Capítulo 10

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Agachei e coloquei a mão na terra úmida. Eu e Carlisle tínhamos ido a floresta, após eu tomar meu segundo copo de café, como havia requisitado. Deixei a magia fluir entre meus dedos e adentrar a terra, cada vez mais fundo, até que eu sentisse um resquício de vida. Em algum lugar abaixo, um pequeno ponto pulsava, provavelmente alguma semente que não tinha brotado ou crescido o suficiente para apontar na superfície. Permiti que minha magia a envolvesse, impulsionando a vida que estava ali a crescer. Rapidamente, e confesso com uma pequena falta de controle minha, uma muda brotou na superfície, logo se tornando uma nova árvore quase do tamanho de Carlisle. Parei de estimulá-la antes que ficasse grande demais.

- Nossa! – O vampiro deu um paço para trás espantado.

Me levantei sorrindo e bati a mão coberta de terra na calça.

- A magia pode estimular a vida. – Indiquei a árvore – É um de seus vários aspectos.

- É incrível. – Ele ainda olhava a árvore assombrado - Quais outros ela pode ter? – Perguntou se virando para mim.

- Ela pode se ligar aos elementos, por exemplo. – Tirei a luva que estava no meu bolso, mas desisti de colocá-la quando vi que minha mão ainda estava imunda. – Eu, a propósito, tenho muita facilidade no controle do ar. – Guardei a luva novamente e ergui meu olhar, vendo-o me encarar admirado.

- É mesmo? Pode me mostrar?

Sorri e me concentrei na atmosfera ao nosso redor. Uma lufada forte de vento passou entre nós, bagunçando nossos cabelos.

- Isso foi você? – Seus olhos brilhavam de excitação.

- Sim. – Sorri.

- Isso é incrível! Quais outros aspectos existem? E vocês, elementais, como conseguem esconder isso? Como os vampiros nunca perceberam? – Ri da sua reação. Tinha sido muito melhor do que eu tinha imaginado. – Desculpe-me. Não quis ser invasivo.

- Não! Não é isso! – Coloquei a mão em seu braço – É que eu não imaginava que você fosse gostar tanto. Eu estou feliz. – Ri novamente – E quanto as suas perguntas... Como eu disse, são muitos aspectos. Existem aquelas que chamamos de "verbais", como curar e criar, e as "instrumentais", como as ligadas aos elementos, as sombras, a vida e a morte.

- Morte? – Perguntou.

- Sim. Ela também faz parte do equilíbrio.

- Ah. – A expressão dele foi tomada pela tristeza.

- Carlisle, vampiros também fazem parte desse equilíbrio... – Apertei seu braço e ele abriu um pequeno sorriso - A conjuntura de tudo isso... É complexo. Podemos ficar dias falando a respeito...

- Tudo bem. – Ele concordou – Por enquanto vamos nos limitar as minhas outras perguntas.

Afastei minha mão dele e olhei ao redor, procurando um lugar onde pudéssemos nos sentar. A melhor opção era um ronco de árvore caído coberto de musgo, que provavelmente sujaria bastante minha calça, mas não havia muito o que fazer quanto a isso. Caminhei até lá e me acomodei indicando o lugar ao meu lado. Carlisle se sentou perto de mim o suficiente para que eu sentisse seu cheiro adocicado e inebriante. Como em seu consultório, contive um suspiro.

- Nós não somos muitos. – Comecei – Creio que nossos números não chegam as quatro casas... Talvez algo perto disso. – Entrelacei as mãos em um gesto nervoso – Nós somos imperceptíveis à outras espécies porque conseguimos nos misturar bem com os humanos e... – Mordi os lábios nervosa. Contar aquilo era dar um voto de confiança no escuro, mas toda vez que eu olhava para Carlisle... – Nós mantemos nossa... fortaleza, por assim dizer... escondida aos olhos dos outros.

- Com magia, eu suponho.

- Sim. – Assenti – E quanto aos vampiros... Como eu disse antes, conheci alguns. Mas eles não sabiam o que eu era. Nós observamos de longe. Não costumamos manter contato.

- Como estamos fazendo agora. – Falou.

- Como estamos fazendo agora. – Concordei.

- Então, por quê? Por que está me contando tudo isso? – Carlisle indagou, se inclinando levemente em minha direção.

- Eu prometi que contaria se me explicasse sobre você.

- Mas... – Ele balançou a cabeça confuso – Seu segredo é muito maior do que o meu. Você poderia ter se esquivado ou até mesmo mentido...

Fitei seus olhos dourados antes de responder.

- Eu queria te contar, Carlisle. Antes de saber melhor sobre você, confesso que os meus motivos para revelar a verdade eram outros. Mas... Quando conversamos... Eu... – Mordi o lábio inferior nervosa – Eu precisava te contar.

- Fico feliz que o tenha feito. – Carlisle colocou sua mão sobre a minha, que mexia nervosamente nos fios soltos da calça. Dessa vez, envolvi meus dedos nos dele, impedido que ele a afastasse.

- Tem outra coisa que preciso te dizer... – Desviei o olhar para a floresta antes de voltar a encará-lo - Inicialmente eu te contaria por que, bem, eu sou antropóloga. Minha pesquisa atual é na reserva de La Push.

- Eu sei. – Confessou com um pouco de timidez – Eu... Hmmm... Investiguei um pouco...

Ri de sua revelação.

- Bom, então você sabe por que eu teria que me revelar de uma forma ou de outra.

- Por causa do tratado. – Concluiu.

- Sim. Se você achasse que os quileutes tinham quebrado o acordo... – Suspirei – Eu não poderia deixar que acreditasse nisso.

- Você é uma boa pessoa, Catarina. - Carlisle apertou levemente a minha mão e eu voltei meus olhos para nossos dedos entrelaçados.

- Pode me chamar de Cat. – Disse.

- Cat. – Saboreou meu apelido em sua boca. – Podemos... Confiar um no outro, então? - Indagou.

Sorri com a sua pergunta. Confiar. Naquele momento, sentada ali, de mãos dadas com ele no meio da floresta, aceitei para mim mesma que eu queria muito mais do que só confiar em Carlise. Mas aquilo teria que bastar, por enquanto.

- Sim. Podemos confiar um no outro.

***

Eu estava exausta. Havia passado boa parte do dia com Carlisle e quando finalmente cheguei em casa já haviam se passado das três horas da tarde. Esquentei o resto do jantar do dia anterior no micro-ondas para o almoço e em seguida tomei um longo banho quente. Eu provavelmente dormiria até o dia seguinte se Paul não tivesse me ligado.

- Precisamos de você aqui. – Disse afobado.

- O que foi? Realmente, eu queria tanto tirar um...

- O Cameron se transformou. – Me cortou.

- Ah, pelos deuses! – Reclamei – Estou aí em 15 minutos.

Não esperei pela resposta. Joguei o celular na cama e tirei meu moletom, o trocando por uma calça jeans e agradecendo mentalmente por já ter tomado banho. Eu não teria tempo para um agora e a última coisa que eu precisava era chegar fedendo a vampiro na reserva, logo quando a matilha havia acabado de aumentar.

Ia ser um longo dia e aparentemente eu não conseguiria descansar tão cedo.

Eternidade - Carlisle CullenOnde histórias criam vida. Descubra agora