CAPÍTULO 25

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_ Eu sei o que está fazendo _ Abbe disse, perplexa.   _ Não acha que está sendo cruel comigo? Gosta de brincar? Eu adoraria ferrar com a sua família e com o seu irmão. Se esse for o seu propósito, posso ajudá-lo. E ainda prometo deixá-lo de fora disso, se der merda depois. Mas... _ Resfolgou, apertando os olhos, tremendo a cabeça. _ Por favor... não brinque comigo.

Gustav gracejou internamente, num soco que saiu de dentro para fora do estômago, negando com a cabeça, depois alinhando a coluna no banco.

Abbe viu-se novamente obrigada a lidar com o mutismo atípico do rapaz, que dessa vez, formigava cada nervo do seu corpo. Precisava que ele abrisse a boca. Pela primeira vez, estava prestes a implorar que ele dissesse alguma coisa. 

_ O que está acontecendo, Gustav? 

Ele não respondeu. 

Ela rosnou dentro das mãos. Esteve se segurando para não explodir. 

_ Acha que estou brincando você? _ Ele então perguntou, a voz estupidamente sóbria.

_ E não está?  O que está rolando na sua cabeça, hein?

_ Estou buscando uma forma de lidar com isso _ Ele pausou, arranhando a garganta.  _ Não deve se preocupar com nada. Vai ficar tudo bem. Vou embora semana que vem. Então... 

Ele travou de repente. Algumas linhas de desconfiança brotaram em torno dos seus olhos. A sirene do carro de trás foi acionada segundos depois, a poucos metros de distância. O carro da polícia surgiu fantasmagoricamente na escuridão que ia ficando para trás.

_ Oh, maldição!! _ Queixou-se, desacelerando, mirando o retrovisor. _ Onde estavam camuflados, hein? _ Sinalizou com a seta para o acostamento. _ Você,  fique aqui. Só vão conferir os documentos e aplicar uma multa de velocidade. Depois voltamos para a casa.

Puxou o freio de mão,  claramente tenso, já que a surpresa equivalia a fogo e pólvora para a família Aspen.

_ Mas que porra!  _ Tornou a rosnar, quando desligou o carro. _ Espero tão ter problemas essa noite. Então... eu espero mesmo que você fique aqui, em silêncio.

Derrapou os olhos angustiados no rosto petrificado dela, desamarrando o cinto, a respiração pesando. Sorriu para ela num estranho misto de ternura e intimidação.

Quando o policial desceu do carro, um homem alto, de corpo quadrado, Gustav fez o mesmo. 

O rapaz o cumprimentou amigavelmente. O homem acenou secamente com a cabeça, depois pediu o documento do rapaz, que o entregou prontamente. O policial mirou a luz sobre ele. Sorriu quando leu seu nome. Devolveu-o segundos depois, sob um clima reverencioso.

Não demorou para o rosto do policial relaxar. Pouco tempo depois, já ensaiava o segundo sorriso.

Abbe assistia à cena, enquanto os dedos costuravam-se sobre colo. Ela sabia que tinha que reagir. Era sem dúvida sua última oportunidade. Não precisaria de esforço para comprovar o sequestro: era só sair do carro e correr para o policial. 

Mesmo assim, por cautela, buscou algumas palavras curtas que pudessem expressar claramente a situação: seu nome completo, o nome do seu pai, a data e o lugar do sequestro. Mas as palavras se perderam em sua mente quando o homem apertou a mão de Gustav. Pelo jeito, já estavam se despedindo.

Seu coração disparou ainda mais. Perdeu brevemente os sentidos. A adrenalina revirou sua cabeça quando puxou a maçaneta e descobriu que o carro estava trancado. Mesmo assim, insistiu. Gustav certamente o trancara por fora. Os vidros também estavam travados.

Canção para o Anjo I (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora