Duas horas se passaram. Brinie e Cadence já ameaçavam subir no palco, dançando abraçadas uma na outra, segurando suas canecas do chope. Só Gustav e Luca ainda estavam à mesa. Nicole desaparecera junto com os outros caras.
Luca estava bêbado. Pegara no sono. Minutos atrás, ele encarava Abbe com a cabeça deitada nos braços cruzados sobre a mesa, sorrindo como se estivesse recebendo uma massagem relaxante nas costas.
Os copos de tequila já estavam vazios. Luca certamente dormiria mais algumas horas até conseguir se levantar sozinho.
_ Acho que ele gostou de você _ Gustav brincou, apontando o nariz para Luca, segurando o próprio queixo. _ Não tirava os olhos dos seus cachos.
_ Acha que é inveja? _ Abbe cutucou.
_ Impossível.
_ Aí, não acha estranho ficar reparando seu amigo, enquanto está com sua namorada ao seu lado?
Ele riu, mas com uma discreta nuance de embaraço.
_ Ela não é minha namorada.
_ Ora, não tem por que guardar segredo de mim. É como esconder um segredo do seu maior segredo.
_ Acha mesmo que ela faz meu tipo?
_ Ela é bonita.
_ Sim. Ela é.
O tom dele parecia uma queixa, como se não estivesse feliz com o assunto. Por pouco não revirou os olhos.
_ E isso não é um motivo profundo suficiente para um homem? _ Ela perguntou.
Gustav riu pelo nariz, os dedos longos e brancos roçando no centro da cabelo, ouriçando os cabelos. Havia um quê de irritação e cansaço no jeito que seu peito se movia. E pela primeira vez, a covinha em sua bochecha atraiu a atenção da moça de um jeito bem perigoso.
_ Profundo? Sim. Suficiente? Não. Não para mim.
Seus olhos grandes e pretos se ergueram para Abbe por um instante, enquanto ele espetava um pedaço de queijo e levava à boca.
_ Bem. Agora, já deu nossa hora _ Ele disse segundos depois, mastigando, conferindo a hora no celular.
Pediu a conta. A garçonete imediatamente começou a caminhar em sua direção.
_ Não vai se despedir dos seus amigos? _ Ela apontou para Cadence, cambaleando ao lado de Brinie.
_ Você é bem lerdinha, não é?
_ Tá, mas... e a Nicole? Não vem conosco?
_ Não.
_ Por que?
_ Porque quero puni-la _ Ele declarou, enquanto passava o cartão no leitor.
Depois agradecer a garçonete com um sorriso plástico, ele se levantou. Abbe fez o mesmo. Seguiu-o. O lugar já estava esvaziando.
_ Ei, por que não joga a real para a Cadence?
Ela tornou a perguntar, enquanto atravessavam para fora do prédio. Gustav estava uns passos à sua frente.
_ Ela já sabe o que eu quero.
As meninas tinham razão: Gustav era narcisista demais para gostar de alguém. Ela refletiu. O incômodo da ideia a pegou de surpresa.
_ Temos uma designação perfeita para homens como você no Brasil.
_ Homens com eu? Tá. E como é?
_ Canalha _ Abbe disse em português.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Canção para o Anjo I (COMPLETO)
RomanceO intercâmbio na Inglaterra era para ser um ensaio de liberdade para Abbe, uma jovem de 21 anos, que vivia sob a sombra da psicose desde a infância. Ela tinha uma forte expectativa de que fosse o primeiro passo rumo a uma vida normal. Mas alguns di...