de olhos claros, recebi um sorriso banguela que também me fez sorrir.

-Quantos anos tem, Judith?-Yenny pergunta sorridente.

-Assim.-digo fazendo o número 7 com os dedos.

-Eu tenho nove anos, sou muito maior que você.-Christopher diz saindo do colo da mãe.

-Você sabe multiplicar os números?-o questiono cruzando os braços.

-Ainda estou aprendendo.-o garoto da de ombros.

-Eu sei multiplicar, sou mais inteligente que você.-ele faz bico e volta para perto de Yenny que me olha com a expressão séria.

Me distraio ao ouvir uma risada nasalada no canto da sala, o tal senhor parece ter se divertido com a cena.

-Bom...-o pai de Chris começa.-Tem muitas amigas aqui, Judith?

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