O dia amanheceu quente e ensolarado. Um excelente dia para um piquenique. Carlos já estava no parque com Maria. Ele ainda não havia sido liberado para dirigir, infelizmente. Como não queria importunar mais a família com suas limitações, geralmente usava táxis para ir aos lugares. Não via a hora de poder dirigir novamente. Mas, de vez em quando lembrava-se do acidente e às vezes sentia uma certa insegurança, talvez devesse esperar mais um pouco.
Maria brincava em volta dele enquanto ele, sentado, sobre uma toalha aonde pousava uma cesta de piquenique, fechou os olhos por alguns segundos e deixou que o sol lhe batesse no rosto. Ouviu então o chamado de Maria que avistara Cristina chegando e correra até a moça. Carlos então abriu os olhos e viu a criança trazendo Cristina pela mão. Era realmente intrigante a afeição da menina por ela. Enquanto esteve com Vivian, evitava ao máximo que as duas convivessem, não queria envolver a pequena com uma pessoa que ele sabia que não duraria muito em sua vida. Mas com Cristina era diferente. As duas se entendiam bem sem a intermediação dele. Haviam se conhecido quando ele ainda estava internado no hospital. Era uma amizade que independia dele.
- Pai, a doutora chegou! - diz a menina com empolgação, puxando a mão de Cristina.
Cristina estava vestindo roupas despojadas, uma camiseta branca que desenhava bem sua silhueta e lhe deixava ver a renda do seu sutiã por baixo. Não precisou de mais nada para que a imaginação de Carlos voasse longe. Como ele admirava aquela mulher! Tudo a respeito dela era encantador!
- Bom dia, Cristina. Desculpe a afobação de Maria. - disse Carlos meio sem jeito ao cumprimentá-la, dando-lhe um abraço, quando, na verdade, queria mesmo era beijar a namorada.
- Imagina! Adorei a recepção dela!
- Você vem brincar com a gente? - convidou a menina.
- Mas é claro! - respondeu Cristina.
Ficaram então brincando de jogar bola com Maria. Enquanto conversavam os três de forma bastante animada.
- Você sabia que o meu pai sabe cozinhar muito bem? - diz Maria a Cristina.
- Sim! Fiquei sabendo! - responde a moça.
- Papai! Você precisa convidar Cristina para comer da sua comida! - diz Maria.
- Olha, você pode não acreditar, mas ela está te convidando de livre e espontânea vontade. Eu juro! - afirma Carlos.
- Meu pai faz muitas comidas boas! - diz a menina com empolgação.
- Qual a comida que ele faz que você mais gosta? - perguntou Cristina à menina.
- Eu gosto quando ele faz tacos. É uma comida lá do México. Meu pai nasceu lá. - responde Maria.
- É um país que tem comidas deliciosas! - diz Cristina.
- Lá no país do meu pai, as pessoas falam espanhol. - retruca a menina.
- É uma língua que gosto muito. Você sabe falar espanhol, Maria? - pergunta a moça.
- Sei falar um pouco. O meu pai às vezes fala E você? - pergunta Maria.
- Vou contar um segredo. Eu também sei falar espanhol. - responde Cristina.
- É sério? - exclamou a menina, surpresa.
- Nossa! Agora fiquei realmente surpreso! Jamais imaginaria! - disse Carlos, que até então acompanhara a conversa em silêncio.
- Na verdade, falo inglês e espanhol. Aprendi na adolescência. Cursei aulas de ambos os idiomas até o último nível. Foi bastante útil para mim na faculdade, pois havia livros que tinham publicações apenas em inglês e espanhol. Nada de português.
Maria pede para ir ao parquinho. Carlos e Cristina acompanham a menina e ficam conversando enquanto a menina brinca.
- Sabe... É muito chato a gente ficar assim tão perto da namorada e não poder beijar e abraçar... Esse negócio de namorar escondido é muito difícil... - diz Carlos em tom de brincadeira.
- Não seja bobo... - retruca Cristina.
- Posso te chamar de namorada, não posso?
- Pode... - responde Cristina com um sorriso.
Jamais ela imaginaria estar ouvindo Carlos chamá-la assim. Ainda soava meio estranho para ela, que um dia achou que não teria outro namorado. Mas, de certa forma, ela apreciava aquilo tudo que estava vivendo com Carlos até aquele momento.
- Brincadeiras à parte, a verdade é que não costumo beijar na frente da Maria. A culpa não é do nosso segredo. Eu só estava brincando com você. - confessa Carlos.
- Acho que você faz certo. - diz Cristina.
- Obrigado por concordar comigo. Nem todo mundo entende meu ponto de vista.
- Você está falando da sua ex, eu imagino... - especula Cristina.
- Também... - responde Carlos - A ligação entre pai e filhos de relacionamentos anteriores muitas vezes são fonte de bastante ciúmes e estresse para muita gente... - responde Carlos.
- Mulheres principalmente... - conclui Cristina.
Carlos concorda, balançando a cabeça.
- Desculpe se estou sendo meio intrometida... - diz Cristina.
- Não se desculpe. Você é minha namorada, pode me perguntar o que quiser. Sou todo seu. - diz Carlos com um sorriso.
- Olha, que eu acredito... - brinca ela.
- Pode acreditar... - sorri ele, puxando-a pela cintura.
- Não se esqueça da Maria... - diz Cristina.
- É apenas um abraço afetuoso de um homem que é louco por você.
- Gosto do seu abraço.
Maria olha para os dois e faz um aceno. Eles se separam.
- Olha, Cristina, mudando de assunto, preciso dizer que estou de fato impressionado em saber que você fala o meu idioma.
- Como disse anteriormente, gosto muito da língua... Não sei se já te disse mas, ficava olhando você desacordado no hospital e me perguntava se você tinha sotaque...
- Todos esses anos vivendo aqui, nunca perdi o sotaque... - responde ele.
- Nem deveria, acho bonitinho... - diz Cristina sorrindo.
- Bonitinho? O que seria "bonitinho"? - brinca Carlos.
- Você é "bonitinho"... - responde Cristina.
- E você é linda! - elogia Carlos.
Ele abraça Cristina novamente. Seus rostos se aproximam, mas evitam o beijo por causa de Maria.
- Uma flor para sua esposa e um balão para a filhinha? - oferece um senhor, interrompendo os dois.
- Perdão, como disse? - pergunta Carlos.
- Gostaria de comprar uma flor para sua esposa e um balão para a filhinha? - repete o vendedor.
Carlos e Cristina se entreolham e sorriem. Não valia a pena explicar nada para aquele senhor. Até porque aquela pergunta soara como música aos ouvidos de Carlos.
- Aqui está. - diz Carlos entregando o dinheiro na mão do senhor.
Ele entrega a flor a Cristina. Beija a sua mão.
- Para minha a mulher mais encantadora do mundo.
Cristina recebe a flor e agradece, meio sem graça.
Maria, que havia visto o vendedor com os balões viera correndo para pegar seu balão. Carlos a abraça e os três vão caminhando de volta para a toalha onde estava a cesta de piquenique.
Ao longe, alguém os observa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Recomeço
Roman d'amourUm terrível acidente une os destinos de Cristina - uma médica dedicada, que ama o que faz - e Carlos - um homem impulsivo e cativante. Sua vida está agora nas mãos competentes de Cristina. Depois desse encontro de destinos suas vidas jamais serão as...