Capitulo 34

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Judith

A parte mais difícil de viver desprotegida é ser ferida milhares de vezes. No entanto, o problema não está em ser enganada, aliás sempre me mantive resistente as pancadas da vida. O verdadeiro ponto é nada mais nada menos que descobrir de onde veio o golpe, ainda mais quando já esteve morando em seu coração.

Talvez eu nunca chegue a acreditar realmente em tudo o que vem acontecendo, a todo momento um devaneio diferente. "Tudo não passa de um sonho!", minha mente grita. Felizmente ou não, os sonhos acabam quando finalmente acordamos, e acordar para enxergar o lado obscuro de Christopher me deixou em pedaços.

Seattle se manteve reluzente ao cair da noite, as avenidas molhadas pela chuva fraca deixavam a pista perigosa. Demorei algum tempo atrás do volante criando coragem para dirigir novamente, mas logo me familiarizei com os pedais e acelerei aos poucos.

Cruzei a cidade em mais tempo do que levaria normalmente, receio que algo possa acontecer de novo e que dessa vez eu não tenha a sorte de sobreviver. Os prédios chiques aos poucos foram se transformando em casebres e vielas escuras, o subúrbio ganhava vida a cada quilômetro percorrido.

Estacionei o carro e coloquei o capuz antes de descer, olhei para todos os lados e torci para não ser notada. Quem me encarasse por um segundo que fosse veria o meu desespero, o rosto aflito e ansioso, portanto, caminhei até o meu destino de cabeça baixa.

Num beco sem saída avistei o portão vermelho parcialmente enferrujado, a chuva parecia aumentar a cada minuto criando grandes poças d'água. Ao me aproximar checo o movimento uma última vez e retiro a mão do bolso apertando o interfone seguidas vezes.

-Sou eu.-digo ao ouvir uma respiração abafada.

-Achei que não viria mais.

Um estalo e o portão se abre me dando a visão de um corredor escuro. A passos lentos observo toda a infraestrutura do local, goteiras e luzes piscando sem parar, digno de um filme de terror. Me assusto ao ouvir o baque do portão atrás de mim, e então confirmo a mim mesma que chegou o momento de acertar as contas.

A iluminação se torna melhor a cada passo, e logo adentro o escritório de Jackson. O mesmo acendia um cigarro com toda a cautela do mundo, enquanto seus seguranças pessoais mantinham-se em pé com seus fuzis automáticos.

-Estava esperando a cavalaria?-pergunto direcionando o olhar aos homens bem armados.

-Apenas força do hábito.-ele ri.-Como está se sentindo?

-Bem, obrigada...-tento parecer otimista.-Conseguiu arrancar algo dele?

O rapaz nega com a cabeça e desvia o olhar. Jackson sempre foi o tipo de cara egocêntrico, e admitir que algo não havia saído como o planejado lhe passava a sensação de incapacidade. De qualquer forma, eu sabia que as coisas dariam certo, por bem ou por mal.

-A única prova até agora são as ligações do Vélez, inclusive, eu fiz questão de atender.-Jackson se gaba.

-E o que ele queria?-me aproximo totalmente pasma.

-Vem comigo.-ele diz se levantando e logo pousa a mão em minhas costas me guiando.-Aparentemente a garota está na cidade, talvez na casa de seus pais.

-Não, ela não iria se expor assim. Ainda mais com a polícia na cola do Chris por todo esse tempo.-comento caminhando lentamente ao lado de Jackson.

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