Prólogo

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Dizem que a morte é uma caminhada pacífica e libertadora por um túnel de luz, por onde a alma vai se livrando misteriosamente das suas máculas. Fala-se em paz divina e incondicional.

Por outro lado, algumas pessoas, as menos sortudas, são obrigadas a engolir um açodado e nem sempre agradável resumo de suas vidas, como um filme que passa diante dos olhos, uma explosão de imagens e sensações cujo único objetivo é lhes jogar na cara, pela última vez, suas vidas miseráveis. Talvez uma espécie de relatório bem colorido e agitado que também se passa pelos olhos do Juiz Divino, antes do veredicto final.

"Dizem"... Dizem as pessoas que experimentaram a corda bamba, o meio termo. E Abbe está decepcionada em descobrir que tudo é uma grande mentira. A morte é um vácuo simples e puro, assim como sua mente. Seu corpo é uma matéria oca. Sua vida é um passo em branco. Um branco gelado como as paredes do corredor da mansão Aspen.

Ela nunca pensou sobre a morte. Mas vinha refletindo sobre ela, de uns meses para cá, como um presságio do projétil quente que acabou de atravessar seu corpo.

De repente, vira os olhos para o chão e percebe um filete de sangue fundindo-se com o seu. E depois de quase meio minuto divagando no profundo vazio, sente uma pontada no peito. Engole em seco. Por alguma razão, teme que o homem atrás de si esteja vagando pelo túnel também. O homem que a abraça por trás, por cima do estômago. O projétil o atingiu também. Abbe torce, com absolutamente todas as forças que lhe restam, que um dia ele se transforme numa das pessoas que "dizem", nas que dizem que experimentaram a corda bamba e que, por um sopro de sorte, tiveram seus corações batendo no peito de novo.

_ Abaixem as armas e se afastem!  _ Ares, o segurança dos sequestradores, volta a ordenar, a uns dez passos de distância, aproximando-se, cautelosamente, com a arma levantada.

A voz maciça do homem traz a moça à realidade. E a maldita realidade faz o ar assoviar por sua garganta, como a reação a um banho de água fria.

_ Fomos atingidos _ Abbe sussurra ao Aspen, o homem cujas mãos estão laçadas sobre seu estômago _ Acho que nós...

_ Não se mexa, Abbe _ O homem cicia, com o queixo enfiado em sua clavícula.

Ele mal acaba de falar e seus braços se afrouxam do corpo dela. Então ela sente mais claramente a vida dele escorrendo em suas costas. O sangue dele também está sob seus pés, e depois sob seus joelhos dobrados.

Abbe não se importa de morrer. Definitivamente não. Desde que a última imagem em sua mente não seja a do rosto do homem surgindo por trás dos ombros do segurança: o irmão do homem que a abraçava há segundos. Um dos seus sequestradores. O diabo. Talvez um prenúncio de que o inferno a espera do outro lado do túnel.



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Seja bem vindooo!!!❤❤❤

Se gosta de charadas e romances de fritar o estômago,  então está na obra certa! 🤩 

Vide avisos de possíveis gatilhos na Sinopse 🚨🚨🚨🚨🚨🚨

Não se esqueça de deixar seu votinho para alegrar o autor 🥰🙏🥰🙏🥰🙏

Ah, os primeiros capítulos são bem descritivos, mas cada detalhe é em algum nível relevante para o deslinde da trama. Então nem pense em desistir antes do 5º capítulo, no mínimo, ok?


Bora lá?




Canção para o Anjo I (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora