Cristina despediu-se de todos. Agradeceu mais uma vez a Dona Guadalupe e Isabel pela gentileza de a terem convidado para esse almoço. Passara horas bastante agradáveis, estava bastante feliz. Carlos se oferecera para acompanhá-la até seu carro.
Caminharam até o carro de Cristina numa conversa bastante animada.
- Bem, aqui estamos. Esse é meu carro. Estou entregue. Obrigada - agradeceu Cristina com um sorriso.
- Realmente, gostaria de ter ido buscá-la, mas… enfim… no momento estou impossibilitado… - lamentou Carlos.
- Olha, acredite, eu, que vi o estado em que você chegou na emergência do hospital, ver você agora, caminhando ao meu lado, é uma vitória. Não lamente nada a respeito de sua recuperação - disse Cristina.
- Tem razão. É que às vezes tenho muita impaciência. O acidente me ensinou muito sobre esperar. Mas minha natureza não é essa. Estou mais calmo, é fato, mas ainda sou um cara inquieto e passional.
- Como você, é claro que mudei ao longo da minha vida. Mas minha natureza é o oposto. Não sou nada passional, mas, acredite, às vezes eu queria ser.
- Como é que duas pessoas assim tão diferentes como nós foram acabar se apaixon… Quer dizer… Ah, nem sei… Eu e minha língua… - disse Carlos sem graça.
Cristina riu. Carlos era uma pessoa bastante sincera e, na verdade, ela admirava muito isso nele. Dizia as coisas na lata, sem medo das consequências. Ah! Como ela queria ser assim!
- Você tem razão - respondeu ela.
- Tenho???
- Sim.
- Sobre o fato de sermos diferentes ou…
- Sobre tudo…
"Ah, pernas… não me abandonem agora…" pensou Carlos. Um cara tão língua solta como ele não sabia o que dizer naquele momento. Na verdade, palavras eram desnecessárias. Eles apenas se aproximaram um do outro e o resto ficou por conta de seus hormônios.
Eles se beijaram. Era inevitável. Dessa vez sem sustos e sem pressa já que não estavam no hospital. O curioso é que estavam no meio da rua, as pessoas passavam, mas eles nem se atentaram para isso. Afinal de contas, ali na rua ambos não passavam de ilustres desconhecidos para os transeuntes.
Cristina é a primeira a cair em si.
- Carlos! Estamos no meio da rua!
- Mas, meu Deus! Mas não podíamos no hospital… também não pode no meio da rua…
- Sabe, Carlos… - disse Cristina - você tem razão… mais uma vez…
Cristina segurou a gola de Carlos, trazendo-o para perto de si. Os dois beijaram-se mais uma vez.
"Meu Deus! O que estou fazendo! O que deu em mim!" Pensou Cristina. Sentia-se incapaz de afastar Carlos de si. Sentia uma vontade imensa de ficar ali agarrada a ele para sempre. Mas precisava ir. Precisava colocar os pensamentos em ordem. Perto de Carlos ela simplesmente não conseguia pensar direito. Afastou então Carlos de si.
- Nossa! - disse ela.
- O quê? - perguntou ele.
- Eu… eu…
- Você…
- Eu não sou assim, Carlos! Eu estou me desconhecendo!
- Olha, não sei, gosto da Cristina difícil de dobrar. Mas gosto também dessa outra que você desconhece! - disse ele ainda sem fôlego.
Eles se abraçam.
- Sabe, preciso lhe dizer… você está linda hoje.
- Eu?
- Sim - ele passa a mão por seus cabelos - você, Cristina. Você assim, toda arrumada, sem o jaleco branco… Apesar que… preciso te dizer… você fica linda de branco. Permita-me uma correção: você não está linda. Você é uma mulher linda.
- Obrigada pelo elogio. Você também está muito bonito hoje. Aliás, acho que você já deve saber disso… você é um homem bonito…
- Nossa… você acha? - Carlos admirou-se com elogio.
- Por que a surpresa? - quis saber Cristina.
- Sei lá. Achei que você não reparasse muito em mim. Você nunca deixa transparecer o pensa, o que sente. Fiquei realmente surpreso com o elogio.
- É o meu jeito.
Ficaram os dois em silêncio por um instante. Encostaram suas testas uma na outra. Carlos então perguntou:
- Cristina, você seria capaz de lutar por um amor? Estaria disposta? Ou quem sabe desistiria na primeira dificuldade?
- Nossa… lutar por amor… Que forte isso… Não sei, Carlos, realmente não sei. Mas, por que a pergunta?
- Apenas me veio esse questionamento. Não sei bem porque… - respondeu ele.
- E você, lutaria por um amor? - retrucou ela.
- Bem, sim, creio que sim - disse ele, colocando a mão em volta da cintura de Cristina e trazendo-a para perto de si. Ele tenta beijá-la, mas ela se esquiva. Carlos fica no vácuo.
- Você vai ter que lutar pelo que quer - disse Cristina em tom de brincadeira.
- Ah… Entendi… - responde ele com um sorriso.
Cristina então se aproxima do rosto de Carlos na intenção de um beijo. Ele também se esquiva. E pergunta:
- Você seria capaz de lutar pelo que quer? Você sabe o que quer, Cristina?
- Por muito tempo eu não fiz muita questão de saber. Mas acho que as coisas estão mudando para mim - respondeu ela, puxando novamente Carlos para junto de si.
Seus rostos se aproximaram um do outro. E novamente beijaram-se. Sem medo, sem pressa, ali, no meio da rua.
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Recomeço
RomanceUm terrível acidente une os destinos de Cristina - uma médica dedicada, que ama o que faz - e Carlos - um homem impulsivo e cativante. Sua vida está agora nas mãos competentes de Cristina. Depois desse encontro de destinos suas vidas jamais serão as...