CAPÍTULO XIV

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Augusto falava com Isabel ao  telefone enquanto Carlos tentava ler  um livro, mas tudo que conseguia era divagar, perdido nos seus pensamentos. Mais uma semana se passara. Uma semana a menos naquele hospital. Uma semana a menos longe de casa. Uma semana a menos perto de Cristina. Ela voltara a seu trabalho, depois do merecido descanso. Mas não voltaram a conversar como antes, compartilhando suas ideias e visões de mundo. Ambos estavam evitando um ao outro.

Estava em contato com Eduardo a maior parte do tempo, devido às sessões de fisioterapia. Sentia bastante incomodado de ter que conviver com ele. Não que ele lhe tivesse feito nada. Mas se já o achava meio esquisito, calado, sem graça, agora então que só conseguia enxergar defeitos. Ok, admitia, o cara era vistoso. Cabelo sempre engomado,  era impossível não notar os braços musculosos que ele tinha. Na verdade, sentia uma ponta de inveja lá no fundo. Afinal de contas, ele tinha sido casado com Cristina. Tinha tido uma vida com ela. Tinham morado juntos, dormido juntos. Não conseguia tirar tudo isso da cabeça.

- Pronto para a fisioterapia? - disse Augusto.

- Como?

- A fisioterapia, Carlos, o enfermeiro está aqui.

- Claro. Estou pronto. Vamos lá. Até a volta. - Carlos se despediu de Augusto.

- O enfermeiro seguiu empurrando Carlos até o elevador. Enquanto esperavam que chegasse àquele andar, o enfermeiro puxou conversa.

- Daqui a pouco você não vai precisar de carona. Já contou para sua família que já está conseguindo caminhar?

- Ainda não. Quando estiver com mais destreza, vou contar pra eles. Aliás, preciso de sua ajuda. Gostaria de fazer uma surpresa para a doutora Cristina. Me ajuda?

- Claro. O que quer que eu faça? - perguntou o enfermeiro.

- O elevador chegou. Vamos, eu conto no caminho. - respondeu Carlos.

***

Cristina saiu do quarto de uma paciente e encontrou Débora e a enfermeira Camila no corredor.

- E então, Cristina, como está dona Nilva? - Débora quis saber.

- Está bem, vai ter alta amanhã. - respondeu ela.

- Sabe, desde que você voltou está com a aparência bem melhor. Melhorou até o humor.

- Você acha? - indagou Cristina, em tom de brincadeira.

- Acho não, tenho certeza. Você não concorda, Camila? - perguntou Débora.

- Concordo. A doutora parece bem melhor. - respondeu ela.

- Será que eu também posso dar minha opinião? Você parece bem melhor, de fato, mas sua aparência sempre foi bela. - Era Eduardo, que tinha se intrometido na conversa.  Débora e Camila se entreolharam.

- Ora, Eduardo, faça-me o favor... Agora deu pra ouvir a conversa alheia? Não combina com você. - Cristina respondeu rispidamente.

- Doutora Cristina, a senhora tem um segundo? - perguntou um enfermeiro que se aproximara.

- Claro. - respondeu ela, aproveitando a oportunidade para se afastar do grupo. - O que foi?

- Não foi nada de grave. É só aquele paciente, o Carlos, me pediu que chamasse a senhora.

- O Carlos? O que aconteceu? - quis saber ela.

- Acho que ele quer lhe dizer alguma coisa. Não tenho certeza. Só trouxe o recado. - respondeu ele.

- E onde ele está? - perguntou Cristina.

- Está lá na fisioterapia. Será que a senhora poderia ir até lá?

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