Zabdiel
Por que ficamos embriagados com um líquido aparentemente inofensivo? Bom, relembrando as aulas de química -onde dormi grande parte das vezes- me recordo das poucas explicações. Adolescentes no ápice da puberdade com questionamentos sobre substâncias ilícitas e álcool, assim descobri o poder de um copo de uísque. As alterações em nosso comportamento se dão por conta da inibição ou exitância de nossas atividades cerebrais, ou seja, o álcool interfere na ação dos chamados...neurotransmissores? Não tenho certeza, as nomenclaturas nunca foram o meu forte.
-Ei! Estou falando com você.
Desperto mesmo de olhos abertos após ver a mão de Richard se movimentar a frente do meu rosto. Essas ideias inconstantes me deixam totalmente perdido.
-Desculpa, eu estava pensando...-explico ajeitando o corpo na poltrona de couro.
-Pensando?-assinto.-Olhando para um copo a quase...15 minutos.-ele diz após conferir o relógio de pulso.
-Uma mente fértil não precisa de muito para funcionar. E além do mais, minha manhã não foi das melhores.
-Não quero perder um segundo que seja, vou matar aquele garoto.-Richard esbraveja apertando o corpo cada vez mais forte.
-A Judith não iria gostar disso. Não vamos meter os pés pelas mãos.-falo me levantando enquanto afrouxo o nó da gravata.
A confiança, ela é branda e direcionada as pessoas certas. Em algum momento da vida adquiri a capacidade de identificar traidores, até mesmo sentir suas más intenções.
Richard ficou uma fera ao saber sobre o envolvimento de Patrick em todo o esquema. A forma como o bem estar de Judith o atinge me deixa um tanto quanto enciumado, nenhum amigo se preocuparia tanto assim a ponto de arriscar o próprio pescoço em alguns momentos. Posso estar ficando louco, e já me adverti diversas vezes por pensar tantas bobagens, mas não seria nada agradável ter o meu melhor amigo apaixonado por ela.
-Eu não quero saber o que a Judith acha! Não vê o quão ingênua ela é? Tudo acontecendo embaixo do nosso nariz, De Jesus!-Richard diz alto.
-A essa altura, não duvido que ela mesma tenha o esganado com as próprias mãos.
Inspiro e respiro devagar, profundamente. Dissemos coisas ruins um ao outro, discutimos como duas crianças birrentas mas não posso deixar de dizer o quão tem sido difícil tê-la morando em meus pensamentos. Apesar do mistério que Judith representa para mim, tenho curiosidade em desvendar seus mais secretos sonhos, de conhecê-la fora dessas paredes de concreto como pude conhecer no orfanato.
Tudo parece perfeito quando se trata de nós dois juntos no capô do meu carro, quando se trata dos beijos e carícias sensíveis que suas mãos me dão, mas os sonhos terminam, certo?
Acordar para a realidade e encontrar sua
aspereza tem sido o mais complicado, eu gostaria de poder curar seu coração para que pudéssemos dar início a algo relativamente nosso. Gosto de ouvi-la, gosto dela por inteiro, porém também carrego traumas e dores que somente seu lado doce pode cessar.Após algum tempo de conversas paralelas e momentos de foco no caso de Patrick, decido ir até a sala de Judith. Talvez seja bom ver como as coisas estão, preciso explicar que estava magoado demais para ficar naquele momento mas que a partir de agora não pretendo mais deixá-la.
Richard insistiu em me acompanhar, o que me deixou incomodado, afinal, deveria ser um momento a sós com ela.
Patrick lia alguns papéis atentamente até perceber nossa presença. O alívio foi imediato ao vê-lo ali, fico contente que Jud tenha me ouvido e não contado nada a ele.

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La Dama
RomansaOs sete pecados capitais resumem a luxuosa Judith Evans. Herdeira de uma fortuna milionária e egocêntrica o suficiente para pisar em qualquer um que ousar cruzar o seu caminho, a mulher se vê em uma sinuca de bico quando se apaixona por um de seus...