Capítulo 18

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- Pronto. – Jacob se afastou do motor do carro, passando as mãos sujas de graxa na flanela que um dia havia sido branca.

- Tudo certo? – Perguntei com os olhos no capô.

- Aham. Não era nada demais. Sabe, as vezes é bom trocar o óleo. – Disse e percebi que segurava o riso – Cuidar do carro é mais que só por gasolina.

- Se eu fizesse as coisas direito, para que precisaria de você? – Falei rindo – Ok, garoto. Não vou te abraçar porque você está realmente nojento, quando ficou?

Ele balançou a mão e me deu as costas, voltando para a bancada lotada de instrumentos da garagem.

- Jake, se você não me disser, vou dar o dinheiro para o seu pai.

Eu sabia que ele havia revirado os olhos antes de se voltar para mim novamente.

- Esse é o pagamento pelas peças que me deu daquela vez, pode ser?

Mordi o interior da bochecha e estreitei meus olhos para ele.

- Qual o problema de eu te pagar?

- Nenhum. – Ele começou a dizer, sendo interrompido por um "Jake" dito em tom de aviso por mim. – Ok, ok. – Ele bufou – Não quero que você pense que eu estou fazendo isso pelo dinheiro. – A confusão ficou estampada em meu rosto e o Black desviou o olhar antes de continuar – Estou fazendo isso porque você é minha amiga. Apesar de você não aparecer aqui mais. – Sussurrou a última parte.

- Ei, claro que sou sua amiga. – Me aproximei dele, tentando olhar em seus olhos – Só estou ocupada.

- Com Sam e a gangue dele. – A amargura pingava de suas palavras.

- Não é uma gangue, Jake. – Ele revirou os olhos e bufou outra vez – Ele é meu amigo também.

- Eu fui seu amigo primeiro! – Falou com raiva, fechando as mãos em punho.

Olhei para o menino na minha frente, irritado com meu afastamento. Sim, eu estava errada. Não era só o meu trabalho que eu havia deixado de lado, ele também tinha sido removido da minha lista de prioridades. A única pessoa que de fato me enxergava na reserva no início, além dos anciões. O adolescente que me seguia para cima e pra baixo enquanto eu fazia entrevistas e juntava documentos, não importando quão chato aquilo fosse. Fechei os olhos e respirei fundo.

- Me desculpe, Jacob. – Fitei seu rosto antes de continuar – Adultos podem falhar também, e eu falhei com você. Prometo aparecer mais. Podemos chamar Embry e Quil e eu levo vocês ao cinema e depois saímos pra comer, pode ser?

- Tudo bem. – Ele murmurou ainda fitando os pés.

- Mas Jake... Eu preciso que você entenda uma coisa. – Apertei os lábios antes de continuar, pensando em como dizer aquilo da melhor forma sem magoa-lo – Eu sou dez anos mais velha que você. Eu preciso de amigos da minha idade também. Como o Sam. – Seus olhos se voltaram para os meus, magoados – Tudo bem você não gostar dele, é um direito seu. Mas não fique com raiva por ele ser meu amigo. Deixe-me te contar um segredo: homens possessivos são os piores. – Falei sorrindo.

O rubor tomou conta de seu rosto e ele engoliu em seco:

- Desculpa.

- Está tudo bem. – Segurei sua mão e a apertei levemente, tentando reconfortá-lo – Você é novo. Ainda tem muito que aprender, jovem Padawan. – Ele me deu a língua e eu bati em sua mão – Ei, mais respeito! Sou a adulta aqui! – Ri.

- Ah é? Eu vou desconsertar seu carro então. – Arqueou as sobrancelhas em desafio.

- Não se atreva! – Apontei o dedo para ele.

- Tente me impedir, velha senhora. – Ele praticamente gritou antes de sair correndo.

- Você me chamou de que?! – Questionei indignada antes de sair atrás dele.

***

A televisão estava ligada passando algum jogo de baseball importante, mas eu estava concentrada em meu celular, tentando terminar aquele sudoku.

- É um 9 aí. – Carlisle disse sem desviar os olhos da tv.

Bati em seu braço indignada.

- Já falei para não me dizer a resposta! Não tem graça nenhuma jogar com você. – Ergui a cabeça de seu peito tentando fuzilá-lo.

Estávamos deitados confortavelmente no meu sofá, de baixo das cobertas (pelo menos eu estava). Carlisle sorriu de lado, seus olhos dourados encontrando os meus apenas por um breve segundo.

- Você estava travada nesse há 17 minutos.

- Não importa. Você está terminantemente proibido de me ajudar. – Respondi emburrada.

- Ok, sem mais ajuda. – Beijou o topo da minha cabeça – Prometo.

- Acho bom você manter essa promessa. – Suspirei me inebriando com seu cheiro e encaixando nele novamente, antes de voltar para o celular. Meio revoltada, coloquei o 9 onde ele tinha dito.

- Cat. – Ouvi sua voz me chamar instantes depois.

- Sim? – Resmunguei ainda concentrada.

- Quais seus planos para a Ação de Graças?

- Pedir pizza? – Franzi as sobrancelhas em confusão. A maioria daqueles feriados não tinha nenhuma importância para mim e não era como se eu estivesse na lista de convidados de muitas pessoas.

- O que você acha de passar com minha família?

Me desencostei dele novamente, apoiando-me no braço para poder olhá-lo. Carlisle ainda usava as roupas brancas do hospital, o cabelo cuidadosamente arrumado e tinha os olhos cravados em mim.

- Finalmente conhecer seus filhos? – Perguntei receosa. Eu estava fugindo daquele encontro havia semanas. Por mais que ele houvesse me acalmado dizendo que eles já gostavam de mim, eu tinha medo. Mesmo em circunstâncias mais normais conhecer os cinco filhos adolescentes do namorado não era uma coisa fácil. E somando o fator vampiro, as coisas poderiam ser ainda piores.

Carlisle assentiu levando a mão a minha bochecha.

- Prometo fazer um maravilhoso jantar de Ação de Graças. – Disse suavemente.

- Seis vampiros me vendo comer? – Ri e ele me acompanhou.

- Algo assim.

Respirei fundo antes de responder. Não havia mais como adiar aquilo.

- Sim. Eu vou. – Segurei sua mão na minha – Mas espero que essa comida esteja realmente boa.  

Eternidade - Carlisle CullenOnde histórias criam vida. Descubra agora