Carlos chega em casa de dona Guadalupe e Isabel. Dona Firmina, mãe de Augusto, é quem os recebe.
- Carlos! Que alegria ter você de volta! E assim já caminhando! - exclama Dona Firmina.
- Obrigado, Dona Firmina! Já estou quase cem por cento! - agradeceu Carlos.
Augusto traz Maria pela mão. Carlos caminhava devagar, usava as tais muletas de antebraço recomendadas por Eduardo. Era um misto de sentimentos o que lhe tudo a sua volta e lembrava ter pensado que aquele muro seria o fim. Pior, lembrava que, por um instante, tinha de fato desejado que fosse mesmo o fim.
De qualquer forma, havia sido uma jornada incrível de autoconhecimento. Mais do que isso, sua vida e de Cristina haviam se cruzado. Sentia dentro do coração alegria e tristeza ao mesmo tempo. Como isso seria possível? Alegrava-se em saber que ao amanhecer teria sua família ao seu lado, poderia finalmente voltar para sua vida, reestabelecer sua rotina. Mas sabia que Cristina não estaria ali ao seu alcance. Ele nem sabia seu telefone. Não sabia onde ela morava. Não sabia nada. Só sabia que poderia encontrá-la no hospital e era para lá que seu pensamento volta e meia ia parar. O que ela estaria fazendo? Novos pacientes, novas histórias, será que ela estaria pensando nele também?
Ele caminhou até o sofá e sentou-se. Maria correu para seu colo e lá ficou ele, pensando na vida e em tudo que acontecera até ali. Carlos estava ali tão absorvido seus pensamentos que não percebeu que Isabel o chamava. Ela então se aproximou dele e lhe tocou o braço:
- Carlos, está tudo bem com você? Estou falando com você há um certo tempo, mas acho que você está com a cabeça em outro lugar.
- Desculpe-me, minha irmã, sim estou pensando em um milhão de coisas ao mesmo tempo! Mas, você estava dizendo...
- Augusto nos falou sobre o que aconteceu antes do acidente - disse Isabel.
- Sim, ele me perguntou se podia comentar com vocês e eu disse que sim. Na verdade, devo minhas desculpas a vocês. Por uma atitude inconsequente eu quase perdi a vida, além de dar esse imenso trabalho a todos vocês! Por um segundo pensei em acabar com tudo. Mas foi então que ouvi nitidamente a voz de Maria me chamando. Eram gritos. De alguma forma eu acordei daquela espécie de transe em que me encontrava. Puxei o volante para o lado, o que não impediu que o carro colidisse com o muro, mas não foi uma colisão frontal - relatou Carlos.
- Uma colisão frontal teria sido fatal - retrucou Augusto.
- Na velocidade em que eu estava, certamente... teria sido fatal... - concluiu Carlos.
- Eu ainda não tinha lhe dito, até porque você nunca tinha falado a respeito do acidente... Maria acordou naquela noite chamando por você. Ela estava aos prantos. Foi difícil fazê-la voltar a dormir. - relatou Isabel.
- Eu sonhei que você estava dirigindo um carro e estava dirigindo muito rápido... Eu fiquei com muito medo, pai... - disse Maria, que havia estado em silêncio todo aquele tempo, abraçada a Carlos.
Todos se entreolharam. Haviam entendido que Maria de fato salvara a vida de Carlos. Ela definitivamente tinha um dom especial. Carlos abraçou forte a menina e acariciou-lhe os cabelos.
- Enfim... acabou... A vida é daqui para frente - concluiu Dona Guadalupe.
- Isso mesmo, mãe, a senhora está certa - concordou Isabel.
- Eu fui um idiota! Um idiota desde o começo do meu relacionamento com a Vivian. Mas quero que saibam que tudo está terminado. É isso que fui fazer naquela noite do acidente quando encontrei com ela, fui terminar tudo.
- Graças a Deus, meu irmão! - Exclamou Isabel com bastante alívio.
- Não foi trabalho nenhum cuidar de você, meu filho, eu sei que você faria o mesmo por todos nós. Aliás, é o que você e Augusto sempre fizeram: cuidar de nós.
- É verdade - concordou Isabel - e agora, sabendo que você está livre daquela mulher, tudo vai ficar em paz!
- Não é bem assim... - disse Carlos.
- Como não é bem assim? Você ainda pensa nela? Tem dúvidas se quer voltar com a Vivian? - preocupou-se Isabel.
- Quanto a isso não tenho dúvidas, minha irmã - respondeu ele.
- Então... Qual seria o problema? - indagou Isabel.
Carlos e Augusto trocaram olhares. Alguns segundos de reflexão até que Carlos chegou à conclusão de que aquele talvez não fosse o momento ideal para falar sobre a suposta gravidez de Vivian. Estavam todos tão felizes... Era hora de comemorar. Preferiu deixar a história da gravidez para mais tarde.
- O problema é que você conhece a Vivian. Ela não vai aceitar o término assim tão fácil. Vai ficar ainda um bom tempo na minha cola. Vai bolar alguma artimanha, como é de costume.
- Sim, ela gosta de dinheiro. Imagina não ter você para pagar as contas dela? - disse Isabel, sem pensar que poderia estar ofendendo o irmão.
- Isabel! - repreendeu Dona Guadalupe.
- Deixa mãe, Isabel está coberta de razão - disse Carlos - Vocês tentaram por tudo me alertar a respeito desse relacionamento absolutamente destrutivo, mas eu era incapaz de enxergar um palmo na frente do nariz.
- Mas o que importa, meu filho é que agora você entende melhor as coisas. - disse dona Guadalupe - Além de tudo, está quase completamente recuperado! E isso já é motivo bastante para comemorarmos!
- Tem razão, dona Guadalupe! - concordou Augusto - É assim que se fala!
- E não se esqueça do nosso almoço de comemoração! - diz Dona Firmina.
- Sim! Temos que avisar à Doutora Cristina! Ela gentilmente aceitou nosso convite! - lembra Dona Guadalupe.
- Carlos, você sabe como entrar em contato com ela? - pergunta Isabel.
- Bem, não é difícil encontrá-la. Ela está sempre no hospital... Pode deixar que eu me viro para marcar o almoço com ela.
- Perfeito! E não demore, hein! - brincou Isabel.
- Pode deixar, irmãzinha, não vou demorar - sorriu Carlos.
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Recomeço
عاطفيةUm terrível acidente une os destinos de Cristina - uma médica dedicada, que ama o que faz - e Carlos - um homem impulsivo e cativante. Sua vida está agora nas mãos competentes de Cristina. Depois desse encontro de destinos suas vidas jamais serão as...