CAPÍTULO VIII

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Sete da manhã. Mais um dia amanhecia no Hospital Santa Teresinha. Carlos abriu os olhos e respirou fundo. Aos poucos sentia-se melhor. Olhou para o lado enquanto Isabel dormia. Tinha pedido ajuda a um enfermeiro para se sentar na poltrona ao lado da janela. Ficou em silêncio olhando o corre-corre das pessoas lá fora. Não fosse o acidente, ele estaria no mesmo ritmo. De certa forma, aquela estada no hospital fizera com que ele refletisse bastante sobre a própria vida, afinal, agora tinha tempo de sobra para tal. Era um homem agitado e tagarela, mas estava aprendendo a apreciar os momentos em que estava só e em silêncio, na companhia de si mesmo.

Há alguns dias já não usava mais as roupas do hospital. Sua mãe lhe trouxera roupas de casa. Também estava livre de catéteres, soros e afins. Sentia-se bastante animado. Devia ser também porque tivera a visita de sua doce Maria no dia anterior. Ah… que saudades estava daquela criaturinha! De fato foi melhor esperar um pouco para que os dois se encontrassem, ele já estava vestido em roupas decentes, parecendo menos debilitado. Estava, de fato, sentindo-se disposto a melhorar, ir pra casa, ficar com as pessoas que amava.

De repente viu o carro de Cristina chegar. Lá vinha ela correndo, esbaforida. Devia estar atrasada. Ela trancou o carro e saiu quase correndo para voltar logo em seguida. Possivelmente esqueceu alguma coisa. Ele riu. Ela sempre o fazia rir. Ficou feliz, era dia de encontrá-la. De onde será que ela vinha? Será que morava ali perto? Sozinha, quem sabe, a enfermeira disse que não tinha marido nem filhos… Enfim, tinha muita curiosidade em saber mais sobre ela.

***

Cristina chegou para troca de plantão na correria, como sempre. Foi direto encontrar Débora.

- Bom dia, meninas, desculpem o atraso. O Eduardo já chegou? - perguntou Cristina.

- Não. Esse sim está atrasado. - respondeu Débora.

- Deve estar chegando. - retrucou Cristina.

- Amiga, tenho uma fofoca pra você! - disse Débora em tom de segredo, puxando Cristina para uma sala vazia.

- Ah, não. Nem vem com esse papo de Eduardo pra mim, pelo amor de Deus! - reclamou Cristina.

- Eduardo? Que Eduardo? Tá louca? Quem falou em Eduardo? - brincou Débora. - Mesmo achando que ele ainda é arreado por você, a pauta hoje é outra.

- A sua pauta é sempre a mesma, Débora: arranjar homem pra mim. - respondeu Cristina.

- Mas esse homem eu sei que te interessa. - disse Débora com olhos maliciosos.

- Que homem é esse  que me interessa, posso saber?

- Claro que pode. Trata-se do seu paciente querido.

- Oi? Como é que é? Meu paciente o quê?! - respondeu Cristina com surpresa.

- Amiga, não minta pra mim. Ou melhor, não minta pra você. - disse Débora com firmeza. - Imagina se o Eduardo sonha isso!

- Que Eduardo sonha o quê, Débora! Que conversa é essa? Nem uma coisa nem outra! - exclamou Cristina.

- Então tá bom. Sendo assim, acho que você não vai querer saber o que eu tenho pra dizer sobre o Carlos. - concluiu Débora.

- Meu Deus do Céu… Agora vou ter que aguentar você me enchendo o saco com essa história de Carlos também…

- Ele andou perguntando de você, queria saber se era casada. Pronto. É isso. - disse Débora, indo direto ao ponto.

Cristina queria fingir que nem se importava com o que a amiga acabara de dizer. Mas a verdade é que um frio na barriga tomou-lhe de assalto. Suas mãos ficaram geladas. Tudo que ela conseguiu foi dar um passo para trás e sentar-se na primeira cadeira que alcançou.

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