𝟶𝟻𝟶

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A favela da Rocinha era enorme, parecia uma cidade dentro do Rio de Janeiro. Era a primeira vez que eu vinha aqui e fiquei encantada com tudo; era muito diferente de lá do morro.

Russo colocou a mão na minha cintura e me guiou pelas pessoas em direção ao camarote dos traficantes. Ao contrário da Cidade de Deus, onde o baile funk acontecia numa quadra, o da Rocinha era aberto na rua, a não ser quando era o baile da favorita.

Fiquei toda sem graça quando Russo começou a cumprimentar algumas pessoas e os caras perguntaram onde estava a mulher dele e se ele tinha assumido uma amante fixa. Me senti humilhada, na verdade.

Tinha outras mulheres ali em cima acompanhando – se é que me entendem – algumas até se jogaram descaradamente em cima do Russo.

— Fala paizão, quanto tempo você não cola com nós. — Um cara todo tatuado chegou fazendo toque com Russo. Em seguida, ele me olhou de cima a baixo, cheio de malícia. — Nossa, onde arrumou essa ninfetinha? Você se importa que eu dê um presentinho para ela mais tarde?

Engoli em seco e olhei para Russo do meu lado, ele estava com o corpo tenso e as mãos fechadas em punhos. Para evitar uma confusão na favela dos outros, eu segurei uma das suas mãos, fazendo com que ele me olhasse sem expressão nenhuma.

— Estou com sede, vou buscar alguma coisa para beber. — Avisei e, antes que ele pudesse dizer alguma coisa, eu saí andando para fora do camarote.

Era difícil ficar calada naqueles momentos, principalmente quando alguém te ofendia tão abertamente assim. O cara me tratou feito uma prostituta, no mínimo eu esperava que Russo mandasse me respeitar, mas sabia muito antes que isso não aconteceria.

Fiquei dando algumas voltas por aí, tentando esfriar um pouco a cabeça, e depois fui comprar a minha bebida em um cara que vendia perto do paredão.

Ele fez uma mistureba cor de rosa a meu pedido e depois me entregou um copo gigante. Paguei e fui em direção ao camarote de novo, mas me barraram logo na entrada. Até cheguei a pensar que tinha sido a pedido do Russo.

— Tu tá maluco, rapaz? Deixa a garota do Russo passar. — Um garoto surgiu do nada e falou com o segurança, que abriu caminho na hora.

O camarote era bem grande e estava uma bagunça. Várias pessoas dançando, fumando, se pegando... tinha até uma área onde vi alguns petiscos.

Encontrei o Russo sentado perto dos seus amigos e logo vi uma moça ridícula dançando na frente dele, não muito longe, mas perto o suficiente para eu saber que estava provocando.

Fui andando até eles e me sentei no colo dele para marcar território. Russo olhou surpreso, mas não falou nada. A moça me encarou feio e foi embora procurar outro rapaz para patrocinar.

— Já estava indo atrás de tu, demorou para caralho. — Reclamou, apertando minha coxa. Dei um gole na bebida e senti o álcool queimando a garganta.

— Fiquei meio perdida, não conheço aqui direito. — Menti, evitando encarar ele nos olhos.

— De qual foi aí? Está estranhona. — Russo segurou o meu rosto e me obrigou a encará-lo. — Solta a voz, antes que eu descubra sozinho.

— Eu vi você olhando para aquela garota. — Bufei.

— Ih porra, não estou te entendendo legal. Eu tenho olho para quê? Para olhar, pô. — Rebateu, cheio das gracinhas. Revirei os olhos, emburrada. Começou cedo com as palhaçadas dele. — Se liga, estou aqui com você, não é? Nem rendi para essas piranhas.

Beberiquei mais um gole do meu copo.

— Luna! — Levei um susto quando Laura apareceu de repente e me agarrou pelo pescoço, me abraçando apertado.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora