CAPÍTULO 11

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"Stairway To Heavenentrava pela fresta da janela com vento abafado da cidade de Maringá.

Abbe abriu os olhos do cochilo.

Eram duas da manhã em ponto e ela não se lembrava do momento em que havia se sentado na cabeceira da cama, afundando seu corpo em quatro travesseiros de pena de ganso. E logo se lembrou da voz melosa de Paulo, declarando-se mentalmente para sua amada de beleza rara. "Lucíola" estava aberto seu colo, exatamente na página em que apagara.

Ela fechou o livro. Puxou para dentro o ar floral da primavera mágica da Zona Cinco. Podia sentir o ar penetrando docemente em sua corrente sanguínea. E à medida que ele corria por seu corpo, ouvia as batidas fortes de seu coração, tão claras e limpas como se estivesse pulsando fora do corpo.

Ela sorriu. O som do seu coração era confortável. Mas à medida que os segundos passavam, ouvia-o mais alto. Estranhamente alto.

Então passou a mão sobre o peito. Levantou a blusa do pijama. Empedrou-se quando notou a fissura nele.  Analisou desesperadamente a estranha rachadura no lado esquerdo. A julgar pelo sangue enegrecido em torno dela, seu coração já não estava em seu corpo há algum tempo.

Estava desolada. Mas precisava procurá-lo. Buscou com os olhos ao redor, e não o via, embora pudesse ouvi-lo claramente, batendo bem próximo de si. Tentou se levantar, mas suas pernas não se moviam, conquanto as sentisse se esforçando para isso.

 A vertigem lhe tomou completamente. O universo inteiro girava ao redor da cabeça. Ela precisou fechar os olhos para conter uma ânsia. E ficou assim por muito tempo, por quase uma hora. Mas de repente, a voz de Richard surgiu em seu ouvido, simulando ironicamente o som das batidas do coração.

Abbe tentou abrir os olhos e se mover, mas seu corpo era uma massa de carne absolutamente insensível.

Mesmo assim, a voz teatral dele rodeava seus ouvidos com estúpida clareza, os lábios se movendo em seu lóbulo, simulando o som das batidas do seu coração. Depois de um tempo, ele pronunciou algumas palavras curtas, soltas, sem sentido. Apesar de não entender o significado, tomaram a mente dela como uma explosão divina, limpando e reconstruindo cada célula de seus neurônios. O som era mágico e absolutamente venerável, tão limpo que não havia nada no mundo capaz de corrompê-lo.

Abbe sentiu os dedos frios de Richard penetrando a fissura do seu peito. Depois os levou, molhados de sangue, até seu pescoço, enganchando-os bruscamente ao redor dele, soprando coisas sem sentido em seu rosto. O hálito dele era queimante, tão quente inflamava seu corpo inteiro.

_ Suor _ Ele sussurrou. _ Suor... Você está... suor... Você está suando, Abbe.

Ela emergiu. Os olhos azuis de Holly estavam em cima dela.

Seu corpo estava rígido, frio,  molhado. Seu coração estava disparado, mas muito bem guardado dentro de si. Foi a primeira coisa de que se certificou.

_ Será que esteve com febre? _ Holly pôs as mãos na testa dela. _ Deve ter passado dos 39 graus.

Abbe sentou-se na cama, bêbada de sono. Alcançou o copo de água no criado. Bebeu-a de uma vez. 

_ Precisa de mais água? 

Ela fez que não. Definitivamente não se sentia desidratada. Na verdade, estava acostumada a ver o travesseiro encharcado pela manhã.

_ Então trate de despertar logo. Tenho uma notícia para você. Bem... duas, na verdade.

A voz festiva da mulher fez Abbe levantar a cabeça  e estalar os olhos, espantosamente estimulada.

Canção para o Anjo I (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora