CAPÍTULO LXXVIII

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Era uma manhã de sábado. O restaurante ficaria fechado naquele fim de semana. Estavam fazendo uma pequena reforma. Augusto e Isabel estão cuidando de receber portas novas para serem trocadas. Eram pesadas, de madeira, o entregador as escorou em uma parede até que a troca definitiva fosse feita. Estavam esperando a equipe para fazer o serviço. Dona Firmina e Dona Guadalupe também estavam lá.

De repente, Maria entra correndo no restaurante e vai direto abraçar a avó e a tia.

- Maria! Que saudades! - diz Isabel abraçando a menina.

- Eu falei pro meu pai que estava com saudades e ele me trouxe aqui - diz a menina.

Isabel havia comentado com a família sobre a conversa que tivera com o irmão. Ela insistira com ele para que não afastasse a filha de seus familiares. Carlos aparece na porta do restaurante. Certamente que a conversa com Isabel havia tocado seu coração. Ele ainda estava ressentido, mas sabia que não poderia passar a vida assim. Teria que engolir o orgulho, tentar dissipar a raiva. As coisas eram como eram. Não havia como mudar a realidade.

- Bom dia - diz ele - tenho algumas coisas para resolver no escritório, trouxe a Maria comigo. Ela disse que estava com saudades.

- Nós também, Carlos, estamos com saudades... De vocês dois... - diz Isabel.

- Bem, eu vou estar no escritório, vou deixar a Maria por aqui, se não se impotarem.

- Tudo bem. Vai lá. Ficaremos com ela - responde Isabel.

- Obrigado - diz ele, indo para o escritório.

***

Cristina acordara bem cedo naquela manhã. Era dia de folga para ela, mas quase nunca acordava tarde. Já estava acostumada com o ritmo rigoroso do hospital. Era comum passar noites em claro. Estava meio inteigada com um sonho que tivera durante a noite. Passara a noite sonhando com Maria lhe pedindo socorro. Não sabia detalhar bem o sonho, lembrava-se de trechos somente. Já tinha um certo tempo que estava acordada, mas o sonho não lhe saía da cabeça. Sentia uma certa angústia, não sabia dizer exatamente porque. Não queria telefonar, resolveu então enviar uma mensagem para Carlos. Ele não costumava demorar para responder as mensagens de Cristina.

Oi, Carlos, bom dia. Só estou passando para saber como você e Maria estão.

Como era de se esperar, ele respondeu a mensagem em pouco tempo.

Oi, Cristina, bom dia. Estamos bem. Obrigado por perguntar. Precisei vir ao restaurante agora de manhã. Maria veio comigo. Estou aqui no escritório.

Que bom saber que estão bem. Tenham um ótimo dia.

Obrigado. Desejo um ótimo dia para você também.

Cristina ficara mais aliviada por Carlos ter respondido à mensagem prontamente. Ainda assim, continuava sentindo aquela angústia no peito. O sonho que tivera não saía de sua cabeça. Ela sabia que tudo que envolvia Maria sempre vinha carregado de um certo mistério. Se ela tinha sonhado com a menina, é porque alguma coisa precisava ser avisada. Resolveu ir até o restaurante e fazer uma surpresa para os dois.

***

Isabel e Augusto estavam na porta de entrada do restaurante tratando de assuntos referentes à reforma que estava sendo feita. Aguardavam os profissionais que trocariam as portas antigas por portas novas, entre outras tarefas. Maria, Dona Firmina e Dona Guadalupe estavam na cozinha. Como o restaurante estaria fechado naquele fim de semana, haviam dispensado os funcionários, para que a pequena reforma fosse feita.

De repente, Ciro chega de carro e pára do lado de fora do restaurante. Ele fica observando a movimentação dentro do restaurante por um tempo. Depois de uma meia hora, ele então decide que é hora de agir. Carlos iria pagar caro por ter atrapalhado seus planos, pensou ele. Vivian estava sumida há alguns dias. Ele tinha certeza que Carlos tinha alguma coisa a ver com o desaparecimento dela. Estava possesso de ódio. Ele retira uma arma que estava em seu porta-luvas, esconde dentro das calças e caminha até a entrada. Pegaria todo dinheiro que pudesse e se livraria de Carlos de uma vez por todas.

Ciro anuncia o assalto. Mas fica surpreso, pois somente encontra Augusto e Isabel.
Não conseguia ouvir Dona Guadalupe, Dona Firmina e Maria na cozinha, uma vez que, geralmente, as cozinhas de restaurantes ficam sempre mais distantes e isoladas. Os clientes não costumam ouvir nada vindo dessas cozinhas. Ciro tinha certeza que vira outras pessoas entrando no restaurante, sabia que havia mais pessoas no lugar. Principalmente, sabia que Carlos estava lá, mas não sabia aonde. O escritório do restaurante, onde Carlos estava, ficava em um lugar longe das mesas e do caixa. Era um restaurante de grande porte. Ciro estava decidido, iria tratar logo de pegar o dinheiro, mas não iria sair dali sem antes dar um jeito em Carlos.

- Pega o que você quiser, nós não vamos oferecer resistência - disse Augusto, colocando-se na frente de Isabel após o anúncio do assalto.

- Aonde vocês guardam a grana? Sei que no caixa só deve ter mixaria - diz Ciro.

- Tem um cofre logo ali - diz Augusto.

Cristina acaba de estacionar o carro do lado de fora. Ela entra, acaba não sendo notada, pois Ciro estava no cofre com Augusto e Isabel. Ela percebe o que está acontecendo e vê que somente os dois estão lá com Ciro. Ela caminha silenciosamente até a cozinha. Lá, ela encontra Maria, Dona Guadalupe e Dona Firmina. Faz sinal para que façam silêncio. Elas ainda não tinham percebido a presença de Ciro.

Carlos estava trabalhando no escritório. Também não havia percebido que Ciro estava no restaurante. Ele deixa o escritório e caminha até a entrada do restaurante e dá de cara com Ciro, que estava no cofre, junto com Augusto e Isabel. Ciro trazia uma mochila, na qual levaria o dinheiro que estava retirando do cofre.

- Ciro? - diz Carlos, percebendo que é um assalto e que Ciro estava armado. Lembrou-se do que Cristina havia lhe dito outro dia sobre Ciro querer se vingar dele.

- Ora, mas se não é o meu playboy favorito! - diz Ciro ao ver Carlos - Eu vim aqui pegar a tua grana e saber cadê a minha 'mina'. Aonde é que tu enfiou ela?

- Você deve estar falando da Vivian, eu imagino - responde Carlos.

- E de quem mais eu estaria falando? Cadê ela? Foi tu que botou caraminhola na cabeça dela, não foi? Ela saiu de casa. Evaporou.

- Eu não sei do que você está falando. Eu não coloquei nada na cabeça dela. Na verdade, faz um certo tempo que eu nem falo com ela...

Enquanto isso, Cristina percebera que Carlos havia saído do escritório aonde se encontrava. Trouxe então Maria, Dona Guadalupe, e Dona Firmina até lá com todo o cuidado para não serem notadas. Pediu que as três trancassem a porta com chave e que não fizessem barulho algum.

Ciro estava inconformado com a resposta de Carlos a respeito do paradeiro de Vivian. Ele tinha certeza absoluta que tinha o dedo de Carlos no sumiço dela.

- Escuta só, seu playboyzinho de merda! Ou tu me fala cadê ela ou eu acabo com a tua raça!

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