Capitulo 28

97 10 66
                                    

Zabdiel

Percebo que deveria ter usado um pouco mais de sutileza, Judith parecia desacreditada do que acabara de escutar. Acredito que ainda a magoe ouvir o nome de Christopher, tivemos grandes decepções com pessoas cujo julgávamos leais e esquecer é praticamente impossível.

A face pálida e olhar assustado entregavam a surpresa que sentira, seu corpo cambaleia para trás e rapidamente a seguro.

-Jud...olhe para mim!-peço segurando o seu rosto entre as mãos.-Você está bem?

A observo morder o lábio inferior com força enquanto nega com a cabeça, as lágrimas rolam por seu rosto desenfreadamente , seu corpo se afasta por um segundo mas a puxo levemente contra o meu peito. A menor fração de tempo que seja em que não a tenho por perto, nas últimas horas tem sido uma tortura.

-Só pode ser mentira...-ela diz num sussurro mas logo se exalta.-Eu sempre confiei nele, Zabdiel! O meu pai praticamente criou esse garoto e é assim que ele retribui?

-Ei, eu entendo a sua indignação mas no momento precisamos manter a calma.

Minhas mãos acariciam seus cabelos numa tentativa de amenizar a dor de sua ferida aberta. Por diversos lados e em diferentes ângulos, assim Judith recebe traições por onde passa. É impossível não se perguntar o que o mundo está tentando devolvê-la, ela teria feito algo tão ruim no passado a ponto de pagar dolorosamente no futuro?

-A polícia precisa saber disso, Jud.-acrescento ainda a encarando.-É possível que ele saiba o esconderijo do Christopher, entre outras coisas importantes para a investigação.

-Eu vou acabar com ele agora mesmo!-ela diz se desvencilhando dos meus braços.

-Não!-seguro o seu pulso mantendo-a no lugar.-Ele não pode saber que nós sabemos.

-Eu não acato suas ordens, Senhor De Jesus.-ela esbraveja.-Não suporto mais ser traída, acreditar que tudo está bem quando de repente...o chão sai debaixo dos meus pés. Você não pode me dizer o que fazer!

-Você por acaso está se ouvindo? Judith, só estou tentando ajudar.-explico calmamente.

-Ah, então você quer me ajudar?-assinto.-Então me solte e pare de agir como um covarde!

-Como é que é?

-Eu não posso me dar ao luxo de esperar as bombas explodirem na minha cara. Então se me der licença.

Uma criança birrenta ou uma mulher adulta? Esse temperamento me da nos nervos! Em questão de segundos não a reconheço, e o pior de tudo são suas palavras sempre diretas e sem limites. Me apaixono a cada vez que toco sua boca, mas Judith sempre faz questão de estragar tudo e nos trazer de volta a realidade, uma na qual ela é a vilã.

-Quer saber?-começo e ela volta a me olhar.-Faça o que quiser! Haja como uma menina mimada sem pensar na consequências.

-Não quero mais te ouvir, saia.-ela diz indo até a porta.

-Ótimo. Não temos mais nada para falar.-digo seguindo até a saída.-Você não tem muitas pessoas ao seu lado, e sabe por quê?

-Fora.-Judith diz em meio as lágrimas.

-Você machuca todos a sua volta, diz coisas horríveis sem pensar como se fosse o centro do mundo.-ela abaixa a cabeça.-Eu ainda estou aqui, mas não sei até quando.

Penso no oceano representado por seus olhos a cada segundo, mais do que eu gostaria. Em outras circunstâncias eu teria ido embora sem dizer nada e nunca mais voltaria, mas com a Judith tudo é diferente.

Algo dentro de mim me pede para ter calma, paciência e compreender sua história e seus medos. Pensando nisso me aproximo e a vejo relutar, e logo ceder. Ergo o seu queixo com cuidado e deixo um beijo calmo em sua testa.

-Zabdiel...eu...-sua voz sai quase em tom de súplica.-Eu não quis te chamar de covarde...

-Até logo, Judith.

Judith

A ideia de ser passada para trás já não tem desencadeado muitas lembranças dentro de mim, afinal, estou acostumada não é mesmo?
Para ser sincera, não quero pensar em toda a situação, apenas tentar entender por que essas coisas acontecem comigo.

Admitir que Zabdiel tem razão feriu o mais profundo ponto do meu ego. Eu fui rude e grosseira como não fora a muito tempo, e ele nunca mereceu o meu pior lado.

Em alguns momentos esqueço de todo o meu tormento, quando sinto os seus braços rodearem o meu corpo a vida sopra em meu ouvido frases como "você pode recomeçar", "tudo está bem agora". O problema surge quando preciso ser amarga, embora não goste que ele me veja incorporar uma megera.

Após nossa discussão decidi sair para tomar um ar, ou boas doses de uísque. Não é atoa que nesse exato momento balbucio palavras sem sentido para o dono do bar. Ou será um garçom?

-Mais uma dose, por favor.-digo com a voz arrastada e ele nega.-Eu não estou bebendo de graça! Quero falar com o gerente.

-Acho que já esta bom por hoje.-ele diz gentil enquanto limpa a bancada de mármore.-Quer que eu ligue para alguém ou...

-Definitivamente não!

-Um táxi?-ele sugere e nego imediatamente.

-Estou de carro...eu acho.-falo tirando algumas notas da carteira jogando sobre o balcão.

-Não me parece uma boa ideia dirigir assim.

-Tá, tá.

Com os sapatos de salto nas mãos caminho pelo estacionamento. Demorei alguns minutos para encontrar o meu carro e principalmente para entrar nele. Deitei sobre o volante e me permiti chorar todas as mágoas da semana, dos meses e dos anos. Doía como nunca, a cada motivo um buraco é aberto em meu peito. 

Minha mente está longe e estou totalmente alcoolizada, o olhar turvo pelo choro e a falta de sanidade me fazem acelerar o veículo.
Aos poucos estou deixando o local, uma tontura imensurável surge como se toda a bebida estivesse surtindo efeito de uma vez.
Meu juízo parece ter ido por água abaixo, já que me recuso a parar ou chamar um táxi.

Piso fundo no acelerador ignorando até mesmo o sinal vermelho. O vento em meu rosto apenas aumentou a dose de adrenalina em meu sangue, buzinas, freadas bruscas e pneus cantando marcaram a minha passagem pela avenida principal. Eu deveria arriscar chutar o número de multas que tomei essa tarde?

Em meu lado direito ouço uma buzina alta, estridente que estremeceu meus tímpanos. O impacto empurrou meu corpo contra a janela brutalmente, estilhaços de vidro caiam sobre mim em meio ao grande estrondo dos carros se chocando. Uma dor insuportável no canto esquerdo da cabeça e muito sangue por meu colo, é apenas o que vejo antes de apagar completamente.






Quem é vivo sempre aparece kkkkkkkkk me perdoem pela demora, amo vcs!!!❤️❤️❤️

La DamaOnde histórias criam vida. Descubra agora