Quando Richard notou a presença de Abbe no quarto, ofereceu-lhe um olhar sem muita expressão. Descruzou as pernas, erguendo-se calmamente da poltrona.
Abbe parou onde estava. A conversa entre ele e Jared rebobinou-se instantaneamente em sua memória, borbulhando como lava em seu estômago, calando completamente seus sentidos.
O vento socava os vidros quadriculados da janela, levemente soltos da moldura de metal.
Os ombros dela se contraíram, envolvidos pelos próprios braços, quando se lembrou de que estava nua embaixo do roupão. Era isso e o frio afiado atravessando a fresta da janela.
_ Está com frio? _ Ele perguntou, unindo as sobrancelhas. _ Devo reforçar a chama na lareira?
Ela não respondeu. Seus olhos estavam arregalados para ele, as narinas abertas.
_ Oh, céus! Onde está meu juízo? _ Ele disse em negação com a cabeça. _ Olha só essa geada toda. Desculpe-me, por favor _ Ele foi até a janela. Fechou-a completamente. _ É que não suporto janelas fechadas. Então tomei a liberdade de abri-la quando entrei aqui.
Ele ajeitou a almofada no encosto da poltrona. Fez um gesto para que ela se sentasse. Em seguida, Holly apareceu no quarto.
_ Preciso me vestir. Por favor, me ajude com isso, Holly _ Abbe murmurou, meio ordenando.
Ele imediatamente sinalizou com o rosto para que Holly saísse do quarto.
Abbe estranhou a súbita mudança de expressão no rosto de mulher, que parecia surpresa e um pouco preocupada com o pedido dele.
Mas segundos depois, ela sorriu suavemente para Abbe, acarinhou sua cabeça.
_ Vou preparar um caldo bem quentinho para você enquanto o meu Richard a examina, ok? Ele é médico. Não se sinta envergonhada. Vou ficar por aqui, no andar de baixo _ Holly disse, meio cochichando perto do rosto dela. Tomou distância em seguida.
Quando ela fechou a porta, Abbe engoliu uma bola de espinhos.
A atmosfera sobre a face dura dele estava especialmente confusa naquele instante. O silêncio era uma verdade tortura.
Que ele dissesse de uma vez, que dissesse o que queria, que dissesse as consequências ou seja lá o que fosse... Ou ela mesmo poderia exigir. Exigir que as explicações fossem dadas. E se tivesse que viver um suplício por isso, mais um, que fosse ao menos um que doesse apenas a carne. Ou então, talvez pudesse simplesmente...
_ A Srª Folly me chamou para examiná-la _ Então ele rompeu os pensamentos dela, insistindo para que ela se sentasse.
_ Estou bem _ Mentiu.
Ele moveu a cabeça em silêncio, assentindo vagamente para o que ela dissera.
_ Então... em quem devo acreditar? _ Ele perguntou, aproximando-se dela, com um fina e quase invisível demão de ironia no rosto.
_ Em mim. Claro. O corpo é meu.
Ele riu pelo nariz.
_ Sim, Abbe... o corpo é seu, mas o interesse na integridade dele é especificamente meu. Então...nesse sentido... é realmente muito importante para mim que você não tenha uma infecção generalizada.
Tornou estender a mão para ela, encarando-a, de repente, sob um misto de ternura e ameaça.
Abbe arfou, revirando os olhos. Entregou a mão para ele, que a levou até a poltrona, respeitando seus passos mancos. Ela se sentou com a coluna ereta, empenhando-se para não expressar a dor no rosto.
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Canção para o Anjo I (COMPLETO)
RomanceO intercâmbio na Inglaterra era para ser um ensaio de liberdade para Abbe, uma jovem de 21 anos, que vivia sob a sombra da psicose desde a infância. Ela tinha uma forte expectativa de que fosse o primeiro passo rumo a uma vida normal. Mas alguns di...