Capítulo 4 - Hormônios.

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Hormônios

 

Encarei minha tela em branco, falta algo nela, mas o quê? Encarei meu pincel, será que faltava mais cor?

— Uau, Marcela — senti Bia se aproximando, ela estava como eu, o uniforme do Grupo com um avental por cima, e em sua mão estava um potinho com água dentro. — Está muito bonito — elogiou meu desenho.

Era aula de artes e estávamos na sala de pintura, os alunos estavam todos separados sem ordem, tinha gente de frente, outros de lado, de costas, de todas as formas possíveis e imagináveis. 

A lição era simples, desenhar algo e pintar.

E como boa amante da arte, eu iria me dedicar muito. Arte era minha vida. E igual diz uma frase, a arte é para consolar aqueles que são quebrados pela vida e no mundo mais obscuro da minha vida, a arte me salvou.

— Falta algo... — murmurei intercalando meu olhar entre Bia e meu quadro.

Eu havia escolhido para desenhar um grupo de oitos pessoas que, em duplas, estariam dançando. Também apliquei a perspectiva no desenho com alguns casais mais próximo do observador e outros mais no fundo.

Enquadrei o local onde os oitos estariam dançando, um salão com um grande espelho no fundo (que acabou sendo inútil para mim, no final). Focando dos dançarinos, eu fiz questão dos quatros pares estarem em posições diferentes e tomei cuidado na hora de desenhar a dança, eu queria passar a impressão de movimento.

No desenho em si, eu estava satisfeita com o resultado. De fundo, eu passei tinta preta, azul escuro, roxo, azul e vermelho para fazer um efeito de nubloso, e apliquei o branco para estrelas. Claro, eu não deixei as linhas da local desaparecer.

O real problema surgiu quando fui pintar os dançarinos.

— Sim — concordou Bia. — Falta você pintar as pessoinhas.

— É isso... — resmungo igual uma criança e faço bico para ela.

— Okay, Mc Gowan, eu só vim pedir o vermelho de volta para terminar, humildemente, minha rosa — zombou pegando o vermelho perto de mim.

Não percebi quando ela saiu porque continuei encarando a tela e foi quando tive uma ideia.

O primeiro dançarino, pintei de vermelho e seu par de laranja mais escuro. O segundo par pintei, individualmente, laranja claro e amarelo. No terceiro par, um verde um pouco mais escuro e verde mais claro. O quarto e último par, eu queria pintar de azul e roxo, mas, ao terminar de pintar o penúltimo dançarino de azul, percebi que não tinha roxo.

Suspirei derrotada e me levantei para procurar com quem estava o balde de tinta roxa.

Encontrei ele do lado de um garoto de óculos, acho que seu nome era João. Caminhei em passos lentos e quando pedi emprestado, ele concordou numa boa. Levantei com um pouco de força o balde que tinha bem mais que metade ainda – diferente das outras cores –, caminhei até meu lugar até que senti algo na frente do pé e acabei tropeçando.

Jogando o balde longe.

Não foi nenhuma surpresa e, um pouco, diria clichê que logo a Gizelly existisse na frente e eu fiquei em choque quando vi  ela roxa.

Não de raiva.

Ou de falta de ar.

Mas roxa por causa da tinta.

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