Capitulo 30

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Zabdiel

Foi um pouco complicado assimilar a notícia, a princípio soou como uma verdadeira brincadeira de mau gosto, mas logo o meu consciente me alertou sobre a verdadeira gravidade da situação.

Demorei alguns segundos para dar partida no carro, talvez pela preocupação e ansiedade para vê-la. Até o fim do dia posso jurar que serão duas pessoas presas, Judith por dirigir alcoolizada e eu por excesso de velocidade.

Richard me pareceu nervoso e um tanto decepcionado, como um pai descobrindo as notas vermelhas dos filhos. No banco do passageiro, ligações e mais ligações para pessoas cujo não reconheci pelos nomes, mas acredito que sejam advogados ou pessoas importantes da segurança pública.
Ao chegarmos, praticamente pulei para fora do veículo. O prédio acinzentado com o letreiro azul turquesa não me parecia tão cruel, mas só de imaginar Judith se adaptando a prisão senti um calafrio.

-Olá...-digo recebendo o olhar indiferente de uma policial em questão.-Eu gostaria de falar com os policiais responsáveis pela prisão da...

-Liberem a Senhorita Evans imediatamente.-Richard me interrompe autoritário.

-Escuta aqui Superman, aqui as coisas não funcionam assim.-a funcionária diz calmamente.

-Então...pode ao menos nos informar sobre a situação?-peço com cautela a vendo assentir.

-Bom, a madame ultrapassou 15 faróis vermelhos, derrubou um hidrante e apenas parou quando foi atingida por um carro no cruzamento da Quinta Avenida...-ela relata me fazendo arregalar os olhos.

-Como?- a interrompo.-A Judith se envolveu em um acidente?

-Quer que eu desenhe?-a policial debocha grosseiramente.

-Que tipo de profissional é você? Ou melhor, vocês!-Richard diz alto.

-Quer ir preso também?-a mulher questiona fazendo Rich recuar.

-Como ela está? Por favor, só estamos preocupados.-digo.

Não obtive resposta, mas posso garantir que meu coração respondeu da maneira certa. No momento, apenas espero que Judith esteja bem. A cada segundo meus batimentos cardíacos se tornam mais intensos e o desejo de garantir que ela esteja protegida e em meus braços apenas aumenta.

Alguns minutos andando de um lado para o outro e um policial aparentemente simpático vem em nossa direção.

-Senhor De Jesus, Senhor Camacho.-ele nos cumprimenta sorrindo fraco.-Suponho que estejam aqui pela Senhorita Evans.

-Por que não me comunicou sobre o acidente quando ligou?-Richard fala um pouco mais calmo.

-Querem tirá-la daqui ou não?-ele questiona obtendo nosso silêncio em resposta.-Preciso efetuem o pagamento da fiança, com a presença do advogado.

-Certo, vou providenciar.-Richard fala indo para o lado contrário ao que estávamos.

-Eu gostaria de vê-la.

O guarda relutou por alguns segundos mas logo assentiu. O segui até um local escuro, onde pude comparar com uma sala de interrogatório. Alguns espelhos falsos e apenas uma mesa separavam as duas cadeiras, frente a frente. Muitas coisas se passam por minha cabeça enquanto encaro o chão gasto, uma mistura de medo e coragem extrema.

-Anda!-ouço uma voz feminina misturada a correntes balançando.

A porta se abre e direciono o meu olhar esperando que tudo esteja bem. Judith adentra a sala sendo guiada por uma policial, a mesma estava algemada e com algumas mechas de cabelo totalmente ensanguentadas. Pude notar seus pulsos implorarem por um pouco de espaço, as algemas apertadas facilmente marcavam sua pele.

-Vocês a algemaram?-a indignação em minha voz é nítida.-Ela está totalmente debilitada!

-Você tem 15 minutos.-a funcionária diz e logo sai batendo a porta.

Judith levanta o olhar e corro ao seu encontro puxando-a para mim. A abraço tocando o seu corpo com cuidado, eu só me tranquilizarei quando me certificar de que ela esteja realmente bem.

-Jud...-seguro o seu rosto com as duas mãos.-Eles te machucaram?

O silêncio permanece e um desespero toma conta de mim. Seu rosto pálido e os braços com algumas esfoliações fizeram o meu sangue ferver.

-Por favor...diz alguma coisa, eu só preciso ouvir você.-insisto.

-Me desculpe.-ela diz baixinho.

-Você deveria estar no hospital.-aliso o seu rosto devagar.-Vamos te tirar daqui, ok?

Beijo sua testa enquanto afago minhas mãos em seus cabelos, a percebo fechar os olhos e derramar algumas lágrimas. Tenho total certeza de que é tão difícil para ela quanto para mim, agir com imprudência no momento de aflição já foi uma das minhas fugas mas acredito que não valha mais a pena.

-Quando eu soube do que aconteceu...tive muito medo de perder você.-digo e ela suspira e levanta o rosto para me encarar.-Não faça mais nada assim, eu te quero viva, comigo.

-Com você?-Judith ri ironicamente me deixando confuso.-Eu não posso. Sei que um dia você amanhecerá me odiando. Prefiro sua amizade ou até a mesmo a distância ao tê-lo com raiva de mim.

-Raiva de você? Judith, eu estou aqui e agora!-falo firme.-Não me peça para me afastar, já estamos envolvidos demais.

-Eu só...não quero te machucar, Zabdiel. Tudo em que eu toco apodrece, se destrói.

-Acredita em efeito rebote?-pergunto obtendo o seu olhar curioso.-Você me tocou e eu floresci, Judith Evans.

Passamos a tarde na delegacia, os 15 minutos com Judith foram os mais rápidos do mundo. A brutalidade que usaram para levá-la de volta para a cela me enraiveceu. Richard foi mais ágil que do imaginei que seria, logo a fiança estava paga e a Doutora Price esclarecia alguns termos com o delegado do distrito.

Ao contrário de horas mais cedo, Camacho estava com o semblante ferido, preocupado. Contei a ele sobre o estado em que Judith se encontra e pareceu entristecê-lo ainda mais.

-Obrigado por resolver tudo.-falo um pouco hesitante.

-Eu fiz isso por ela, e não por você.

-Senhores...-viramos juntos para olhar a advogada de Judith.-Precisamos conversar um instante. Já pedi que preparem a saída de Judith. Vocês tem um minuto?

Caminhamos lado a lado até a parte mais isolada do local, somente alguns funcionários circulavam por ali.

-Vocês por acaso não tem nada para me contar?-ela questiona um pouco apreensiva.

-Como o que?-Richard pergunta aparentemente aflito.

-Vocês são as pessoas mais próximas dela. Ela não comentou sobre nenhuma briga, nenhum inimigo, além de Christopher?

Nos entreolhamos e rapidamente soubemos que as bocas fechadas estavam gerando problemas, mas que dizer mais do que deveria seria ainda pior.

-Não sabemos de muita coisa.-ela assente ao me ouvir.-Mas por que tudo isso?

-Além da embriaguez, outro fator contribuiu para o acidente de Judith.-ela começa.-Os freios do seu carro foram cortados.

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