capítulo 6 - Expressão.

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CAPÍTULO COM ALGUNS GATILHOS

P.S.: Logo no começo vai ter uma passagem no passado, para não ficar confuso deixarei as falas em itálico e os flashbacks da festa também.
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Expressão.

A menina se remexeu, sabia dessa parte da história, mas só sabia o básico. Excesso de álcool e drogas sempre foi algo presente da juventude de suas mães, sabia como as destruiu e sabia que uma delas ainda tomava remédio para algo por conta disso.

Foi nessa festa? — a criança perguntou incomodada.

— Não — respondeu em um fio de voz. — Foi no dia seguinte. Você sabe, sua vó Leide sempre foi... foi muito liberal, quando quis formar uma família–

— O caminho errado parece mais fácil do que lidar com a realidade — murmurou a menina.

A mulher mais velha assentiu.

— Exatamente — deu uma pausa. — Ou melhor, para fugir da realidade. A rejeição, principalmente interna, pode ser horrível.

— Foi quando...

A criança perdeu a voz, sua mãe sorriu, sabia que a filha tinha medo disso, do mesmo acontecer com ela, dela começar a ouvir vozes e ferrar sua cabeça igual a...

Empurrou esse pensamento para longe. Sua filha não iria ter que passar por isso, nunca.

— Sim, foi quando as vozes apareceram.

Acordei assustada, a música de alguma rádio era alta o suficiente e o aspirador de pó era ridiculamente insuportável, abri a porta do meu quarto dando de cara com minha mãe que tinha um sorriso enorme no rosto.

— Quem limpa a casa em um domingo?

Perguntei assim que parou para encarar, seu sorriso se desfez um pouco.

— Está fedendo a álcool — disse, revirei os olhos. — Eu não vi Bia ontem a noite.

— Vim com

 — parei, com quem tinha vindo mesmo?

— Com um moço muito bonito — informou.

Quem?

Não importava.

Entrei no meu quarto. Ele era pequeno em comparação ao do Grupo, mas era meu antigo lar. Lar.

Essa palavra parecia tão distante agora por causa de toda merda que me aconteceu.

Acho que minha vida realmente mudou quando fui para o oitavo B por conta da bolsa.

Eu odiava a escola e os Tops, Bia era uma menina estranha até então e, por passar a semana inteira no colégio, minha mãe começou a ter mais tempo para si mesma.

Porque sempre foi eu e ela, desde que me lembro, eu nunca perguntei sobre meu pai, nunca vi necessidade.

Não vivia em uma família ruim, mas não vivia numa família boa. Era um perfeito meio termo. Eu tinha uma vida comum. Eu era comum.

E eu não reclamava disso.

Eu era fofa Marcela, a garota inteligente o suficiente para ganhar uma bolsa integral no Grupo. Eu era fofa Marcela que, quando alguém maltratava, aguentava calada e sempre arrumava uma desculpa como justificativa para o ato dos demais quando simplesmente era óbvio: as pessoas são más.

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