CAPÍTULO XX

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O horário de visitas acabara de iniciar e o quarto de Carlos já estava cheio e bastante animado. Todos vibrando com a notícia de que Carlos já conseguira ficar de pé. Dona Guadalupe, Isabel, Augusto e também a pequena Maria - estavam todos lá. Doutor Eduardo fazia as últimas recomendações com relação à próxima fase do tratamento. Carlos continuaria frequentando a fisioterapia no próprio hospital, mesmo com a alta. Isso o animara bastante, já que acabaria por ver Cristina de vez em quando.

- Bom, sei que estão todos ansiosos para ver esse rapaz andando, mas vá com calma, Carlos. Quando estiver em casa, não se sobrecarregue. Caminhe aos poucos, devagar. Com o tempo, vá aumentando a frequência. Lembre-se de que é um recomeço.

- Sim, doutor. Vou seguir suas orientações, não se preocupe.

- Assim espero - respondeu Eduardo - Em princípio, você irá usar umas muletas como essas que eu trouxe. São aqui do hospital. Quando for para casa terá que adquirir as suas próprias ou alugar um par. Como você preferir.

Todos ouviam atentamente às instruções. Até a pequena Maria estava prestando bastante atenção.

- São chamadas muletas de antebraço ou muletas canadenses. Elas possuem uma espécie de "algema" que se prende ao antebraço, o que permite que a mão fique livre sem retirar a muleta presa ao antebraço. São geralmente menos incômodas que as axilares. Agora, vá se acostumando aos poucos, muletas requerem um substancial gasto de energia e força no braço e no ombro. Por isso mesmo, vá com calma. Use por pouco tempo e vá aumentando a frequência gradualmente. Depois você irá mudar para uma bengala. Não essas de vovô, uma de metal, anatômica. Até conseguir andar sem ajuda.

- É um caminho longo até lá... Mas vou conseguir - disse Carlos.

- E então, quer experimentar usá-las para ver como funcionam ? - perguntou Eduardo.

- Sim! Vamos lá! - respondeu ele bastante animado.

Carlos colocou as muletas no pulso, com a ajuda de Eduardo, e se ergueu. Todos ficaram emocionados em vê-lo novamente de pé.

- Que maravilha, meu filho! Você não imagina o tamanho da minha felicidade! - exclamou Dona Guadalupe.

- Eu também estou muito feliz, mãe! - retrucou ele!

Cristina bate à porta:

- É então, como está nosso paciente? - pergunta ela.

Isabel fica feliz com a chegada da doutora:

- Entre, doutora Cristina! Venha ver! Carlos já está de pé!

Cristina e Carlos olharam um para o outro. A lembrança do que acontecera na primeira vez que ele se levantou estava viva na memória de ambos. Era difícil não deixar transparecer, mas, pelo menos tentaram, uma vez que estavam todas aquelas pessoas no quarto, incluindo Eduardo.

- Gente! Que rapaz alto você é, Carlos! - brincou ela, como da outra vez que o vira de pé.

- E eu não imaginava que você fosse tão... baixinha... - retrucou ele, também como da outra vez.

Todos riram, acharam graça na fala dos dois. Mas, na verdade, somente Carlos e Cristina sabiam o real significado desse diálogo para ambos.

Eduardo não era bobo. Percebeu a cumplicidade daquela troca de olhares entre Carlos e Cristina. É claro que já percebera que havia uma tensão entre os dois. Jamais imaginaria, contudo, os beijos que andaram trocando. Cristina era uma mulher muito discreta, ele nem sonhava. O que o preocupava mesmo era a alta de Carlos. Saber que não estaria por perto para ficar de olho nos dois o inquietava profundamente. Preferiu deixar o quarto antes que deixasse transparecer sua inquietação.

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