Nevio Falcone soube desde pequeno qual lugar ocuparia. Como o próximo Capo de Las Vegas, carrega consigo um sobrenome a honrar, assim como a responsabilidade de dar continuidade ao legado que já lhe fora construído. Governar seu território com uma m...
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Dois dias passaram-se desde àquela noite, fazia poucas horas que Leonas, Riccardo e Rocco retornaram para Chicago. Confesso que já sentia uma falta demasiada do meu melhor amigo, mas com a aliança firmada ele tinha que retornar e continuar cuidando dos seus negócios. Na sua ausência, Santino que mesmo tendo tornado a voltar para seu cargo de executor - recusando a oferta de se tornar um capitão - mantinha-o informado sobre tudo, desde possíveis ameaças até as coisas mais simples, a confiança adquirida pelo Bianchi era imensurável. Ele era um tremendo boca suja na maioria das vezes, tinha uma paciência extremamente curta na maior parte do tempo, Anna continuava levando-o ao limite mesmo depois do casamento, mas ele era leal, feroz e não se importou em ficar ajoelhado perante os pés de Dante para viver sua história com a primogênita Cavallaro, arriscando sua própria vida e conhecer a fúria fria dele. Foi neste ponto que ele ganhou totalmente a confiança de Leonas, porque se havia uma coisa que ele amava mais do que tudo era suas irmãs ao menos, lembrava-me de ouvi-lo contando assim.
A relação entre papai e seus meios-irmãos tinha evoluído um pouco mais, claro que não o suficiente para o clima ficar totalmente descontraído, mas estava melhor. Dificilmente ele os chamaria de irmãos ou conseguiria vê-los assim, mas ele sabia do mesmo modo que tinha Aria, Gianna e Liliana em Nova York. Às vezes não conseguimos enxergar o quanto as vidas das pessoas são entrelaçadas, assim como o passado se entrelaçava ao presente-futuro.
Balanço minha cabeça em negação para afastar meus devaneios, voltando meu olhar para as páginas do livro que segurava em minhas mãos em busca de focar nas palavras escritas. Jurij o tinha entregado a mim um pouco antes de começarmos a comer os bolinhos no dia de sua chegada a Las Vegas, era uma coleção de poemas da autora russa Anna Akhmátova, pseudônimo de Anna Andreevna Gorenko. Desde o primeiro poema que li dela, ela conseguiu encantar-me por completo. Por mais encantada que fosse, ainda não conseguia manter minha atenção totalmente voltada para as palavras. Vez ou outra, me lembrei de todas as coisas ditas por Nevio e a maneira como fiquei mais do que confortada em seus braços, chorando por uma dor silenciosa que pertencia a nós dois unicamente, em contraste com todos os meus sentimentos confusos. Eu amava-o. Embora, não estivesse pronta para amá-lo e muito menos para ser amada de volta. Amar requeria muito, esse muito eu não tinha no momento - ou talvez tivesse - mas não estava disposta a dar.
