Capitulo 24

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Judith

Com a chegada da primavera o dia amanheceu muito mais bonito, é uma pena que não tenha motivos para comemorar, talvez se eu apenas desejar que a manhã não seja uma completa catástrofe já ajude.

Já levei muitos foras nessa vida começando pelo garoto babaca do orfanato, Erick Brian Colón vivia me chamando de magricela, além de rasgar todas as minhas cartinhas de amor. Um tempo depois o mesmo teve a sorte de ser adotado por uma família rica, apesar do ódio gratuito até lágrimas rolaram em nossa despedida. No fim as coisas foram como deveriam ser, e eu deveria entender facilmente minha trama com Zabdiel assim como entendi a muito tempo atrás. Arrisco dizer que na infância eu fui muito mais madura e sensata, ou apenas forçada a crescer antes da hora.

Após dar de cara com corações fechados milhares de vezes passei a aceitar, me falta amor por mim, me falta estar só e não ver problema nisso. Obviamente não planejei toda essa confusão, o meu coração escolheu Zabdiel sem o meu consentimento, caso contrário eu teria sido poupada de uma luta interna na minha mente.

Me arrasto até o banheiro e reviro os olhos ao notar o rosto inchado, chorar horas seguidas já não me parece mais tão eficaz. Tomo um banho rápido e visto uma roupa qualquer, sem um pingo de maquiagem ou uma boa escovação nos cabelos saio de casa. Mais uma semana complicada se inicia.

Quero sorrir mas não consigo, não tenho forças. A amargura resolveu voltar para a minha vida de mala e cuia, o que me faz lembrar de que preciso de férias eternas de todo esse inferno.

-Bom dia!-a voz animada de Richard ecoa atrás de mim.-Santo Deus, você foi atropelada?-ele me olha espantado.

-Guarde as suas gracinhas para outro, não estou com saco.

-Quer que eu traga um café ou...-ele diz me seguindo até o escritório.

-Uma dose de sossego não é má ideia.-digo firme o vendo levantar as mãos em sinal de rendição.

-Judith!-Zabdiel aparece ofegante e logo para ao lado de Richard.-Podemos conversar?

É errado pedir aos céus um raio ou uma bigorna caindo sobre a minha cabeça? O que eu fiz para merecer uma manhã tão estressante?

Mesmo que seus olhos e sua boca entreaberta tenham me deixado sem fôlego, não posso me esquecer de que seu coração pertence a outra ou outras, mas nunca a mim. Eu apenas queria ser o motivo da sua admiração pelo menos uma vez, tenho tentado melhorar desde o dia em que o conheci. A verdade é que não deveria ter me esforçado tanto.

-Zabdiel, o que faz aqui?-Richard questiona prendendo o riso.

-Judith, por favor, você sabe que precisamos conversar.-ele se aproxima me fazendo dar um passo para trás.

-Eu quero os dois patetas longe da minha sala.-digo e bato a porta com força.

Dói, como dói. Agir assim me faz retroceder a pior versão de mim, mas talvez dessa forma as pessoas tenham reais motivos para me ferir.

A vontade de ouvi-lo e a esperança de que sua voz reproduza exatamente o que quero me fazem chorar. Me sento no chão próximo a porta e desabo em lágrimas, muitas vezes a pressão de corresponder a um ideal machuca mais do que problemas concretos.

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