CAPÍTULO LVIII

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O dia amanhecera. Cristina saíra direto para o hospital. Carlos se arrumava para também sair. "Que noite!" pensou ele. Fechou os olhos e lembrou-se dos momentos agradáveis que passara ao lado de Cristina na noite anterior. Se pudesse, faria amor com ela todo dia!

Ele pensa em como está vivendo um relacionamento feliz e pleno com Cristina. Ela respeita seu relacionamento com a filha. Não é obrigação dela, mas ela tem muita afeição pela menina. E a menina por ela. Ele respeita os horários malucos de Cristina. Não fazem cobranças um para o outro. Fazem amor quando podem. Conversam a respeito de tudo. Até o momento, não haviam brigado nenhuma vez, nem quando encontraram Eduardo no apartamento de Cristina. Carlos sempre foi um homem ciumento. Mas não era mais como antes. Sentia-se seguro e amado.

Do lado de fora, Vivian aguardava. Ela havia seguido os dois. Esperou toda a noite do lado de fora. No carro de Ciro. Passou a noite em claro. Viu quando as luzes finalmente se apagaram no apartamento de Carlos. Viu também quando Cristina saiu do prédio.

Carlos sai do banheiro e vai até a sala. Ele vê a pasta de Cristina. "Nossa, ela vai precisar dessa pasta... Vou levar pra ela." Ele pega o telefone para avisá-la, mas o interfone toca. Era Vivian. Ele reluta, mas a deixa subir.

- Oi, Vivian, tudo bem? Está precisando de alguma coisa? Como posso te ajudar? - pergunta ele ao abrir a porta.

- Não... Não está tudo bem. Eu vi você e aquela mulher juntos.

- Aquela mulher, Vivian, é minha namorada. Você e eu não somos mais um casal. Não tem porque você reagir dessa forma.

- Ela sabe sobre mim e o bebê?

- Eu realmente não lhe devo satisfações a respeito da minha vida. - responde ele.

- O que você viu nela?

- Vivian, eu já te disse, não vou ficar aqui falando da minha vida pessoal pra você.

- Ela é boa de cama?

- Um relacionamento não se baseia somente nisso.

- Você não respondeu. Ela é boa de cama? É melhor do que eu?

- Vivian... Por favor... Pára com isso...

Ela começa a chorar. Chora copiosamente. Ele se compadece daquela cena. Aquela moça tão jovem, grávida, sem nenhuma perspectiva de mudar de vida. Abraçou-a. Que droga! Pensou ele! Eu tenho que falar com a Cristina! Eu não posso mais esconder nada dela! Ele então vê o braço de Vivian roxo e a questiona.

- Vivian, olha pra mim, me fala, o Ciro tem te tratado mal?

- Agora é minha vez de dizer que a minha vida não é da sua conta. - responde ela.

- Você está grávida, o bebê está perto de nascer. Você não pode continuar convivendo com ele. Onde está sua família?

Ela volta a chorar.

- Me escuta, Vivian, para o seu bem e do bebê, você precisa se afastar desse cara.

Ela não diz nada.

- Onde estão seus familiares, Vivian? Moram aqui na cidade ou em outro lugar? Eu pago uma passagem pra você voltar pra casa. Pago tudo.

- Você quer se livrar de mim, é isso? Quer me ver longe da sua vida, não é?

- Não, não é isso. Estou preocupado com você. Sei que nosso relacionamento foi bastante conturbado, mas eu não quero seu mal. Muito pelo contrário. Voltar para sua família vai ser melhor. Me ouve.

- Você está apaixonado por aquela mulher, não está?

- Sim, Vivian, pra ser sincero, estou. Estou perdidamente apaixonado por ela, se você quer saber - responde Carlos com sinceridade.

- Por quê?

- Porque ela é uma mulher muito especial...

- Você nunca foi apaixonado por mim, não é?

- Nem você por mim. Acho que estamos empatados.

Ela fica em silêncio por algum tempo.

- Vivian, por que você está aqui? Você está precisando de alguma coisa?

- Você vai casar com ela?

- É possível que sim - responde ele.

- E o bebê, como fica nessa história?

- Olha, se o filho for mesmo meu, vou assumir a criança, não se preocupe. Se não for...

Carlos pára e reflete por um momento. Viu aquela mulher que um dia fora tão impetuosa e petulante agora aparentando tanta fragilidade. Estava realmente compadecido.

- Se não for, ainda assim vou ajudar você com as despesas da criança. Eu só te peço uma coisa: afaste-se do Ciro. Ele pode fazer mal a você e ao bebê. Entre em contato com sua família. Se precisar de passagem, me diga, eu já disse que pago. Promete que vai pensar a respeito?

Ela balança a cabeça dizendo que sim.

- Eu preciso sair. Preciso trabalhar. - diz Carlos - Você precisa de alguma coisa? Posso te pagar um táxi.

- Não precisa. Estou de carro. - ela responde.

- Sua gravidez já está avançada. Não sei se você deveria estar dirigindo sozinha por aí.

- Não se preocupe comigo. Está tudo certo.

- Então vou com você até o carro. - oferece Carlos.

- Tudo bem. - ela concorda.

Ele então acompanha Vivian até o carro. Ele abre a carteira. Oferece a ela uma quantia em dinheiro apesar de já estar depositando um bom valor na conta da moça todo mês. Ela reluta, mas aceita. Entra no carro e sai.

Do outro lado da rua, Cristina assiste a tudo. Ela havia retornado para buscar sua pasta. Carlos a vê do outro lado. Um frio percorre sua espinha. Ele sente uma angústia profunda percorrer-lhe o corpo. Sai correndo desesperadamente e atravessa a rua como um raio, quase sendo atropelado. Os carros buzinam. Cristina o vê e entra no carro. Ele vai até a janela do carro.

- Cristina, me escuta! Me deixa explicar! - pede Carlos.

- Não tem o que explicar. Deixa eu adivinhar... Aquela é a Vivian, e aquele filho é seu - diz Cristina.

- Não é assim tão simples! Vamos lá em cima, me deixa explicar! - insiste ele.

- Eu não sei se quero ouvir o que você tem pra me dizer.

- Mas você precisa! Por favor, Cristina! Eu estou te pedindo! Por tudo o que vivemos até aqui, me deixa explicar!

Cristina percebeu pelo semblante de Carlos que ele realmente estava desesperado. Então lembrou-se de quando eles encontraram Eduardo em seu apartamento. Carlos poderia ter duvidado dela, poderia ter colocado em dúvida o fato de Eduardo ainda ter a chave do apartamento, mas não o fez. Talvez ela devesse ouvi-lo, pensou. Ela desliga o carro. Ele sente um certo alívio.

- Muito bem, Carlos. Vou ouvir o que você tem pra me dizer.

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