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Théo e eu subimos andando em direção à minha casa, ele puxava assunto enquanto caminhava ao meu lado, mas estava tensa demais para pensar em respostas bem elaboradas e só o respondia com monólogos.

— Você parece um pouco nervosa... — Ele comentou em determinado momento, quando já estávamos perto da minha casa.

— É impressão sua. — Forcei um sorriso e olhei brevemente para trás.

Notei que a alguns metros de distância, um garoto estava armado com um fuzil, nos observando, sem se importar em disfarçar. Fiquei ainda mais nervosa, percebendo que ele realmente estava mandando alguém me seguir.

Agradeci mentalmente quando paramos em frente ao portãozinho velho da minha casa e me virei para me despedir de Théo com um abraço. No entanto, no meio do caminho, ele segurou minha nuca e tentou me beijar.

— Não... — murmurei, me esquivando do beijo. — Olha, Théo, eu gostei muito de ficar com você, mas acho melhor pararmos por aqui.

— Por quê? Você não quer? — Ele perguntou confuso, olhando-me com seriedade, mas ainda assim não me soltou totalmente, mantendo o seu corpo perto do meu.

— Não é que eu não queira, é só que... não posso. Pelo menos não agora, entende? — Suspirei. Não poderia me envolver com ele enquanto ainda estivesse presa naquela maldita dívida das drogas.

— Entendo. — Ele concordou, mas pude perceber em seus olhos uma certa relutância em aceitar. — Você gosta de outro cara, é isso?

— Não, não gosto de ninguém. — Eu me apressei em explicar. — É apenas um pouco complicado para mim agora. Tenho outras prioridades, e uma delas é encontrar minha irmã.

— Tudo bem, podemos ir com calma então. — Théo acariciou meu rosto com carinho e se afastou. — Sua irmã está desaparecida?

— Sim, ela tem problemas com drogas e não voltou para casa depois que brigamos.

— Já tentou procurar nas bocas? É bem a cara deles sumirem com as pessoas. — Falou aborrecido, mostrando sua insatisfação ao falar dos traficantes que dominavam a Cidade de Deus.

— Já tentei, mas o Russo disse que não foram eles. — Eu respondi, e Théo pareceu surpreso com isso, pois não era comum ter uma conversa direta com o líder do morro.

— Bem, se você precisar de alguma coisa, pode contar comigo. — Théo me abraçou e logo em seguida foi embora.

Minha casa estava completamente escura. Peguei a vela e o isqueiro que havia deixado preparados em cima da mesinha e acendi a vela, iluminando um pouco a sala.

Eu já estava subindo as escadas em direção ao meu quarto quando um golpe na porta me assustou. Só podia ser Gabriela, afinal, ela era a única que aparecia em minha casa sem avisar, tirando a Dona Lúcia.

— Estou... — Me calei assim que vi Russo do lado de fora. Ele não pediu permissão para entrar, simplesmente me empurrou e entrou, como se fosse o dono da casa.

Mesmo com meu coração estando a milhão por estar sozinha com aquele homem, eu voltei a fechar a porta, contabilizando a minha respiração para que eu não morresse sem ar.

Russo olhou minuciosamente em cada canto da sala e franziu o cenho ao ver a única vela acesa, porém não comentou nada.

— Se veio aqui por causa de Théo, ele... — comecei a dizer, mas me calei ao encarar seu olhar duro. — Você não deveria ter vindo aqui, os vizinhos podem ver e espalhar fofocas.

— E eu estou pouco me fodendo para isso. — Deu de ombros, me olhando com ainda mais dureza. Por que a sua presença tinha que ser tão intimidante?

— Deveria se importar. — Rebati, surpreendendo-me com minha coragem ao contrariá-lo. Ou talvez fosse apenas falta de noção. — Você é casado. Não quero arranjar problemas com a sua mulher.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora