Dream House

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MIA CLARKE:

Há certos momentos na vida em que mudar é a melhor escolha.

Meu nome é Mia Montero Clarke. Meus pais são americanos, mas, por algum motivo, eu sou brasileira. Em uma das viagens que fizeram, acabei nascendo na hora errada e no lugar certo. Cresci no interior, em uma vida simples, cercada pela natureza e pelos animais, já que vim de uma família de fazendeiros.

Minha família é muito unida. Sou filha única e, claro, muito mimada, mas também sou forte e determinada—ou "durona", como meu pai gosta de dizer. Desde pequena, desenvolvi um amor incondicional pelos animais. Sempre que podia, trazia um bichinho novo para casa, o que rendia boas broncas e risadas. Meus pais são veganos, e em nossa fazenda criamos vacas, porcos, galinhas e pássaros, mas nunca para consumo. Para nós, a ideia de criá-los apenas para abatê-los sempre foi absurda.

Meu pai é agricultor e mantém um terreno dedicado às suas plantações, garantindo que nunca nos falte comida de qualidade. Podemos dizer que nossa condição de vida é ótima, mas o mais importante sempre foi o amor e os valores que minha mãe me ensinou: compaixão, respeito e solidariedade.

Nunca fui à escola. Meus pais sempre me ensinaram em casa, e, até agora, isso foi suficiente. Mas chegou a minha vez de abandonar o ninho e traçar meu próprio caminho. Estou deixando o interior do Colorado para começar uma nova vida na ensolarada Califórnia—mais especificamente, em Los Angeles.

A verdade é que estou apavorada. Nunca andei de avião—bom, na verdade, andei quando tinha algumas semanas de vida, mas não me lembro de nada. Para mim, essa máquina gigante desafia todas as leis da lógica. Como algo tão grande pode simplesmente voar?

Balanço a cabeça para afastar esses pensamentos. O embarque se aproxima e, ao olhar para meus pais, sinto meus olhos se encherem de lágrimas. Abraço os dois com toda a força e deixo um beijo demorado na testa de cada um.

— Se cuide, minha filha — diz minha mãe, sorrindo entre lágrimas. — Estaremos rezando por você.

Eles são incríveis. Lembro-me de quando tinha 13 anos e percebi que gostava de uma garota que morava perto da nossa casa. Fiquei com medo de contar para eles, mas, quando finalmente criei coragem, fui surpreendida.

Meu pai foi o primeiro a falar:

— Filha, amor é amor. Nunca iríamos te julgar por isso.

Comecei a chorar no colo da minha mãe, que me olhava com ternura. Foi um dos dias mais especiais da minha vida.

Dou um último adeus e embarco naquela máquina voadora. Meu coração bate acelerado, minhas mãos tremem e meu corpo soa frio. Nunca um cavalo me deu tanto medo assim.

...

O voo foi tranquilo—ou pelo menos é o que eu acho. Tomei um remédio para dormir e apaguei antes mesmo da decolagem. Quando dei por mim, já estávamos pousando. Ainda meio tonta, segui até aquele "negócio giratório" onde as malas passam (ainda preciso aprender o nome disso).

Depois de uma luta para chamar um táxi, finalmente segui para meu destino final: minha nova casa.

Enquanto o carro cruzava as ruas da pequena cidade californiana, uma música pop tocava no rádio. Era algo sobre um "homem mal". Não pude evitar uma risada. Os poucos rapazes com quem saí eram exatamente daquele jeito.

Prendi meus cabelos em um coque alto e me ajeitei no banco, observando a paisagem. Quando finalmente chegamos, sorri ao ver minha casa. A vizinhança parecia tranquila—crianças corriam pela rua, algumas pessoas cuidavam dos jardins e, para minha surpresa, o caminhão de mudança já estava estacionado bem em frente à minha casa.

Depois de pagar o taxista, saí meio atrapalhada, carregando minhas malas. Respirei fundo antes de destrancar a porta.

Ali seria meu novo lar.

Minha casa já veio mobiliada, mas trouxe algumas coisas importantes da fazenda dos meus pais. Percorri cada cômodo com um misto de animação e incredulidade. Tudo ali era perfeito, aconchegante e exatamente do jeito que sonhei nos últimos anos.

Fui até o quintal e me surpreendi com o tamanho. O estilo rústico deixava o ambiente ainda mais acolhedor. Voltei para a sala, onde as caixas estavam empilhadas, e me joguei no sofá, soltando um gritinho de felicidade.

Então me lembrei de um detalhe importante: não havia comprado nada, nem comida, nem água.

Suspirei, levantei-me e fui até o quarto para trocar de roupa. Peguei um chinelo, coloquei um chapéu e saí para encontrar o mercado mais próximo.

Depois de algumas horas organizando as compras, tomei um banho relaxante. Estava animada e nostálgica ao mesmo tempo, então decidi fazer biscoitos usando a receita da minha mãe.

Vesti um top, um macacão jardineira, prendi os cabelos em um coque alto e fui para a cozinha. Como trouxe vários utensílios na mudança, não precisei me preocupar com nada. Cantarolando baixinho, comecei a moldar a massa e, em pouco tempo, os biscoitos já estavam no forno.

Sentei-me no sofá e peguei meu velho celular para dar uma olhada no Facebook. No interior, a internet nunca foi das melhores, então meu celular também não é nada moderno.

Meus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta. Tirei o avental e fui atender.

Do outro lado, encontrei uma mulher elegante, aparentando ter uns 46 anos. Seus cabelos castanhos emolduravam um rosto simpático, e os olhos azuis transmitiam um calor acolhedor.

— Boa tarde, sou Maggie Baird. Você é minha nova vizinha, não?

Sorri de imediato.

— Sou sim! Meu nome é Mia Clarke — respondi animada, apertando sua mão.

— Ah, eu sabia! — Maggie riu. — Seja bem-vinda, querida. O que precisar, pode nos chamar. Você parece tão nova!

— Tenho 19 anos — respondi, sentindo-me lisonjeada pela recepção calorosa. — Muito obrigada, Maggie. Você é muito gentil.

— "Senhora" está no céu, querida. Me chamar assim me faz sentir velha! — Ela riu. — Tenho dois filhos praticamente da sua idade. Vou chamá-los para virem lhe dar boas-vindas.

Minha timidez se manifestou na hora.

— Ah, não precisa, Maggie. Não quero incomodar ninguém...

— Não é incômodo algum! — ela garantiu. — Eles passam o dia inteiro fazendo música. É bom que saiam um pouco do estúdio.

Música?

Fiquei curiosa, mas não tive tempo para perguntas.

— Estou preparando biscoitos. Ficaria feliz se vocês aceitassem tomar um café da tarde comigo — ofereci.

Maggie sorriu e assentiu antes de se afastar para buscar os filhos.

Fechei a porta e ri sozinha. Minha nova vizinha parecia adorável. Mas algo sobre o que ela disse ficou martelando na minha mente.

Será que os filhos dela são músicos?

Antes que pudesse pensar mais, um som alto me fez dar um pulo.

O forno estava apitando.

Corri para tirar os biscoitos, preparei sanduíches e fiz um suco natural de laranja. Arrumei tudo na mesa do lado de fora e suspirei, ansiosa.

Minha nova vida estava apenas começando.

•••

(autora do futuro revisou tudo de novo e está postando novamente, amo vocês!)

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