CAPÍTULO XXXII

411 26 0
                                    

Carlos estava no escritório com Augusto. O dia tinha sido bastante cansativo, estivera bastante focado, mas uma coisa lhe martelava na cabeça desde que acordara do acidente. Ele não era um bom pai. Ou, pelo menos, não estava sendo um bom pai para Maria. Entendia enfim que estivera se comportando de maneira egoísta. Relacionava-se com Vivian como se fosse um garoto de vinte e poucos anos, sem eira nem beira, deixando Maria quase todo tempo aos cuidados da mãe e da irmã. Maria era responsabilidade dele. Era sua filha! "Como pude ser tão relapso e irresponsável", pensou ele! A menina era uma criança doce e amável. Nunca deu trabalho para ninguém. Tudo que ele tinha que fazer nessa vida era amá-la e protegê-la. E tinha falhado miseravelmente.

- Augusto, você se importa de segurar as pontas pra mim? Preciso dar uma saída. - disse Carlos.

- Sem problema. Aonde você está indo? Encontrar a doutora? - indagou Augusto.

- Hoje não. Tem uma outra mocinha aí que eu estou querendo encontrar. - Brincou Carlos.

- Ai, ai, Carlos, vê se não vai dar mancada, hein! - alertou Augusto.

Carlos sorriu, colocando a mão no ombro do amigo.

- Não se preocupe. Estou falando da Maria. Vou buscá-la na escola.

- É sério?! Ela vai adorar ver você chegando para buscá-la! Você devia fazer isso mais vezes! - animou-se Augusto.

- É essa a minha intenção. Buscar Maria na escola pelo menos umas duas vezes por semana. - disse Carlos - Isso, se você não se importar de segurar as pontas por aqui nessas ocasiões.

- Não me importo. Acho essa uma excelente ideia. - respondeu Augusto.

- Eu tinha praticamente abandonado minha filha aos cuidados da minha mãe e da Isabel. Agora entendo como estava sendo egoísta. Em vários sentidos. Está na hora de consertar algumas coisas na minha vida. - refletiu Carlos.

***

Carlos chegou ao colégio onde Maria estudava. Crianças correndo, brincando, aquele barulho habitual que tem os colégios na hora em que os pais aparecem para levarem as crianças.

Caminhou em direção à sala de Maria.

- Olá, professora, como vai? Estou aqui para buscar a Maria. Sou Carlos, o pai dela. Apresentou-se.

Maria, ao ouvir a voz do pai, ficou radiante. Correu ao encontro do pai, pulando em seu colo.

Carlos admirou-se da reação da menina. Ela era uma menina doce e carinhosa. Mas não costumava ter esse tipo de reação.

- Cuidado, Maria! Assim, você pode machucar o seu pai! - disse a professora.

Dirigiu-se então a Carlos:

- Dona Guadalupe me contou sobre o acidente, é bom saber que já está recuperado.

- Sim. De agora em diante devo aparecer mais vezes para buscar a Maria. - respondeu Carlos.

- É sério, pai!? - exclamou a menina.

- Sim, Maria, é sério. - confirmou ele - Vamos indo?

Despediram-se da professora. E caminharam até a saída, onde havia um pipoqueiro que sempre estava lá ao final das aulas. Compraram um saco de pipocas e sentaram-se em um banco ali perto.

- Maria, preciso muito lhe dizer uma coisa - disse Carlos com um semblante sério.

- O que foi, pai? - perguntou a menina.

Carlos puxou a menina para perto de si, segurou-lhe a mão, e disse olhando em seus olhos:

- Filha, me perdoa. Me perdoa por ter sido um péssimo pai. Me perdoa por ter ficado tanto tempo longe de você...

- Não foi sua culpa, pai, você se machucou...

- Você ainda é pequena pra entender, mas a culpa foi minha, sim... Se eu não tivesse sido tão inconsequente, tão irresponsável, tão egoísta...

- Pai... - interrompeu Maria - Me escuta... Nada disso vai mais acontecer... Eu sei... Acredita em mim...

- Sim, Maria, acredito em você.

- Você sempre acreditou em mim, pai. Esses sonhos que eu tenho... você sempre acreditou em mim.

Carlos olhou novamente nos olhos de sua filha.

- Eu sempre vou acreditar em você, Maria. Sempre, sempre! E eu preciso muito que você me perdoe e confie em mim. De agora em diante vai ser tudo diferente.

Os dois se abraçaram. Ficaram ali por um tempo, apreciando a companhia um do outro.

Enquanto isso, num carro ali parado, alguém os observa de longe.

RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora