CAPÍTULO LXVI

241 19 0
                                    

Carlos e Cristina entram na sala indicada por ela. Carlos já está arrependido. Talvez não devesse ter ido lá. Achava que Eduardo era carta fora do baralho, mas parecia que não. Cristina encosta a porta.

- Sabe, Cristina, eu não deveria ter vindo. Você está ocupada.

- Não tem problema. Na verdade, gostaria de saber como está a Isabel.

- Eu não sei... Não falo com ninguém desde que saímos do hospital.

- Como assim não sabe, Carlos? Não me diga que você ainda está com essa birra tola... É a sua irmã, está precisando de cuidados...

- Não vou ser muito útil no momento, vou mais atrapalhar do que ajudar.

- Espero sinceramente que você possa restabelecer o equilíbrio emocional e possa entender o ponto de vista de Augusto e Isabel.

- Entender o ponto de vista, depois do que eles aprontaram nas minhas costas?

- Me diz o que eles aprontaram, então? Se apaixonaram? É crime agora se apaixonar?

- Desculpa, Cristina, eu não tenho condições no momento de tratar desse assunto. Eu estou muito chateado e muito decepcionado.

- Tudo bem. Mas pensa bem, põe a cabeça no lugar. Você mesmo me disse que o Augusto sempre foi um cara quieto, sem muitas aventuras amorosas. Se ele se envolveu com sua irmã, é porque os sentimentos dele são sinceros, não acha?

- Por favor, Cristina, vamos conversar sobre isso outra hora... Me deixa digerir tudo isso...

- Tá certo, Carlos. Mas pensa bem antes de falar e fazer coisas das quais você possa se arrepender.

- Sei disso. Por isso mesmo estou distante. Não quero complicar as coisas - responde ele.

- Espero sinceramente que em breve você possa sentar com os dois para conversarem e tentarem se entender - diz Cristina.

- Que nem você agora anda se entendendo com o Eduardo? - provoca Carlos.

- Olha, eu sei que parece absurdo, mas, na verdade, quem fez as pazes com ele foi a Débora, não eu.

- A Débora? Mas você não disse que eles detestavam um ao outro?

- Pra você ver... - diz Cristina.

- E porque ela fez as pazes com ele, agora você tem que virar a melhor amiga dele, é isso?

- Que conversa é essa de melhor amiga! Deixa de ser dramático! Estávamos os três sentados no tempo livre que temos de intervalo. É só - irrita-se Cristina.

- Só de ver o Eduardo perto de você, meu sangue sobe à cabeça. Não tenho como evitar - confessa Carlos.

- A título de curiosidade, Débora falou que ele está mudado. Depois desse tempo que ele passou afastado, parece que está tentando superar esse gênio difícil que ele tem.

- E você acreditou nisso?

- Ué, Carlos, com você também não aconteceu algo semelhante? Você não disse que depois do acidente você se tornou uma pessoa melhor, mais centrada?

- E então você acha que Eduardo agora é bonzinho?

- Eu acho que somos todos imperfeitos. Temos virtudes e defeitos. A nossa grande missão é tentarmos ser mais evoluídos no final dessa jornada da vida.

- Então deixa ver se eu entendi. Você está claramente defendendo o Eduardo. É isso? - diz Carlos.

- Entenda como quiser - responde ela, aborrecida.

- Olha, realmente não vale a pena ficarmos batendo boca por causa do Eduardo - conclui Carlos.

- Exato - concorda Cristina.

- Bom, só passei mesmo pra te ver. Ainda que estejamos temporariamente separados, eu me preocupo com você e sinto a sua falta. Eu me acostumei rápido demais com a sua companhia... - diz ele.

- Ainda que você não seja o pai dessa criança, ainda que eu entenda a nobreza da sua atitude em prestar assistência a Vivian, esse relacionamento entre vocês dois me deixa muito desconfortável.

- Eu entendo.

- Assim como você escolheu se afastar de Augusto e Isabel, eu também escolho me afastar de você por um tempo. Quem sabe até esse bebê nascer e você e Vivian não tiverem mais contato tão direto.

- Tudo bem. Acho que é o melhor mesmo a ser feito. De qualquer forma, agradeço por você compreender toda a situação e não me odiar por isso - diz Carlos.

- Não fiquei nada feliz de você ter me escondido tudo isso. Mas não posso cobrar de você algo que aconteceu em um período antes de nos conhecermos.

- Mais uma vez, obrigado por entender.

Carlos tem um olhar triste, um semblante triste desde que chegara ao hospital. Tudo que acontecera recentemente o deixara sem chão. Estava se sentindo sozinho naquele momento. Estava afastado de sua família e também de Cristina, além de ter que lidar com a gravidez da Vivian. A única coisa a fazer era seguir adiante. Tinha muitos problemas para resolver.

Cristina sentiu essa melancolia no olhar de Carlos. Seu coração estava também partido. Sabia que a barra para ele estava bastante pesada. Mas ela não podia abrir mão do amor próprio assim dessa forma. Conviver com a gravidez de Vivian estava fora de questão.

- Isso não significa que não quero manter contato com você. Muito pelo contrário. Fiquei feliz com sua visita. Ainda que breve. Eu não estou cortando relações com você, de forma nenhuma. Sei que você está passando por uma situação pessoal muito difícil e você pode contar comigo. E isso inclui te dar uma ajuda com a Maria, já que a Isabel estará em repouso absoluto por algum tempo - diz Cristina.

- Obrigado - diz ele - agora eu vou te deixar trabalhar.

Eles se despedem com um abraço. Os braços de Carlos envolvem Cristina. Ela o abraça forte. Aquela proximidade entre os dois era muito perigosa, pois juntos eles tem uma química explosiva. Era muito difícil resistirem um ao outro.

Uma vontade ardente de beijar Carlos tomou conta de Cristina. Aqueles braços... Eram o lugar mais seguro do mundo... Como ela gostava de estar nos braços dele...

Carlos, por sua vez, sentia também um desejo incontido de beijar Cristina. Abraçá-la e não poder beijá-la, não poder estar junto dela... era por si só uma punição severa por todo o silêncio mantido. Mas ele sabia que era merecido. Restava-lhe somente acatar a decisão de Cristina.

Cristina tem seus braços em volta do pescoço de Carlos. Ele põe as mãos em volta da cintura de Cristina. Seus rostos se aproximam, suas bocas se aproximam. Uma chama incendeia o desejo de ambos. Carlos percebe que seu impulso é correspondido por Cristina. Ele a conhecia bem. Seu corpo, seus gostos, seus desejos íntimos.

Carlos respira fundo e então se afasta, meio desconcertado. Se Cristina queria um tempo, então ele lhe daria esse tempo.

- Acho melhor eu ir antes que a gente... Bom... Antes que as coisas se compliquem mais do já estão complicadas... - diz ele.

- Tem razão Carlos... - concorda ela.

Ele abre a porta e sai. Cristina encosta-se na porta por alguns minutos, pensativa. "Espero que essa seja mesmo a escolha mais acertada para essa situação toda...", pensou ela.

RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora