Carlos estava em casa. Maria já estava dormindo. Era uma noite quente. O ar condicionado estava ligado. Tentou assistir alguma coisa na televisão, mas havia tanta coisa se passando por sua cabeça, que não conseguia prestar atenção em nada que estava passando. Tinha a gravidez da Vivian, o relacionamento com Cristina que ainda estava em suspenso, o desentendimento entre ele e Augusto, a saudade que sentia da mãe e da irmã. Resolveu desligar a TV.
Ele trouxera alguns papéis para trabalhar de casa. Havia no apartamento um pequeno escritório onde ele costumava ficar para fazer suas coisas. Mas resolveu ficar na mesa da sala cuidando da papelada. Sentou-se e fez uma ou outra coisa, mas também não conseguia se concentrar. Sentia uma profunda fadiga, bastante preocupação e inquietação. Carlos não sabia, mas estava tendo uma crise de ansiedade. Tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo e ele estava guardando tudo para si, não se permitia colocar pra fora o que estava sentindo. Não se sentia muito bem, talvez devesse medir a pressão, cogitou ele.
De repente, ouviu alguém bater à porta. Tomara que não seja a Vivian! Pensou ele. Ela sempre dá um jeito de entrar sem ser anunciada! Não estou com cabeça pra lidar com ela hoje! Levantou-se e foi abrir a porta. Qual não foi sua surpresa ao ver Isabel.
- Oi, Carlos - cumprimenta ela.
- Oi, Isabel - responde Carlos - Como você está?
- Estou bem - diz ela.
- Parece que já está recuperada da indisposição que você teve...
- Sim, já estou - responde Isabel.
- Vem, entra. Senta - convida ele.
- Obrigada. Espero não estar te atrapalhando - diz ela vendo toda a papelada em cima da mesa.
- Não... Não está... Estava tentando trabalhar, mas não consigo...
- Você não parece bem... - diz ela.
- É porque eu não estou bem...
- Posso te ajudar em alguma coisa?
- Não... Infelizmente só eu posso me ajudar - responde ele.
- Desde que passei mal, nunca mais te vi. Isso tudo é raiva? - pergunta ela diretamente.
- Raiva eu tenho do Augusto. De você... Sinto um grande desapontamento.
- Desapontamento por que, exatamente? Preciso que você me diga.
- Isabel, não é uma boa hora.
- Mas eu preciso conversar com você sobre isso, Carlos. Eu não te vejo desde aquele dia que estive no hospital. Você não falou comigo nem pra perguntar como eu estava. Eu também sinto um grande desapontamento com relação a você. Sinto muita mágo por você ter agido dessa forma. Eu sempre soube que você ficaria indócil. Mas jamais imaginaria que você me abandonaria dessa forma.
Carlos fica calado. Não diz nada.
- Carlos, eu preciso que você olhe pra mim, preciso que você fale comigo.
- Isabel, você é minha irmã, que eu cuidei como se fosse minha filha quando nosso pai se foi. Você não entende, não é? Você e Augusto fizeram tudo à minha revelia, como se eu não existisse. Você era minha irmã, minha quase filha e você escolheu Augusto para estar do seu lado, sem nem ao menos me comunicar. Não sei por que você está aqui agora querendo conversar alguma coisa comigo. Vocês tiveram muitas oportunidades para conversar comigo. Mas acabei sabendo de tudo por acidente.
- Você quer que eu te peça desculpas, é isso? Te pedir desculpas por ter me apaixonado por Augusto?
- Eu não quero que você se desculpe, Isabel. Eu só quero ficar aqui, quieto no meu canto. Estou com muitos problemas no momento. Já te falei, acho que não estou passando bem.
- Mas de onde você tirou que o fato de eu me relacionar com Augusto te deixa em desvantagem de alguma forma?
- Você me conhece, Isabel. Sou muito ciumento. Tenho muitos ciúmes das pessoas a quem amo.
- Nós todos estamos sentindo muito a sua falta e também sentimos muita falta da Maria. Não sabemos como vocês tem passado... Não sabemos nada... Você está aí passando mal e não nos pede ajuda...
- Já dei muito trabalho pra todo mundo quando eu estava no hospital. E também quando me relacionei com a Vivian. Tá na hora de eu mesmo resolver meus problemas.
- Então comece resolvendo esse problema de ter se afastado de nós. Ou você vai continuar fugindo? Por quanto tempo mais você vai ficar sumido? Se você não quiser estar conosco, tudo bem. Mas não use a Maria para nos ferir. Tenho certeza que ela te pergunta por que nunca mais você a levou para nos ver.
- Tudo bem, Isabel, eu vou levar Maria para visitá-las assim que puder - diz Carlos.
- Eu te agradeço por me ouvir. Sentimos muito a sua falta. Isso inclui nossa mãe, eu e também o Augusto. Você é o irmão que ele teve na vida. Tudo o que temos hoje é graças ao trabalho árduo de vocês dois. Ninguém é perfeito, Carlos... Nem eu, nem o Augusto, nem você...
- Sei disso... - concorda Carlos.
Isabel puxa o irmão para perto de si e o abraça. Ele corresponde o abraço. Ficam abraçados por um tempo, sem falarem nada.
Isabel então se afasta.
- Você vai ficar bem, mesmo sentindo esse mal-estar?
- Vou ficar bem. Já estou melhor. Não precisa se preocupar - Carlos tranquiliza a irmã.
A conversa franca entre os dois, a presença de Isabel ali com ele naquela noite acalmaram um pouco o coração de Carlos. A visita da irmã definitivamente contribuiu para que ele se sentisse melhor.
- Qualquer coisa, peça ajuda - insiste ela.
- Pode deixar.
- Promete?
- Prometo - confirma ele - Fico feliz por você já estar completamente restabelecida. Desejo tudo de bom para você e o bebê.
- Já está tudo bem. Tive que parar tudo, ficar em repouso total, mas já posso retornar à minha rotina normal. É claro que nem se compara a tudo que você passou, mas agora entendo toda a sua impaciência enquanto estava se recuperando do acidente.
- Somos muito parecidos... - diz Carlos.
- Sim... Somos... - concorda ela.
- Não sei quem é mais desmiolado... - questiona Carlos.
- Você, com certeza! - responde Isabel.
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Recomeço
عاطفيةUm terrível acidente une os destinos de Cristina - uma médica dedicada, que ama o que faz - e Carlos - um homem impulsivo e cativante. Sua vida está agora nas mãos competentes de Cristina. Depois desse encontro de destinos suas vidas jamais serão as...