Boa leitura!
— Como consegue olhar para ele sabendo que me abandou ainda sendo um bebê?
Maria virou lentamente sentindo o gosto amargo na boca e a olhou nos olhos, podia desfalecer novamente em sua frente, mas respirou fundo para se manter calma.
— Responde! — se controlou para não gritar e as mãos se apertaram.
— Eu... Eu não te devo explicação alguma! — foi virar para pegar o filho e ir embora dali, mas Mia a segurou pelo braço a fazendo voltar seu olhar para onde segurava e logo para seu olhar.
— Engano seu se pensa que vai sair daqui sem me dizer tudo o que quero saber! — aportou mais o braço dela a vendo se mexer para fugir. — Foi você quem se meteu em minha vida e agora eu exijo uma explicação!
Maria sentiu seu sangue ferver por ser apertada daquela maneira e mesmo que ficasse arranhada, ela puxou o braço dando um passo para trás tamanha a força que usou para se soltar e pode ver o quanto Mia estava alterada. Eram mais inimigas do que mãe e filha, mas como ser diferente depois do modo como finalmente se conheceram? Mia só queria a verdade para poder seguir em frente e Maria não estava disposta a abrir mais uma ferida com aquele passado monstruoso, não sentia nada por ela como gostava de afirmar mais não partiria seu coração daquela maneira.
Maria estava cuidando de seu bem estar e não queria sobre os ombros dela o peso que carregava durante todos aqueles anos sem poder superar ou estar ao lado de sua filha como as vezes pensava ser possível, era tão contraditório todos aqueles sentimentos dentro de si que muitas vezes não sabia como agir. Sempre esteve cuidando de longe para que ela pudesse ter um futuro, mas não pensava se revelar nunca para ela que era sua mãe e o destino agiu por conta própria as colocando frente a frente.
Mia tinha o mesmo gênio que Maria e estar ali cobrando uma resposta era exatamente o que faria se estivesse em seu lugar, mas ela não falaria uma palavra se quer para ela. Os segundos que ficaram presas uma no olhar da outra foi o suficiente para que Anthony voltasse até ela para beber água, estava suado de tanto correr e ofegava ao pegar sua garrafa de água.
Mia o olhou e Maria também destinou seu olhar a ele que bebia a água com vontade e suspirava a cada novo gole.
— Devagar meu amor!
Mia sentiu todo seu corpo tremer e seus olhos se encheram de lágrimas, era impossível não sentir que era a única rejeitada e sua vontade foi sair correndo dali, mas precisava de respostas ou não conseguiria viver em paz sabendo que tinha uma mãe e que ela não a quis.
— É sua amiga, mamãe? — olhava para Mia sorridente.
— Vai brincar! — não o responder.
— Conte a verdade para ele! — apertava as mãos sem controle.
Não era certo confundir uma criança, mas se assim conseguisse a verdade, não deixaria de aproveitar.
— Cale sua maldita boca! — rosnou com raiva.
Mia riu, mas por dentro se quebrava a cada segundo mais.
— Ou você me conta o que quero saber ou eu conto pra ele a verdade que...
— Seu amiguinho está chamando, filho! — a interrompeu trincando os dentes.
Anthony saiu correndo novamente para brincar e Maria a pegou pelo braço da mesma forma como ela havia feito minutos antes, a trouxe para bem perto de seu corpo e disse:
— Vai embora daqui ou eu não respondo por mim! — era uma clara ameaça.
— Eu não vou enquanto não souber a maldita verdade do porque me abandonou! — gritou. — Me diga como consegue ser mãe de outros filhos enquanto eu fui jogada num orfanato! — foi impossível não deixar que as lágrimas rolassem por seu rosto. — Como deita a noite pra dormir sabendo que eu existo e...
— Cala a boca! — gritou.
— Eu não vou me calar! — puxou o braço e logo segurou os dela. — Fala a verdade! Diz de uma vez por todas por que me negou o direito de crescer ao seu lado! — a balançava chorando. — por que?
Maria sentiu o peito pesar ao ver o desespero dela e Anthony veio chorando por ver o modo como a mãe era segurada, mas ela parecia num mundo totalmente aleatório e se quer escutava o choro do filho. Sua mente vagou no exato momento em que via seu corpo ser abusado e aquele homem asqueroso em cima de seu corpo com cara de satisfação pelo que sabia, fechou os olhos com força se soltando dos braços de Mia e chorou forte abraçando seu próprio corpo.
Mia sentia a rejeição tão forte que novamente a puxou, não iria desistir e depois de gritar mais uma vez sendo alvo de olhares Maria gritou com ela.
— Eu não consigo te ter por perto, eu não te queria e não te quero! — gritou fazendo Mia paralisar. — Toda vez que te olho, eu sinto em meu corpo aquela maldita noite em que fui abusada...
Era a pior verdade para se gritar ali no meio de uma praça e Mia deu um passo para trás se afastando, seu corpo doeu de tal forma que ela se curvou gritando por ouvir aquela verdade que tanto desejou desde que descobriu ser adotada, tinha tantas esperanças que naquele momento morriam com aquela revelação. Ela era fruto de um estupro e agora entendia o que via nos olhos de Maria, doeu mais do que ela pensou que pudesse doer saber da verdade e suas pernas falharam a fazendo se ajoelhar ainda de cabeça abaixada.
Maria também não sabia o que fazer ao mesmo tempo em que queria confortá-la, suas pernas não a obedeciam e ainda tinha o filho que estava ali chorando por toda a discussão. Não era assim que queria contar, ou melhor, nunca que iria contar se ela não a provocasse tanto, mas agora ela estava ali mais destruída do que um dia Maria esteve e isso lhe doeu muito. Anthony grudou em suas pernas a impedindo de dar um passo para frente e segundos depois os olhos de Mia pousaram nos de Maria que também chorava com toda a situação.
— Mia... — ergueu a mão para que ela se levantasse.
As mãos passaram no rosto e ela levantou seu corpo que quase não tinha a força necessária para mantê-la de pé, mas tinha que sair dali ou não sabia do que seria capaz. Olhavam-se com profundo desespero e unindo suas últimas forças Mia saiu correndo, ela não foi longe já que estava atordoada sem quase enxergar um palmo a sua frente a fazendo atravessar a rua sem olhar para os lados e um carro sem tempo de frear a encontrou e o corpo dela rolou longe pelo chão.
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A CONTRATADA - MyE
AventuraNo jogo e no amor não a regras!! Quando pensamos que estamos no controle é aqui que levamos um xeque-mate!!!