_ Forte como o sol. Forte como o céu inteiro. Eu abro os olhos e vejo a luz entrando no celeiro... A luz sai dos meus olhos, eu canto com um bom astral, a noite ainda está longe, e nada vai me fazer mal...
_ Afaste-se de mim, Abbe! Afaste-se!
_ Tire-me daqui, Gustav! Por favor... Gustav, por favor!
Abbe acordou já se sentando na cama.
Por sorte, Holly não estava lá. Sentia que conversara bastante durando o sonho, já que sua garganta estava mais seca que o normal.
A bandeja com o lanche da manhã ainda não estava à mesa. Certamente Holly perdera a hora, já que fora dormir bem tarde. A banda parou de tocar um pouco mais de 2 horas da manhã. Abbe ficara plantada na festa, plantada como um repolho, contando os segundos para que a merda toda acabasse, enquanto Holly dava umas instruções de limpeza à equipe do bufê.
Abbe nunca dormiu tão pouco na vida. Três hora e meia. E não. Não era suficiente.
Cambaleou até o banheiro. Estava com a bexiga cheia, tão cheia que podia senti-la em sua máxima dilatação. Mas se esqueceu disso por um momento, quando passou pelo espelho, no meio do caminho. Deu um passo para trás. Parou rapidamente para ver os olhos pintados de maquiagem, os lábios ressecados por causa do batom de efeito mate. Os cabelos, apesar de bagunçados, ainda estavam completamente lisos por causa da escova. Ao enfiar os dedos nos fios, o cheiro de Gustav subiu para seu nariz. Estava nos seus pulsos, no pescoço, um pouco no rosto. Não podia impedir o constrangimento voltando a embaralhar sua consciência, ruborizando um pouco mais a sua cara de pau. Nunca se sentiu tão envergonhada.
_ Que grande humilhação, hein Branne! _ Ela se censurou, desejando chorar, imaginando que se encarasse bem de perto sua imagem humilhada e miserável, talvez se inspirasse a reagir. Precisava de uma nova ideia. Algo novo e genial.
Gustav foi para o ralo. Não era tão manipulável como julgou. Deveria descartá-lo de uma vez por todas!
Abriu a janela assim que voltou ao quarto. Sentiu o cheiro da festa vindo lá de fora. Também ouviu alguns movimentos no salão da piscina, possivelmente a equipe da limpeza.
Decidiu fazer uma caminhada no jardim. Notou que havia apenas um segurança naquela manhã, que parecia estar dormindo em pé. Mas um rosto novo.
Ela passou os olhos nas janelas da casa. Já sabia que boa parte dos quartos ficavam daquele lado. As cortinas ainda estavam fechadas. Os Aspen certamente dormiam. E de repente, idealizou todas aquelas pessoas sedadas, levadas ao coma em seus quartos, inclusive os empregados e os seguranças. Todos. Todos eles.
Não era a primeira vez que pensava em envenená-los. Mas com certeza era a primeira vez que estava realmente determinada a isso. Esteve obcecada nos minutos seguintes, diante da sensação insistente de que não havia outra alternativa... Não havia... Não enxergava mais nada... Então o armário de remédios da "enfermaria" lhe veio à cabeça. Lembrava-se vagamente de ter visto caixas de remédios, seringas e ampolas lá dentro, apenas um discreto pedaço da memória da noite horrível em que esteve lá, com Richard.
Reingressou à casa decidida a acessar esse armário. Andou na ponta dos dedos rumo à sala que chamavam de enfermaria. Não tinha ideia se a encontraria aberta. Na verdade, nunca tentara entrar no lugar. Mas precisava arriscar, pegar o máximo de drogas que tivesse lá dentro. Depois disso, poderia pensar numa forma eficiente de usá-las a seu favor.
Estava maquinando quando se deparou com o som de Jared surgindo em uma das portas do corredor.
_ Merda! _ Resmoneou a si mesma. Entrou imediatamente na porta mais próxima, a biblioteca, temendo que o velho percebesse sua presença.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Canção para o Anjo I (COMPLETO)
RomanceO intercâmbio na Inglaterra era para ser um ensaio de liberdade para Abbe, uma jovem de 21 anos, que vivia sob a sombra da psicose desde a infância. Ela tinha uma forte expectativa de que fosse o primeiro passo rumo a uma vida normal. Mas alguns di...