CAPÍTULO LIV

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- Ora, ora... Que bela cena! - diz Eduardo, batendo palmas - Que belo casal... Quer dizer, Cristina, que foi com esse cara que você fez essa tal viagem??? Já está enfiada na cama de outro homem!

Carlos ficou furioso ao ouvir as palavras de Eduardo. Seu sangue subiu à cabeça e avançou sobre Eduardo. Cristina segurou Carlos.

- Quem você pensa que é pra falar com a Cristina desse jeito! - diz Carlos, sendo contido por Cristina - E que diabos você está fazendo no apartamento dela?

- Essa aqui já foi minha casa. Ou você não sabia que sua companheira de viagem é minha ex-mulher? - responde Eduardo, mostrando uma chave em suas mãos.

- Me dá a chave da minha casa, Eduardo! Você não tem permissão pra entrar - diz Cristina, estendendo a mão.

- Pra quê você quer a chave? Pra você ficar livre pra dormir com outro homem quando bem entender na cama que já foi minha? - diz Eduardo.

- A vida da Cristina não é da sua conta! Quem dorme ou não com ela não te diz respeito! Entrega a chave pra ela! Você não ouviu? - ordena Carlos.

- É pra isso que te botei de pé! Pra você dormir com a minha mulher! - acusa Eduardo.

- Você está louco, Eduardo? Eu não sou sua mulher! - responde Cristina.

- Você não tem vergonha, Cristina? Que falta de profissionalismo andar por aí transando com pacientes! - continua Eduardo.

Eduardo desvia de Cristina e avança sobre Carlos e tenta socá-lo no rosto, sem sucesso, pois este se esquiva. O ex-marido de Cristina é um homem forte e musculoso, mas Carlos é mais alto e mais ágil, talvez por sua familiaridade com as artes marciais. Ele segura Eduardo pela gola e o atira contra a parede. Eduardo fica encurralado. Ele segura Eduardo pelo pescoço, dando-lhe um golpe chamado mata-leão, sufocando-o.

- Carlos, pára, solta o Eduardo! - grita Cristina.

- Olha só, escuta bem. Você realmente me colocou de pé e sou grato por isso. E só por isso eu não vou quebrar a sua cara agora. Mas se você voltar a se referir a Cristina dessa forma ou se eu souber que você a anda assediando, pode ter certeza que eu termino o serviço! - Carlos diz isso e larga Eduardo, que cai no chão, recobrando o fôlego.

- Parabéns pelo troglodita que você arranjou, Cristina! - diz Eduardo, ainda tentando recobrar o fôlego.

- Sai da minha casa, Eduardo! Eu tô mandando! - grita Cristina - Eu vou chamar a polícia!

- Você ouviu a Cristina! Sai da casa dela! - insiste Carlos.

- Cristina... - Eduardo tenta falar, mas é interrompido por Carlos.

- Eduardo, tenha dignidade - diz Carlos - Ou eu vou ter que te colocar pra fora?

Eduardo não vê saída. Levanta-se, abre a porta e sai, batendo-a. Cristina vai até a porta e a tranca com chave.

- O Eduardo tem a chave, Cristina, isso não vai adiantar - diz Carlos - Você precisa chamar um chaveiro e trocar a fechadura.

- Eu sei. Depois eu faço isso - responde ela.

- Como depois, Cristina? Esse cara acabou de invadir a sua casa e você vai trocar a fechadura depois???

- Carlos, eu já te pedi... deixa eu respirar, deixa eu me acalmar...

- Você precisa fazer um Boletim de Ocorrência na polícia. Urgentemente. - diz Carlos.

- Carlos, por favor...

- Você não está segura aqui e nem está segura no hospital. Essa atitude completamente desequilibrada do seu ex-marido não vai parar por aqui! - insiste ele.

- Já te disse, Carlos! Me deixa respirar, por favor! - responde ela com impaciência - O Eduardo não está bem!

- Que ele não está bem, eu já percebi. A questão é a sua segurança. Ou você está com pena do Eduardo? - questiona ele.

- Não, Carlos, não estou.

- Vamos comigo, venha dormir no meu apartamento - propõe ele.

- Não, melhor não... tem a sua filha... não seria conveniente.

- Peço a Isabel e minha mãe que fiquem um pouco mais com ela.

- Ela deve estar ansiosa esperando por você. Não se preocupe. Vou ficar bem.

Carlos passa a mão pelos cabelos, de forma angustiada. Aquilo tudo mexera com ele profundamente. Nem sabia direito dizer o que sentia. Ciúmes, preocupação, fúria. Não conseguia conter seus sentimentos. Queria ir atrás de Eduardo terminar a surra que não tinha dado.

- Olha, eu não concordo com sua decisão de esperar. Mas não vou discutir com você por causa do Eduardo. Não quero que iniciemos uma briga justamente por causa dele. - diz Carlos bastante transtornado.

Cristina percebe o desconforto de Carlos, aproxima-se dele e o abraça. Carlos retribui o abraço.

- Me abraça, Carlos... Só me abraça... - diz ela.

Eles ficam um tempo abraçados, tentando acalmar os ânimos. Carlos respira fundo. Ele passa a mão pelos cabelos de Cristina.

- Olha, eu vou fazer o que você me pediu, mas, pelo amor de Deus, avisa o porteiro pra não deixar ninguém entrar sem seu consentimento. Principalmente o Eduardo.

- Tudo bem. Vou fazer isso. - responde ela.

- Promete?

- Prometo.

Carlos deixa Cristina e sai. Tudo aquilo foi bastante perturbador. Sentia-se péssimo por deixar Cristina ali sozinha, mas ela estava decidida. Não havia o que fazer. Eduardo sempre lhe parecera um homem contido, dono de si. E, de repente, ele promove aquela cena deprimente. As pessoas definitivamente não são o que parecem, pensou Carlos.

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