CAPÍTULO 10

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Naquela manhã de sábado, Holly apresentou a Abbe uma lista de ingredientes brasileiros, perguntando de quais gostava mais.

De certo modo, Abbe já estava esperando que aquele dia chegasse. Mas não pensava que fosse tão ridiculamente cerimonioso. O vestido sugerido por Holly era o tipo colarinho alto, longo até os joelhos, um tecido em tons de cinza e vermelho, estilo manta. Hiperbólico demais para o que prometia ser um simples jantar de apresentação. Mais uma insanidade das circunstâncias. E de novo, ela não sabia reagir.

Mais tarde, exatamente às 20h, Holly surgiu no quarto para ajudar a moça a se arrumar: escovou seus cabelos, trançou-os de lado, maquiou seu rosto com uma camada fina e discreta de pó e blush.

_ É uma outra pessoa _ Holly a elogiou, meio sarcástica, abotoando a fileira de pequenos botões em suas costas, admirando o rosto dela pelo espelho da penteadeira.  

Às 21h em ponto, dirigiram-se à sala de jantar. As mãos de Abbe suavam, os pés balançavam sobre os pequenos saltos, como se estes fossem molas.

Richard e Gustav estavam sentados à mesa, de frente para a porta, ao lado de uma mulher de quarenta e poucos anos: cabelos pretos de corte chanel e rosto cheio. Usava um batom vermelho vivo. Ria e dava tapinhas no ombro de Gustav, como se lhe tivesse narrando algo engraçado.

Havia umas onze pessoas ao redor da longa mesa de mineral branco. A maioria adultos, ao que parecia, vestidos para um jantar de negócios.

A moça arrastou a scarpin preto pelo piso aquecido. Parou por um segundo antes de pisar o tapete, que embasava a mesa e as cadeiras, temendo seriamente que seus saltos se enroscassem nas fibras.

_ Por favor, Abbe, sente-se à ponta da mesa, à sua direita _ Holly cochichou em seu ouvido, abrindo caminho para que ela passasse, indo, depois, atrás dela.

Abbe percorreu rapidamente os olhos nos rostos deles quando chegou à cadeira, o rosto vermelho e petrificado, o corpo mais pesado do que o a própria estranheza da situação.

_ Abbe  _ O velho de óculos cantou, levantando-se do outro lado da mesa, ajeitando a camisa vermelha com as mãos, indo com seus passos curtos e animados para ela.

Ele puxou cadeira para que ela se sentasse, como se fosse alguém importante. 

 Por causa do profundo nervosismo, ela não conseguia enxergar o rosto das pessoas à frente.

_ Por favor, não fique nervosa _ Ele cochichou amorosamente em seu ouvido. _ Somos todos família aqui.

Mesmo com os músculos do corpo se encolhendo, ela conseguiu se sentar graciosamente sobre o assento estofado.

O velho manteve-se ao lado dela. Trouxe a cadeira vazia para mais próxima tronco, mas continuou em pé. Começou a falar.

_ Querida família. Deem boas vindas à nossa preciosa Abbe.

Eles a cumprimentaram com seus sorrisos alegres e acolhedores. Gustav, por usa vez, permaneceu relaxado na cadeira, apoiando a cabeça nas costas da mão, o cotovelo apoiado em cima da mesa. Olhava para a moça com a testa levemente pregueada, o rosto imobilizado numa expressão que deixava bem clara sua opinião sobre aquela recepção. Ela podia ouvir mentalmente a voz dele: Viu? Eu não estava exagerando! Prepara-se para um porre!

O velho encolheu os ombros e esfregou as mãos. Prosseguiu.

_ E antes do nosso momento da degustação, para o qual estou bem ansioso, gostaria de apresentar-lhes a nossa menina. O grande primeiro passo do nosso objetivo de acolhimento. Não pretendo medir esforços para que ela se sinta abraçada por nós.

Canção para o Anjo I (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora