CAPÍTULO 13

572 124 33
                                    


Dez minutos depois, o Uber estacionou na frente de um prédio bem iluminado, de 20 andares.

_Chegamos _ Gustav cochichou no ouvido dela, desamarrando o cinto, depois encaixando-a nos braços.

O percurso entre a entrada do hotel e o quarto era uma caótica mescla de imagens na cabeça de Abbe. Deu-se conta apenas de, a certa altura, no elevador, sentir as mãos de Gustav ajeitar seus cabelos atrás das orelhas, quando sua cabeça estava caída em seus ombros. Sentia fortemente o cheiro do perfume dele. E isso a enjoava ainda mais.

Ele a sentou no chão, ao lado da porta do quarto, enquanto procurava o cartão magnético no bolso.

Mal abriu a porta e Abbe vomitou sobre o próprio colo.

_ Oh. O vestido _ Ela lamentou, num reflexo de lucidez, a voz líquida.

Gustav entrou no quarto. Pegou uma toalha. Amarrou-a em torno da silhueta dela. Carregou-a até o banheiro. Desceu-a cuidadosamente no chão, ao lado da banheira. 

_ É. Pelo jeito tenho que enfiar uma glicose em você _ Ele disse, contatando alguém no celular, certamente para um amigo enfermeiro ou farmacêutico. _ Sorte sua que tenho meus contatos.

Ele respirou fundo quando terminou de digitar. Tirou o paletó e pendurou-o no cabideiro, atrás da porta. Arregaçou as mangas da camisa. Sentou Abbe sobre o vaso. O pescoço mole dela lançou a cabeça em seu abdômen. Rosnava alguma coisa, mais dormindo do que acordada.

Respirou. A cabeça caindo para trás por um instante. Certamente calculava uma forma de despi-la. 

_ Eu mereço! Eu sei! _ Arquejou.

Desabotoou com dificuldade o vestido dela. O corpo dela era uma gelatina, desmontando em suas mãos. Rosnou. Tentou de novo, segurando-a com mais firmeza contra os próprias pernas.

Quando finalmente abriu o vestido, depois de levar uma surra humilhante dos botões minúsculos, desceu as alças pelo ombro. A pele rosada foi alvejada pela luz branca e intensa da  lâmpada acima, descendo uma curiosa bola de saliva dentro do seu pescoço. Uma ponta do seu polegar roçou no ombro dela sem querer. A torção súbita na rosto era como auto advertência. Tentou não olhar diretamente. Mas era como trilhar um labirinto de espinhos no escuro.

Depois de despi-la, ainda se acautelando de qualquer invasão visual, levou-a no colo até a banheira. Ligou a água. Regulou a temperatura para morna, mirando o jato na nuca dela.

Em seguida, sentou-se no chão do banheiro, ao lado da porta, deixando escapar uma dolorida soada de exaustão. Esfregou fortemente as duas mãos sobre o rosto. Tirou a gravata e desabotoou os primeiros  botões da camisa. 

O vapor crescia em torno do corpo dela e ameaçava expandir para o resto do banheiro. O que  certamente contribuiu para as batidas dos sapatos de Gustav no chão. 

Novamente arfou. Acendeu um cigarro. Conferiu a mensagem no celular assim que chegou. Digitou duas ou três palavras. Sua cabeça caiu para trás imediatamente em seguida, os olhos cerrados.

Um sinal de  suor  marcou sua testa. Envolveu os braços nos joelhos dobrados. Batia a cabeça neles, como se estivesse lutando contra algum tipo de pensamento. 

 Minutos depois, levantou-se num salto quando recebeu mais uma mensagem no celular. Digitou de volta. Depois na direção da moça. Pousou a mão sobre o registro, puxou-o lentamente para baixo. Sentiu o pulso dela. Parecia tudo bem. Alcançou uma das toalhas perfeitamente dobradas ao lado da banheira. Enrolou-a no corpo dela, a cabeça virada para o lado oposto. Levou-a até a cama. Ajeitou os travesseiros atrás do pescoço dela. Removeu cuidadosamente a toalha dela, costurando os lábios por dentro. Vestiu-a com o roupão, o rosto deformado, vermelho. Embalou o cabelo molhado numa toalha seca. Cobriu-a com o edredon até os ombros. Regulou o aquecedor para 28 graus.

Canção para o Anjo I (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora