CAPÍTULO 5

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A biblioteca está vazia. Me chame assim que estiver pronta. Não se esqueça de tomar o suco que deixei à mesa. Holly

Assim que se levantou, Abbe viu o bilhete embaixo da jardineira branca, dobrada aos pés da cama.

Em seguida, viu o copo de suco suando em cima da mesa de canto, ao lado da poltrona. Podia sentir o cheiro de maçã de longe, e isso definitivamente lhe tirava ainda mais o apetite. Virou o líquido espesso na pia do banheiro.

_ Passeio na biblioteca? _ Ela refletiu, balançando a cabeça, abrindo a torneira, deixando a água empurrar o líquido ralo a baixo.

A ideia de ficar vagando pela casa lhe soava estupidamente incoerente. Mais um coisa. Apenas mais uma.

Vestiu-se. Abriu uma fresta da janela. O sol bateu em seus olhos, e ela rapidamente se lembrou do pesadelo estranho do início da noite passada. Há muito tempo não sonhava tão vividamente com a assustadora sombra humana de asas grandes na parede, tipo um anjo. Era assim que ela surgia, desde a infância. Sempre na parede, em frente à cama, como uma pintura cor chumbo. A coisa não se movia, mas pulsava, de algum modo, nas células da alvenaria. Sua presença era fria e estupidamente real.

De repente, pegou-se olhando exatamente no ponto da parede onde a sombra se estampara, em seu sonho, sentindo-se arrepiar diante na perfeito com que ela se harmonizava com os móveis do quarto, com os quadros, com os lençóis...

Abbe agitou a cabeça, tentando expulsar a imagem da cabeça, o que conseguiu depois de algum esforço. Mas no seu lugar, ascendeu um fantasma ainda mais espantoso: o sequestro.

Ora, por que perder tempo com um pesadelo idiota quando tinha coisas tão mais importantes para pensar? Precisava de um plano. 

 Segundos depois,  o esforço mental a estimulou percorrer de um lado para o outro no quarto.

O sequestro não tinha o propósito de resgate por dinheiro. Essa era única coisa de que tinha certeza absoluta. E foi a premissa com base na qual construíra algumas de suas teorias. Precisava delas para começar a maquinar um plano de fuga.

O elemento que mais dificultava a eleição de uma teoria vencedora era a preocupação insana dos sequestradores com sua saúde. Eram ainda mais obsessivos e sufocantes nessa esfera do que a própria Srª Gebitte.

Eles sabiam da sua doença. Certamente sabiam muito mais coisas sobre ela.  Gustav já sabia quem era seu pai. Talvez os sequestradores todos o conhecessem. Talvez soubessem que ele tinha uma filha esquizofrênica. Talvez estivessem interessados em seu quadro clínico, embora não fosse raro. Não era nada raro, na verdade. Mas então por que uma família rica de médicos cometeria um crime tão grave contra a filha de um homem tão importante como Roger?

Pelo que ouvira de Holly, os sequestradores tinham uma vida social agitada. Tinham muito a perder, evidentemente.

Mas por que demonstravam tanta preocupação em manter a sanidade de um refém? Por que tanto cuidado com sua alimentação se era simplesmente o produto de um ato de ódio,  de uma experimentação médica, ou sabe-se lá o quê? 

Diziam que os comprimidos eram vitaminas, remédios para conter as alucinações e alguns tipos de ansiolíticos. O estranho é que havia uma parte de verdade nisso, pelo menos em relação aos últimos tipos. Os efeitos eram bem semelhantes aos dos remédios antigos. Não tivera crises significativas nos últimos dias. Parecia bem nesse aspecto. Mas também... não andava havendo espaço na sua cabeça para elas. Definitivamente não. Usava toda sua energia para mastigar o maldito sequestro.

Canção para o Anjo I (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora