CAPÍTULO LIX

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Cristina e Carlos caminham até uma praça ali perto. Sentam-se num banco.

- Muito bem, eu vou te contar tudo - diz Carlos - Estava esperando um momento mais apropriado, mas a verdade
é que não há momento apropriado para essa conversa. Eu não deveria ter deixado você descobrir assim, por acidente. Eu fiz tudo errado. Eu preciso te contar tudo agora, não posso adiar.

Cristina não sabe se está mais brava do que curiosa. Queria levantar e ir embora, mas sentia que precisava ficar e ouvir.

- Como você viu com seus próprios olhos, Vivian está grávida. E, segundo ela, eu sou o pai.

- E por que você não seria? Vocês não eram namorados? - pergunta Cristina.

- Acho bem pouco provável tendo em vista tudo o que li nas mensagens de texto que fotografei. Ela tinha um amante. Na verdade, o homem dela era ele. Eu fui um belo trouxa.

- Sim, mas vocês tinham um relacionamento. Não namoravam só de mãos dadas caminhando na praça. Essa criança pode muito bem ser sua.

- Estávamos em crise, Cristina.

- Pode ser, mas ainda assim há uma grande possibilidade desse filho ser seu.

- Cristina, eu vou ser mais claro com você. Não quero ficar entrando em detalhes sobre meu relacionamento com Vivian, falando pra você sobre detalhes íntimos. Mas preciso que você me entenda. Até porque eu só quero esquecer esse relacionamento. O meu interesse agora é em nós dois. É tudo o que me importa nesse momento.

- Um filho não importa pra você?

- Olha só, me escuta. Vivian e eu há muito tempo não dormíamos juntos. Há um certo tempo não fazíamos sexo, Cristina. Não houve tempo hábil para isso. Ela acha que eu não sei fazer contas, só pode. Mas tudo se resolverá com um simples exame de DNA. Até lá, tenho que dar assistência a ela.

- E se ela ficou grávida da última vez que vocês... Bem... Você sabe...

- Ela me contou da gravidez na noite do acidente. Como você já sabe, eu marquei aquele encontro para terminar tudo com ela. Disse a ela que nosso relacionamento havia chegado ao fim, pedi que não me procurasse mais. Foi então que ela afirmou estar grávida. Disse que a Maria teria companhia para dividir a herança, que ela queria para o filho uma vida igual à da Maria. Inclusive que eu pagasse uma babá, já que ela detestava crianças.

- Ela disse isso?

- Sim. Naquela hora eu até acreditei nela. Achei mesmo que ela esperava um filho meu.

- E porque não acredita mais?

- Se o acidente não tivesse acontecido, ela até teria tempo de, quem sabe, tentar engravidar de mim.

- Mas simplesmente não deu. Eu enfiei o carro no muro.

- Então...

- Só pra lembrar, caso você tenha esquecido, eu fiquei quase um mês desacordado. Um mês e meio internado depois que acordei. Dois meses antes de o acidente acontecer eu já não dormia com ela. Faz as contas, Cristina. Era pra ela já ter dado à luz faz tempo. Esse filho não pode ser meu.

- Carlos... - Cristina na verdade não tinha palavras.

Carlos continuou.

- Só uma mulher no momento poderia estar grávida de mim e essa mulher é você. Eu só estive com você depois desse período. Só com você. E as únicas mulheres da minha vida são você e a Maria. Só vocês, mais ninguém.

Cristina não sabia o que pensar. Na verdade, sentia uma vontade incontrolável de cair nos braços de
Carlos. Beijar-lhe. Dormir com ele. Ele realmente estava certo. Essa criança muito provavelmente não era dele. Mas era uma mulher orgulhosa. E seu orgulho estava profundamente ferido. Só de lembrar que presenciara aquela mulher saindo do prédio de Carlos, uma raiva incontida tomava-lhe de assalto. Ela não era assim, não era costume seu sentir ciúmes. Mas estava morrendo de ciúmes naquele exato momento. Meu Deus, que poder era aquele que Carlos tinha sobre ela?

Ficaram um tempo em silêncio, sem olharem um para o outro. Cristina não sabia o que pensar, o que fazer. Carlos sentia-se angustiado, mas ao mesmo tempo aliviado. Aquele peso enorme havia finalmente saído de seus ombros. Cristina então quebra o silêncio.

- Carlos... - disse ela já com mais calma - Eu acredito em você.

- Deus, obrigado! - disse Carlos levando os olhos e braços ao céu.

- Mas eu preciso pensar um pouco. Pelo visto essa moça, Vivian, não está disposta a te dar trégua. Eu realmente não sei se consigo lidar com essa presença inconveniente entre nós dois.

- Eu encontro Eduardo dentro do seu apartamento naquelas circunstâncias, além de ser seu ex-marido, ele trabalha com você... Eu venho tentando lidar com isso... Será que não consegue lidar com a Vivian?

- É diferente.

- Como é diferente?

- Eu não tenho mais nada com o Eduardo!

- Nem eu com a Vivian!

- Pode ser, mas tem essa criança no meio. Tenho que admitir que não foi nada divertido dar de cara com você e ela juntos. Ela, toda linda, jovem, talvez grávida de você.

- E o Eduardo? Ele viveu com você, dormiu com você, é seu colega de trabalho, é um cara todo malhado, te vê todo dia, e ainda tem a chave do seu apartamento!

- Eu troquei a fechadura.

- Desculpa... não estou te pedindo explicações...

- Carlos, me deixa colocar a cabeça no lugar. Está tudo muito confuso. Me dá um tempo.

- Muito bem, eu não vou insistir com você. Eu já te contei tudo. Estou aliviado agora. Fico feliz que você acredite em mim. Não posso obrigar você a ficar comigo. Não é obrigação sua ter que
encarar os problemas em que me meti. Queria ter conhecido você antes. Queria que a história fosse outra. Mas infelizmente não consigo me livrar desse problema agora.

- Deixa eu respirar. Deixa essa raiva que estou sentindo passar. Eu fiquei furiosa ao ver aquela mulher com você. Desde que você entrou na minha vida eu tenho experimentado sentimentos extremos. Eu não estou acostumada.

- De qualquer forma, agradeço por você acreditar em mim. Você tem o tempo que quiser.

Cristina sabia que não podia culpar Carlos por algo que acontecera antes dos dois se conhecerem. Ela tinha que tentar ser racional. Mas não conseguia parar de se perguntar que tipo de conversa tinham eles sobre essa criança. Sobre o que falavam? Sentia muita, muita raiva naquele momento. Vivian era realmente muito bonita! Como não se sentir insegura? Quando lembrava da cena de Carlos e Vivian juntos... Ah... ela queria sumir!

O telefone de Carlos toca. É Dona Guadalupe. Ele pede licença para atender. Cristina vê Carlos ficar pálido. Ele desliga o telefone.

- O que houve? O que queria Dona Guadalupe? - pergunta ela com preocupação.

- É Isabel. Parece que ela passou muito mal agora de manhã. Estão levando ela para o hospital.

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